Paulo Ormindo de Azevedo*
No último dia nove foi inaugurado a nova sede do Neojibá, no Parque do Queimado, situado entre a Lapinha e a Caixa d’Água. Trata-se de um projeto de inclusão social de jovens e crianças através da música, idealizado pelo maestro Ricardo Castro, em 2007, e que por sua teimosia se estende hoje por 29 municípios baianos e beneficia 6,5 mil jovens e crianças. O projeto se inspira na experiencia do maestro José Antônio Abreu, que fundou em 1975 o Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis da Venezuela, que compreende 180 orquestras, e foi reproduzido em muitos países latino-americanos e nos EUA. Ricardo Castro é pianista premiado na Europa e professor de um grupo de jovens pianistas profissionais na Haute École de Musique de Friburgo, Suíça, mas preocupado com a fragilidade social dos jovens e crianças de sua terra natal.
O Parque do Queimado tem uma longa história. Sua fonte é conhecida desde o século XVII e foi remodelada em 1838 em estilo neoclássico. No mesmo ano foi iniciada a construção da Fábrica de Tecidos Santo Antônio do Queimado, movida a força hidráulica e depois a vapor, que produzia 1000 varas de pano dia. Foi uma das duas primeiras fabricas de tecidos da Bahia, conjuntamente com a de Valença dos Lacerdas. Em 1852, o Barão de Cotegipe conseguiu a concessão do abastecimento d’água de Salvador e funda a Cia. de Abastecimento de Água do Queimado, que começou a funcionar em 1856 e chegou a ter 22 chafarizes e fontes na cidade. Como a primeira do gênero no Brasil foi visitada pela família Imperial em 1º/11/1859. A preservação do parque, pertencente a Embasa, muito se deve ao escultor Astor Lima que criou em 1991 o Centro Memória da Água e o acervo Arte/Natureza, com obras doadas pelos mais importantes artistas baianos. O tombamento da fonte e do parque pelo IPHAN, em 1997, se deve a sua persistência.
O projeto de adaptação dos pavilhões da antiga fábrica e Cia. do Queimado à sede do Neojibá é do Studio Butikofer, Oliveira e Vernay, da Suíça, com assessoria do Nagata Acustics, do Japão, responsável pela nova Filarmônica de Paris e o Disney Hall. Custou R$12 milhões, sendo oito do BNDES e quatro do Estado. Melhor que enterrar bilhões em concreto armado. O conjunto compreende um auditório de 140 lugares e cinco salas de ensaios. A boa execução do projeto se deve ao monitoramento do arquiteto baiano Sergio Ekerman. Ainda não foi possível realizar o paisagismo do parque, que deverá diminuir sua área pavimentada em favor de sombras verdes.
Como arquiteto sinto falta de cor e integração com outras artes, com esculturas e o Acervo Arte/Natureza. A nova sede do Nejibá será uma usina musical, com sua chaminé nos despertando todas as manhãs, para cantarmos com Noel: “Quando o apito da fábrica de tecidos/ vem ferir os meus ouvidos/ eu me lembro de você”.
*Professor Catedrático da UFBA
SSA: A Tarde de 28/07/19
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