domingo, 10 de dezembro de 2017

Luiz Carlos Maciel, filósofo da contracultura

Luiz Carlos Maciel, 79 anos, morreu na manhã do sábado (9), no Rio de Janeiro.
Casado há 30 anos com a atriz Maria Claudia Maciel eleita uma das mulheres mais lindas do Brasil no ano de 1978, e uma das mulheres mais fotografadas durante a década de 1970 e começo da década de 1980.
Desde o dia 26 de novembro, ele estava internado no hospital Copa D'Or, em Copacabana, com um quadro de infecção. Segundo o jornal Folha de São Paulo, Maciel estava lutando nos últimos meses contra o agravamento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), e o boletim médico apontou falência múltipla dos órgãos.
Natural de Porto Alegre (RS), Maciel estudou Filosofia e ficou conhecido por ser um dos principais pensadores da contracultura no Brasil, realizando trabalhos com pesquisadores nacionais e internacionais sobre o tema. Colaborador do semanário "O Pasquim" e diretor de redação da versão nacional da revista "Rolling Stone", é autor de 12 livros, como "Geração em transe, memórias do tempo do tropicalismo" (1996), em que aborda diferentes momentos e obras da contracultura brasileira.
Em 1959, depois de ganhar uma bolsa da Universidade da Bahia, conheceu Glauber Rocha, de quem se tornaria amigo, e atuou no primeiro curta-metragem do diretor, "A cruz na praça". Graças a uma bolsa da Fundação Rockefeller no ano seguinte, estudou direção teatral no Carnegie Institute of Technology, em Pittsburgh, Estados Unidos.
Ele voltou para o Brasil anos depois e desenvolveu outros trabalhos, ficando conhecido como o "guru da contracultura". Ele deixou esposa, dois filhos e netos. Ainda não há informações sobre o velório do jornalista.
Desempregado e sem recursos para cuidar  da saúde lançou um manifesto em 2015.
“Um tanto constrangido, é verdade, mas sem outro jeito, aproveito esse meio de comunicação, típico da era contemporânea e de suas maravilhas, para levar ao conhecimento público o fato desagradável de que estou sem trabalho e, por conseguinte, sem dinheiro. É triste, mas é verdade. Estou desempregado há quase um ano. Preciso urgentemente de um trabalho que me dê uma grana capaz de aliviar este verdadeiro sufoco. Sei ler e escrever, sei dar aulas, já fiz direções de teatro e de cinema, já escrevi para o teatro, o cinema e a televisão. Publiquei vários livros, inclusive sobre técnicas de roteiro, faço supervisão nessas áreas de minha experiência, dou consultoria, tenho – permitam-me que o confesse – muitas competências. Na mídia impressa, já escrevi artigos, crônicas, reportagens… O que vier, eu traço. Até represento, só não danço nem canto. Será que não há um jeito honesto de ganhar a vida com o suor de meu rosto? Luiz Carlos Maciel. lcfmaciel@gmail.com

Logo após a publicação do manifesto foi contratado pela Rede Globo, onde vinha trabalhando como consultor  na série “ Os dias eram assim”.
Considerado o "guru" da contracultura brasileira nos anos 70, época em que escrevia para o tablóide carioca "O Pasquim", promove agora uma volta intensiva ao cenário cultural nacional dos anos 60.
Lança, no final de julho, o livro "Geração em Transe - Memórias do Tempo do Tropicalismo". Em agosto, promove estréia no Rio da peça que está dirigindo, "Jango", único texto teatral deixado por Glauber Rocha.
Leia a seguir trechos da entrevista que Maciel concedeu à Folha, por telefone, do Rio de Janeiro.
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Folha - Além do livro, o que mais você tem feito?
Luiz Carlos Maciel - Estou dirigindo "Jango", o único texto para teatro do Glauber Rocha, para estrear dia 8 de agosto no Rio. Haverá 30 pessoas em cena, música, dança, uma superprodução.
Folha - Qual a intenção de "Geração em Transe"? É um livro de memórias, impressões, análise?
Maciel - Fundamentalmente é de memórias, mas tive a intenção, não nego, de não só narrar fatos de que me lembrava, mas de ter uma compreensão sobre o momento que eu vivia.
Folha - Qual foi sua preocupação em conceituar os movimentos da época, como o cinema novo, o tropicalismo, o teatro Oficina?
Maciel - Foi a de fornecer conceitos impressionistas, sem rigor científico ou acadêmico.
Folha - Por que você considera, em seu livro, José Celso o mais fiel à contracultura dos três personagens que você elegeu?
Maciel - Foi uma coisa em que ele se engajou mais profundamente. E que interessou muito Glauber e Caetano na medida em que aquilo era um fenômeno da época que viviam. O engajamento de Zé Celso está demonstrado até hoje, no novo espetáculo dele, "Bacantes". No episódio no Rio, em que Caetano ficou pelado, Zé Celso o obrigou a voltar um pouco aos seus momentos contraculturais.
Folha - Você foi rotulado de "guru da contracultura". Quem é mais contracultural: Zé Celso ou você?
Maciel - Ele. Apesar de eu ter ganho esse epíteto, minha aproximação com a contracultura foi jornalística, superficial.
Folha - Por que seu livro mostra a geração do desbunde sem tocar em temas caros a ela, como a libertação pelas drogas e pelo sexo?
Maciel - Porque guardei para um próximo livro. Glauber, Zé Celso e até Caetano são pré-desbunde. O verdadeiro só aconteceu no Brasil em 1969, quando Caetano estava indo para o exílio.
Folha - Caetano concordou com a publicação das cartas que ele lhe enviava do exílio?
Maciel - Sim, mandei cópias para ele e ele curtiu demais. Disse que era divertidíssimo ler uma coisa escrita há tanto tempo.
Folha - Você foi crítico -até transcreve uma discussão com Jorge Mautner e Caetano em torno da crítica, que teve um papel importante na época. Que fim levou a crítica no Brasil?
Maciel - A crítica era interessante na nossa época, à medida que era aliada à revolução cultural que os artistas estavam liderando. Era uma força auxiliar dessa revolução cultural. Hoje não há revolução cultural. E a crítica se limita a um exercício de poder mesquinho.
Folha - Por que você diz no livro que não se considera um homem de teatro completo, que sempre namorou com ele mas ele nunca quis se casar com você?
Maciel - Falei no caso do teatro, mas não me considero completo em coisa nenhuma, como jornalista, escritor, homem de TV.
Folha - Sua narração mostra que você esteve por trás de momentos cruciais da gênese de Glauber, Zé Celso, mesmo de Caetano. Você é um homem de bastidor ou é seu ego se manifestando?
Maciel - Se não falar de mim no meu livro, vou falar onde? Isso foi uma coisa que aconteceu, eu apenas mostro. Acho que não é ego, é para dar informações úteis.
Folha - É um livro saudosista?
Maciel - Não tenho saudade nenhuma. Se acharem que é saudosismo eu dar importância a esses fatos, paciência. 

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