terça-feira, 5 de maio de 2015

Salvador



José de Freitas Mascarenhas*
A cidade de Salvador que tanto amamos é uma cidade estruturalmente pobre: 74,9% da população da sua Região Metropolitana recebia em 2013 até 2 salários mínimos, segundo o IBGE. A cidade ocupava a 17ª posição na classificação das capitais nacionais por rendimento domiciliar médio per capita.
Consequentemente carrega as mazelas da pobreza: em 2012 registrou 16.93 óbitos de suas crianças com até 12 meses de idade por mil nascidos, deixando-a em 24º lugar entre as capitais brasileiras. Florianópolis obteve o primeiro lugar com a metade (8,27) deste valor.
Na área educacional, no mesmo ano, ficou em último lugar entre as capitais com 45,9% dos alunos apresentando idade superior em mais de dois anos em relação à idade ideal para cursar o ensino fundamental da rede pública, segundo o censo escolar do Inep/MEC. No ensino médio este percentual se agrava alcançando 56,1%. O diagnóstico do recente Planejamento Estratégico do Município reconhece esta situação da educação quando aponta que a cidade ocupa o terceiro pior desempenho entre as capitais brasileiras no ensino fundamental com nota 4 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2011 e o segundo pior desempenho no ensino fundamental II com nota de apenas 2,8.
O Mapa da Violência de 2014 apresenta para todo o Estado da Baia uma taxa de 41,9 homicídios por cem mil habitantes. Salvador apresentou  60,6.
São certamente dados preocupantes para a cidade  que gostaríamos de ter. Por trás disso encontra-se indelével a marca da pobreza: a baixa renda média da sua população e a reduzida atividade de negócios refletida na insuficiente arrecadação municipal.
Quando se compara nos dados da receita municipal, IBGE/2010 último disponível, itens da arrecadação sobre o patrimônio imobiliário (IPTU,ITBI) ou sobre os serviços (ISS) conclui-se pela coerência da posição de Salvador com os valores apresentados por Recife e Fortaleza. Mas quando essa comparação é feita com os valores da atividade econômica (ICMS), Salvador fica atrás das duas em 29,2% e 30,1%. No que diz respeito ao PIB per capita do ano de 2012 novamente Salvador fica atrás delas em 37,9% e 15,3% respectivamente.
Dados da Secretaria do Tesouro Nacional indicam que Salvador investiu em 2012, 4,3% da sua receita, enquanto Recide investiu 8,9% e Fortaleza 7,5%. Naquele ano a média nacional de investimentos públicos municipais superou a marca de 10%.
Fato notório é que Salvador não conta com com receita industrial compatível com a sua expressão econômica, de vez que na sua Região Metropolitana essa atividade está concentrada em municípios como Camaçari, que em 2012 teve renda per capita 238% superior.
Esta situação induz um efeito circular: a população sem renda suficiente não conta com meios para cuidar da sua qualidade de vida principalmente em saúde e educação e sobrecarrega a demanda por assistência social do município que ao atende-la, restringe o investimento que lhe proporcionaria benefícios e conforto. Não há nenhuma solução mágica que possa romper este círculo imediatamente, exceto através de programas de crescimento da renda ou verbas externas para investimentos.
Nada mudando na política fiscal da Federação restam algumas iniciativas a explorar: estimular a realização de investimentos industriais privados e outros negócios nos limites da cidade. Há setores da indústria que podem conviver bem no ambiente urbano sem provocar maiores danos. O correto no entanto seria especializar a área e equipá-la para abriga-los. No possível oferecendo outros incentivos atrativos aos investidores.
Numa segunda linha continuar investindo na qualificação da cidade para o turismo. Salvador tem reconhecidos predicados para desenvolver o setor: sol, geografia, baía com grande potencial de exploração, diversidade cultural, patrimônio histórico e, como marca , um certo misticismo derivado da presença africana que compõe ambiente propício às atividades artísticas.
Mas que não haja ilusão, o turismo de alto padrão não virá para cá sem que estejam resolvidas questões fundamentais como a existência de segurança plena, museus de qualidade, disponibilidade de diversão, bons hotéis e serviços de padrão adequados. Isso tudo não se consegue a curto prazo.
É bem verdade que a cidade está visivelmente melhor e mais bem cuidada. Melhorá-la sempre é crucial. Maior atenção deveria ser dada ao seu planejamento urbano (PDDU) projetando uma cidade atrativa e moderna para seus habitantes. Elevar sua renda vai depender muito do investimento privado. Que certamente fluirá desde que encontre ambiente favorável e gerador de retorno econômico.

*José de Freitas Mascarenhas é Engenheiro Civil e Conselheiro da Odebrecht. Vice presidente da CNI, presidiu a FIEB de 2009 a 2013

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