terça-feira, 31 de março de 2009

Descaso com o Turismo Marítimo

Osvaldo Campos
Com o fim da temporada de Cruzeiros marítimos em Salvador, constatamos que apesar do crescimento do número de escalas de navios no porto, 101 navios e mais de 140.000 turistas, continuamos a negligenciar este segmento do turismo, que poderia contribuir em muito para a economia de nossa cidade. Enquanto Recife e Fortaleza investem na melhoria da infra-estrutura, visando se consolidarem como portos emissores de cruzeiros ( hub-port), parece que Salvador se conforma em ser apenas porto de passagem. A carência de infra-estrutura para o receptivo dos navios contrasta com as instalações luxuosas dos navios que aquí aportam e que a cada ano se renovam e modernizam. A Codeba deve liderar este processo de modernização das instalações do porto, promovendo o arrendamento dos armazéns 1 e 2 para que a iniciativa privada implante um moderno terminal de Cruzeiros Marítimos. Enquanto ficar aguardando pelos mirabolantes projetos da prefeitura, que não entende a importância de um porto para a cidade, corremos o risco de perdemos para Pernambuco mais uma vez, vide Suape e os conteineres. Nos próximos dias este blog irá apresentar ampla reportagem sobre o assunto...aguardem.

Camelôs e taxistas assediando os turistas em frente ao precário terminal


segunda-feira, 30 de março de 2009

O Último Canto de Camafeu de Oxossi

Oliveiros Guanais

Camafeu do Oxossi era muito conhecido na Bahia. Seu nome era Apio Patrocínio da Conceição, mas era por Camafeu do Oxossi que todos sabiam dele. Vi-o apenas uma vez, antes da história que vou contar. Foi no restaurante que ele tinha no primeiro andar do Mercado Modelo. De uma lado ficava ele, do outro Maria de São Pedro. Camafeu era negro, sorria fácil, vestia uma camisa havaiana, usava um chapéu de palha de grandes abas.Camafeu e Maria de São Pedro eram duas celebridades da Bahia, dois nomes de força da cultura negra e do folclore baiano..
De Camafeu eu conhecia um LP, editado nos anos sessenta, e que tinha músicas muito do meu agrado.
Um dia, lá pela década de 90, o Dr. Roberto Santos, cirurgião competente de cabeça e pescoço- incluindo a parte oncológica - disse-me que no Hospital Aristides Maltez, dedicado ao tratamento de câncer, foi procurado por um senhor chamado Apio, ou seja, Camafeu do Oxossi, e que este era portador de câncer de laringe. Ao ser informado de seu estado, e sabendo que precisava tirar a laringe para ter chances de continuar vivendo, Camafeu ficou triste e resmungou: mas assim eu não posso cantar mais. Mal acabara de falar isso, sua mulher pulou em frente e afirmou com energia: tu toca pandeiro, bem.( Brava mulher! ).
Passaram-se uns 15 dias e eu me vi escalado para fazer anestesia para uma laringectomia, aos cuidados do Dr. Roberto Santos, no Hospital Português. O nome do paciente era Apio. Fui à sala de espera, encontrando lá um senhor triste que respondeu aos meus comprimentos com voz baixa e rouca; olhei o prontuário, os exames e aguardei a chegada do cirurgião. Quando este apareceu, disse-me logo: você se lembra do que eu falei de Camafeu do Oxossi? Pois é ele que vamos operar hoje.
Fomos para sala e o paciente foi colocado na mesa cirúrgica, lúcido, consciente. Eu fiz algum comentário , dei início às minhas arrumações e, de costas para ele, comecei a cantarolar:
“Pernambuco deu um tiro,
Maceió arrespondeu, Paraná”.
Paraná (u)ê,
Paraná ( u)ê, Paraná
Mal terminara o refrão, ouvi uma voz rouca prosseguir:
“Bahia vitoriosa
Do lugar nem se mexeu, Paraná”
Aí eu me virei com rapidez e, olhando-o, perguntei:
-Uai, o senhor conhece esta música?
Ele deu uma risadinha e disse com voz abafada: “essa música é minha”
-Sua, seu Apio, essa música é de Camafeu do Oxossi.
-Eu sou Camafeu do Oxossi, respondeu ele.
-Seu Apio, o senhor vem me gozar numa hora dessa. Dizer que é Camafeu do Oxossi!
E ele sorria parecendo feliz, mas acabara de cantar, pela última vez , dois versos de sua canção mais famosa.

Oliveiros Guanais

Agosto de 2007

Mais sobre Camafeu http://www.formadogarrote.blogspot.com/

domingo, 29 de março de 2009

Cidade pede um novo urbanismo



Milton Santos

A cidade de hoje paga um pesado tributo à forma em que cresceu, em busca da modernização. Cega pela ambição de progresso material, devotou as energias disponíveis ao seu crescimento, deixando, porém, quase tudo o mais à espontaneidade. Daí a agudização dos seus contrastes seculares, opondo uma Salvador imponente e limpa, vista e admirada pelos que passam, domesticada em nome da modernidade, habitada pelas atividades e camadas favorecidas e pelas novas classes médias, e outra Salvador, dita irregular, carente de serviços, onde se acotovela a maioria, isto é, os mais pobres. A cidade não apenas acolhe os pobres de sua região, mas, produzindo e agravando a separação, ela também, pelo seu próprio funcionamento, cria pobres.A realidade é pungente, mas será essa uma problemática insolúvel? Não mais estamos à época da celebração do quarto centenário da fundação de Salvador, em 1949, quando, diante das promessas de riqueza e da permanência do atraso, as elites mostravam sua perplexidade, falando de um “enigma baiano”. Já não é mais difícil localizar os problemas, enumerar suas causas e diagnosticar os remédios. Já sabemos como se formaram, evoluindo juntas, ainda que se dando as costas, essas cidades todas justapostas, contidas em Salvador. Urge, agora, quando festejamos seus 450 anos (nota do editor: época da publicação original desse artigo, em 1999), encontrar as forças para pensar, de modo unitário, um novo planejamento, talvez menos urbanístico e mais urbano; e certamente mais social e mais humano.
. Foi o único intelectual fora do mundo anglo-saxão a receber, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, o "Nobel" da geografia. Milton Santos, este grande brasileiro, morreu em São Paulo-SP, no dia 24 de Junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer

Aniversário de Salvador


Salvador, 460 anos

Oliveiros Guanais

Hoje se comemoram 460 anos de fundação da cidade do Salvador. Parabéns a nossa mui amada Soterópolis. Mas para dar início a esta cidade, Tomé de Souza chegou aqui pouco antes, tendo desembarcado no Porto da Barra. E foi lá, do lado do Forte de São Diogo, que os portugueses colocaram um marco comemorativo dos 400 anos de fundação da cidade, em 1949. O monumento tem um painel de azulejos pintados por um português e restaurado em 2003. O tema é o desembarque, os padres, a cruz, uma caravela, soldados. Mas o emblemático mesmo é a mensagem que colocaram no topo desse painel, e que muito me intrigou na minha infância, porque eu não entendia a sintaxe do que ali estava escrito: “ A BAHIA OS PORTUGUESES’. Uma oração sem verbo, sem preposição, sem indicação do sujeito. Pensava muito sobre a intrigante legenda, até que descobri o sentido latino de sua construção. Colocando os elemento que a elipse escondeu, a frase só pode ser entendida assim: “ Os Portugueses oferecem à Bahia” ) . Como se vê, faltou crase, faltou verbo e até uma vírgula, que ajudaria para orientar o entendimento do texto, faltou. Mas acho que essa construção enigmática é que dá riqueza à mensagem. É pena que tudo lá esteja abandonado: faltam cuidados, falta iluminação, falta vigilância e até higiene falta. E a legenda está tão apagada que agora é que não dá mesmo para ser compreendida. É pena.

Porto da Barra
460 ANOS DA CIDADE DO SALVADOR
Almir Santos
Uma cidade singular. Um cidadão resolve montar uma oficina mecânica ou uma serralheria e se instala no canteiro central de uma avenida. Uma anti-estética barraca, licenciada para vender lanches, é transformada em bar ao, ar livre com música ao vivo. Restaurantes e bares, não satisfeitos em ocuparem as calçadas, colocam mesas e cadeiras em plena rua, comprometendo a segurança de pedestres e veículos. Um salão de beleza é construído em plena calçada tomando a visão do ponto de ônibus. Uma área verde é anexada a um condomínio para ampliar o seu jardim um construir uma quadra de esportes. Uma calçada de pedras portuguesas e meio- fios são arrancadas para satisfazer interesses de “guardadores” de automóveis. Há uma total invasão em um canteiro central de uma avenida!!! Em pleno centro surge uma favela de concreto armado juntamente com uma loja de materiais de construção. Uma área de recuo obrigatório é transformada em açougue. Um motorista de ônibus deixa meia dúzia de passageiros no ponto, simplesmente porque não quer parar Um ônibus transporta um colchão de casal, uma bicicleta, um eixo de automóvel ou algumas cordas de caranguejos.. Um gramado é cimentado para instalação de uma borracharia. Salvador. Uma cidade onde não se respeitam os direitos e os deveres, vivida sem amor pelos seus munícipes e pelas autoridades. Cada dia que passa mais se acostuma a viver com o desordenamento e com a desorganização. “A mais linda capital do Brasil” como disse o comunicador. Colorida, do sol e mar permanentemente azuis, das igrejas douradas, dos fortes, dos sobrados coloniais, dos mais belos cartões postais. Do folclore da magia, da música, de uma culinária sem igual, dos modernos shoppings, da nova e revolucionária arquitetura. Convive com os buracos, a sujeira, as favelas, as invasões do colarinho branco e uma total falta de infra- estrutura. Dos transportes deficientes, dos motoristas agressivos, das casas sem número, das ruas nem nome. Das ruas sujas e da precária coleta de lixo. Dos contrates extremos. Ao lado de tanta beleza está o desemprego, a pobreza e a miséria. Ao lado de mansões e de apartamentos de até 1000 m² ,equipados com ancoradouro e teleférico, existe uma invasão. A maior parte das edificações situa-se em áreas não urbanizadas que somadas às invasões transforma a cidade em meia favela, feia, vista de certos ângulos. Dos milhares de moradores de rua. Uma cidade pobre. Uma das maiores taxas de crescimento populacional entre as metrópoles brasileiras, com os mais baixos indicadores de qualidade de vida. Não há uma política habitacional. Falta o controle do uso do solo e a implantação de um eficiente modelo para os transportes coletivos. De um trânsito complicado e de um sistema viário deficiente. O mais grave, os munícipes não têm a mínima preocupação em preservar e manter a cidade. A sua degradação deve-se muito à postura e ao comportamento dos seus habitantes, além, é claro, e da omissão autoridades competentes. O problema não está só na pobreza, mas na educação. Não está só na falta de recursos para grandes investimentos, mas na falta de amor, tanto dos munícipes como das autoridades. Fazer bem feito deve ser uma bandeira, uma questão de brio. Melhores dias para o seu futuro É o que se deseja no seu aniversário.

sábado, 28 de março de 2009

Salvador 460 anos - Novos investimentos anunciados

Foto: Osvaldo Campos

Feira de São Joaquim será totalmente revitalizada

O projeto físico das obras de requalificação da Feira de São Joaquim, a maior feira livre da Bahia, foi apresentado pelo Instituto do Patrimônio Artístico da Bahia (Ipac). A requalificação inclui, na primeira etapa, obras de infraestrutura elétrica e sanitária, pavimentação, além de aterro e contenção da enseada. Também contam do projeto mais uma entrada para a feira, um pátio de carga e descarga de mercadorias em local mais apropriado, a revitalização do píer e a criação de áreas especificas para hortifrutigranjeiros, pescados e animais vivos, carnes e vísceras, entre outras. O projeto executivo geral (que engloba temas como gestão, sustentabilidade ambiental e aspectos socioculturais) ainda sofrerá ajustes. O investimento aproximado para sua elaboração foi orçado em R$ 1,4 milhões, recurso proveniente de um convênio entre o Ministério da Cultura e o Governo da Bahia. Após sua conclusão, a licitação para a primeira etapa deve ser aberta ainda este semestre. O início das obras acontece até o fim do ano.“É uma obra complexa já que o mercado não deixará de funcionar enquanto ela é feita, além disso há toda uma preocupação com as licenças ambientais, já que se trata de área de Marinha e da União” explica o diretor geral do Ipac, Frederico Mendonça. Segundo o assessor da Secretaria de Turismo, Francisco Sampaio, toda a reforma prevista no projeto está estimada em recursos da ordem de R$ 80 milhões, sendo que para a primeira etapa já estão assegurados R$ 32 milhões captados pela Secretaria através de emenda da bancada baiana no Congresso Nacional. O projeto executivo começou a ser elaborado em agosto do ano passado e passou por várias etapas. Ele foi discutido por quase 30 entidades entre órgãos federais, estaduais e municipais, contando ainda com a participação de associações representativas e do terceiro setor, além de feirantes independentes interessados. “Nunca tivemos uma oportunidade dessas, de participar das decisões sobre o futuro da feira e apoiamos muito esse projeto não só porque também pudemos ser ouvidos, como porque do jeito que as coisas estão elas não podem ficar” avaliou o presidente da Associação Profissional dos Feirantes e Ambulantes de Salvador, Nilton Ávila. “A Feira de São Joaquim guarda uma relação histórica do fluxo econômico de municípios do Recôncavo com Salvador. Esse é um projeto que não só prevê a recuperação dos espaços físicos como busca valorizar as tradições culturais que definem sua identidade e capacitar os feirantes” destaca Mendonça.

Futuro da Vila Brandão


Os planos da prefeitura para a Vila Brandão, localidade que ocupa a encosta da Ladeira da Barra há 60 anos, estão ligados à construção do Edifício Mansão Wildberger, no Largo da Vitória. O prefeito revelou que uma das contrapartidas para autorizar o prédio residencial de 35 andares é a urbanização do Largo da Vitória, com a construção de uma praça pública, além de reformas na Igreja da Vitória e na Vila Brandão. “Nem todas as famílias terão que sair da Vila Brandão. Praticamente, só as que quiserem”, garantiu o prefeito João Henrique.
Conheça mais a vila brandão visitando o blog: http://www.vilabrandao.wordpress.com

A ponte Salvador Itaparica

Paixão Barbosa - Blog Cidadania

Esta história da construção de uma ponte ligando a Ilha de Itaparica a Salvador povoa o imaginário dos baianos há muitas décadas. Volta e meia, algum engenheiro ou empresa surgia com a ideia, mas nunca houve ninguém que realmente apostasse no projeto, sempre com a alegação de que o custo da obra era maior dos que os benefícios que iria gerar. Em 1980, o empresário Norberto Odebrecht chegou a apresentar uma proposta concreta, quando Antonio Carlos Magalhães exercia o seu segundo mandato como governador.
A proposta de Odebrecht foi bem fundamentada, chegou a ter uma projeção gráfica, mas esbarrou nas costumeiras críticas. À época, o projeto foi deixado de lado com o argumento de que o movimento de veículos entre Salvador e Itaparica não justificaria a construção da ponte. Não foi aceita nem mesmo com a disposição da empresa de assumir os custos da obra, em troca da concessão, para cobrança de pedágio, durante 25 anos. Na verdade, o que pegou foi mesmo esta proposta, porque alguém da área oficial teria considerado que o prazo era muito longo e que a empresa ganharia muito dinheiro.
Agora, a proposta retorna ao palco, com a chancela do governador Jaques Wagner. Não se sabe, ainda, dos detalhes. Por enquanto é mais uma manifestação de desejo e que, sem dúvida, não é só do governador, mas de muitos baianos. Resta saber se o "carinho" com que Lula disse ter recebido a reivindicação será suficiente para a ponte finalmente sair da imaginação.

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sexta-feira, 27 de março de 2009

Precisamos Repensar o Porto da Barra


O PORTO DA BARRA À NOITE. SALVADOR, CIDADE TURÍSTICA?
Almir Santos

Possui a terceira praia mais linda do mundo, título conferido pelo jornal londrino "The Guardian". Local onde se agrupava grande número de antigos moradores atraídos pelas águas outrora limpas, calmas e seguras da Baía de Todos os Santos. Pelo seu pôr-do-sol inigualável, os turistas ainda são atraídos, mas, entre eles, há um segmento muito diferenciado. Hoje o local abriga centenas de moradores de rua, cada vez mais sem cerimônia de se instalarem sob as marquises com mala e cuia, não satisfeitos em ali permanecerem durante a noite, mas, ao longo do dia. Uma promiscuidade. Deprimente. Que cidade turística é essa? O ponto do tráfico, os espertalhões aproveitando-se dos turistas, a insegurança, as saidinhas de banco são uma constante. Ah! A prostituição. Não faz muito tempo, sentei-me à mesa de um bar e restaurante. Um que fica na área do de um hotel, por imaginar que era de melhor freqüência de um outro fica em frente. Qual nada.Na mesa ao lado sentou-se uma jovem de aproximadamente 20 anos que não parava de falar ao celular. Falava com amigas. De suas investidas em jornadas anteriores e previsão de futuras. Com estrangeiros, cujos nomes nem sabia pronunciar corretamente.Súbito, chegam mais três jovens, todas na mesma faixa de idade. Mal trajadas e de má aparência. Apenas uma tinha uma aparência melhor, pelo menos de rosto. Confabulavam sobre as suas incursões com estrangeiros, suas idades, suas maneiras de gastar e os detalhes dos seus desempenhos. Sobre como aproveitar a alta estação, pois passada, tinha de se conformar com os nativos ou adotar a lei da oferta e da procura. A bolsa estaria em baixa.Falavam das suas nacionalidades preferidas, sempre do ponto de vista meramente material. A comercialização do corpo.Uma, mais exibida, especulava o preço mínimo, mesmo na baixa estação. Outra só baixaria se estivesse com fome ou com atraso de aluguel. Outras contavam vantagens sobre o resultado do verão e de suas reservas em euros e em reais. Não conheço o mercado, mas pareceu-me mentira. Tudo isso em voz alta no português mais sórdido. Nisso, chegam três "felizardos" clientes em potencial, aparentemente italianos. Todos grisalhos, aparentando entre 50 anos e 60 anos. Muitos sorrisos, gargalhadas, abraços, afagos, cervejas... Não havia como não escutá-los. Certamente, um final feliz, pelo menos para três delas ou para as quatro, quem sabe?Confesso que fiquei indignado com o que presenciei. Pedi a minha conta e fui-me embora


quinta-feira, 26 de março de 2009

Agradecimento

No primeiro dia do Blog, recebí de Oliveiros Guanais, a sugestão de encaminhar o artigo "Uma Ponte para o Futuro" , para publicação no jornal A Tarde.
Qual não foi minha surpresa hoje ao abrir o jornal e encontar publicado na terceira página , editorial - Opinião, o artigo publicado ontem no Blog.
Gostaria de agradecer esta primeira contribuição dos leitores do Blog e o incentivo para prosseguir na manutenção deste canal de comunicação voltado para pensarmos o futuro de nossa querida cidade do Salvador
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quarta-feira, 25 de março de 2009

UMA PONTE PARA O FUTURO

Osvaldo Campos
A concessão da BR 324, trecho entre Salvador e Feira de Santana, e a implantação da Via expressa Baía de Todos os Santos, são acontecimentos que poderão viabilizar a construção da ponte de ligação entre Salvador e a ilha de Itaparica. Vamos aos fatos.
A concessão da rodovia Salvador–Feira ao consórcio Rodobahia, grupo formado pela espanhola Isolux-Corsan e pelas empresas brasileiras Engevix e Encalso, terá o prazo de 25 anos e implicará na implantação de dois postos de pedágio com cobrança em ambos os sentidos. Ao contrário do trecho da BR 116 entre Feira de Santana e Cândido Sales, integrante da mesma concessão, que deverá ser totalmente duplicado durante o prazo de concessão, o edital não previu o aumento da capacidade de tráfego da BR 324, nem a duplicação do anel rodoviário de Feira.
A rodovia, que em alguns trechos já registra uma movimentação de mais de 40 mil veículos dia é atualmente a principal via de acesso a Salvador, e, em menos de 15 anos, estará no limite de sua capacidade de tráfego, o que tornará viável uma segunda opção de acesso a Salvador mediante a concessão da construção da ponte Salvador – Itaparica e da duplicação do trecho entre Bom Despacho e Nazaré.
Por outro lado, a implantação da Via Expressa Baía de Todos os Santos, com investimentos de R$ 300 milhões oriundos do PAC, Plano de Aceleração de Crescimento, criará a infra-estrutura necessária para a implantação da ponte e a articulação entre os dois acessos a Salvador.
Não por acaso, o governador Jaques Wagner entregou ontem ao presidente Lula o estudo preliminar da ponte, visando a inclusão no PAC. Os estudos, desenvolvidos pelo setor privado, estão bastante avançados e visam a implantação do projeto mediante concessão pública. Prevendo-se uma movimentação de cerca de 20 mil veículos/dia em 15 anos, a viabilização da nova ponte estará atrelada à cobrança de um pedágio de cerca de R$ 25, 00, (inferior à atual tarifa do Ferry Boat) e, à implantação de um projeto de desenvolvimento urbano planejado da ilha.
Coincidentemente, o atual processo de degradação da ilha teve início justamente com a concessão da estrada do Côco/Linha Verde, que, assegurando acesso rodoviário de qualidade para a Costa dos Coqueiros, possibilitou a implantação do projeto Sauípe e a consolidação da Praia do Forte como destino turístico e de veraneio. Propiciou também o deslocamento do vetor de expansão imobiliária de Salvador para o litoral norte e, mais recentemente para a Avenida Luiz Viana Filho.
Uma nova concessão rodoviária, incluindo a construção da ponte Salvador – Itaparica e a duplicação do trecho entre Bom Despacho e a ponte do Funil , assegurando acesso rápido e eficiente, deverá reverter este vetor de expansão imobiliária, transformando o atual panorama de degradação da ilha.
Mediante um bem estruturado plano de desenvolvimento urbano, a ilha poderá se transformar e crescer de forma ordenada, impedindo também o atual processo de crescimento descontrolado de Salvador, com seus reflexos no trânsito e na qualidade de vida dos habitantes da cidade.
Osvaldo Campos Magalhães - Engenheiro Civil e Mestre em Administração (Ufba), membro do Conselho de Iinfra-estrutura da FIEB, coordena o Nelt - Núcleo de Estudos em Logística, Transportes e Tecnologias Sustentáveis. Email: nelt.oscip@gmail.com.
Artigo também publicado no jornal A Tarde em 26 de março de 2009
Revitalização do Porto e Cidade Baixa

Osvaldo Campos

A convergência de dois eventos nos próximos meses, o início da implantação da Via Expressa Baía de Todos os Santos e a definição da capital baiana com uma das sub sedes da Copa do Mundo de Futebol de 2014 poderá propiciar para Salvador uma oportunidade similar à ocorrida em Barcelona, que, abrigando também uma das sedes da Copa do Mundo e logo depois uma Olimpíada, iniciou um amplo processo de requalificação urbana, priorizando projetos no entorno do seu antigo bairro portuário.Similar à atual situação de Salvador, na Barcelona de então, o porto representava um entrave urbano, que dificultava o trânsito e a expansão do turismo na cidade.Com a implantação da Via Expressa, o porto de Salvador poderá se expandir sem impactar o trânsito, e, deverá se especializar na operação de navios porta contêineres e Cruzeiros Marítimos. Antes da implantação do seu projeto de requalificação urbano-portuária, Barcelona recebia cerca de 100 escalas de navios de Cruzeiros e no porto eram movimentados cerca de 400.000 contêineres por ano, números não muito distantes do porto de Salvador em 2008. Hoje, Barcelona recebe mais de 1.000.000 de turistas marítimos em mais de 600 escalas de Cruzeiros, e, movimenta cerca de 2.000.000 de contêineres em seu porto, sendo um dos principais pólos de comércio e turismo da União Européia.Em Salvador, relegada a segundo plano nas últimas décadas, a Cidade Baixa, que passou ao largo do recente boom imobiliário da cidade, terá agora, com a construção da Via Expressa Baía de Todos os Santos, uma excelente oportunidade de valorização e revitalização urbanística.A Via Expressa, pensada inicialmente para atender a expansão do porto de Salvador, é hoje a mais importante obra do PAC na Bahia e terá suas obras iniciadas ainda neste semestre.Com investimentos superiores a 300 milhões, a nova via, além de atender a movimentação de caminhões direcionados ao porto, disponibilizará seis faixas para veículos, além de extensa ciclovia, possibilitando no futuro a solução de diversos gargalos de trânsito da cidade e a requalificação dos bairros na sua área de influência.Propiciará também acesso fácil e direto entre a Cidade Baixa e o atual corredor de expansão imobiliária da cidade, desde o início do Cabula, entorno da Tancredo Neves e avenida Paralela.Não por acaso, no Fórum Salvador e suas Frentes Marítimas, realizado em 2006 pelo IAB – Bahia, foram apresentadas várias propostas de intervenção urbana, muitas delas abrangendo o entorno da Baía de Todos os Santos, desde a península de Itapagipe até a avenida do Contorno.Diversas propostas envolvendo a área do porto de Salvador e o bairro do Comércio também já foram apresentadas nos últimos anos pela Prefeitura, Codeba, Governo do Estado e iniciativa privada.O momento atual é bastante propício para colocar em discussão todos os estudos e propostas que possam resgatar tão importante região da cidade, revitalizando o porto, o bairro do Comércio e a Cidade Baixa, e, a exemplo de Barcelona, propiciar condições para a retomada do desenvolvimento da atividade econômica em Salvador, com ênfase no setor de serviços e no turismo.

Osvaldo Campos Magalhães – Coordenador do NELT – Núcleo de Estudos em Logística e Transportes, é membro do Conselho de Infra-estrutura da FIEB.
Portos Baianos – Crise e Oportunidade

Osvaldo Campos

O pedido de renúncia do atual presidente da Codeba, a destituição dos representantes da Associação de Usuários (USUPORT) do Conselho de Autoridade Portuária dos portos de Salvador e Aratu, e, a queda na movimentação de contêineres no porto de Salvador em 2008, são sinais claros que algo não vai bem no setor portuário baiano.
Por trás da atual crise nos portos públicos da Bahia está o atual modelo de gestão dos nossos portos, que tem resultado na falta de investimentos e a alta rotatividade de presidentes nos últimos anos (cinco em seis anos).
A excessiva centralização das decisões em Brasília, que será reforçada ainda mais com a regulamentação do Decreto 6620, (que disciplina a concessão e arrendamentos nos portos), e o conseqüente distanciamento da comunidade local nos processos decisórios nos portos baianos, são fatores responsáveis pelo quadro de crise instaurado.
Enquanto os principais portos concorrentes de Salvador e Aratu, os portos de Suape e Pecém são administrados localmente pelos governos de Pernambuco e Ceará, que colocaram há vários anos o sub-setor portuário e a logística de transportes, como questões estratégicas para o desenvolvimento econômico dos estados, os portos baianos continuam subordinados à teia burocrática de Brasília.
Quem visita Pernambuco e seu complexo industrial portuário de Suape pode avaliar a dimensão econômica que um porto moderno e competitivo pode significar para o desenvolvimento daquele estado. Por outro lado, a recente decisão do Governo do Ceará em ampliar o terminal de contêineres do porto estadual de Pecém, poderá acentuar ainda mais a perda de competitividade do porto de Salvador, principalmente em relação à movimentação de frutas da região de Juazeiro e Petrolina.
Recente pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Logísticos da UFRJ, junto aos principais usuários e operadores de cargas, apontou o porto de SUAPE como o mais eficiente terminal portuário público do Brasil e o porto de Salvador como o menos competitivo. Ao lado de Salvador aparecem os portos de Santos, Vitória e Rio de Janeiro, também administrados por empresas federais, confirmando a falência deste modelo de gestão portuária, com os portos subordinados diretamente a Brasília. Vale lembrar que a atual legislação do setor permite a estadualização da gestão dos portos federais, a exemplo do que ocorreu com os portos do Maranhão, e, mais recentemente com o porto de Recife.
O momento de crise atual é uma oportunidade para que o governo baiano adote uma posição firme em defesa dos nossos portos, assegurando a profissionalização da gestão dos mesmos e investimentos imediatos na construção de um novo terminal de contêineres em Salvador, na modernização e ampliação do terminal de granéis sólidos do porto de Aratu e na implantação de um moderno terminal de cruzeiros marítimos em Salvador.

Osvaldo Campos Magalhães
Engenheiro Civil e Mestre em Administração – Universidade Federal da Bahia. Foi candidato à Câmara Municipal de Salvador pelo PSB, defendendo a regionalização da gestão dos portos baianos. Foi Superintendente de Transportes do Governo da Bahia e membro do Conselho de Autoridade Portuária de Salvador, Aratu e Ilhéus entre 2001 e 2006.