Você acredita que esse engenheiro baiano, nascido na Ucrânia, construiu um barco com 11 m de comprimento – o Três Marias – , no quintal de sua casa em Salvador e se lançou ao mar, em 16 de março de 1980, numa aventura que durou quatorze meses, percorreu 26 mil milhas náuticas e visitou dezessete portos, sozinho? Pois bem, Aleixo Belov foi o primeiro velejador brasileiro a completar uma volta ao mundo em solitário, num barco à vela, numa época em que não existia o GPS (Sistema de Posicionamento Global) para navegação. Ele se valeu da navegação astronômica, usando o sextante, se orientando de dia pelo sol e à noite pelos astros. Como se vê não era uma aventura para qualquer um… Navegar é preciso!
Sua primeira volta ao mundo precisou de muito planejamento, organização, experiência mas, sobretudo coragem. Ele mesmo conta que a viagem foi cheia de emoções e muitos riscos. Ao regressar a Salvador 14 meses depois, Aleixo recebeu um Diploma da Marinha brasileira e escreveu A Volta ao Mundo em Solitário, seu primeiro livro, contando com detalhes essa aventura pelos mares do mundo. Tendo apreciado a viagem de barco por tantos portos e mares e, se saído muito bem dessa primeira expedição, Aleixo ainda deu mais duas voltas ao mundo em solitário: uma em 1986 e outra em 2000 que ele descreve nos seus livros. E não parou quieto. Em 2010 surpreendeu novamente, realizando um novo sonho: construiu outro barco, desta vez de aço – o veleiro-escola Fraternidade -, bem maior que o primeiro e, lá se foi para mais uma volta ao mundo, desta vez levando a bordo jovens brasileiros, selecionados num concurso nacional, para ensinar-lhes a arte da navegação e o gosto pelo mar. Aleixo partiu para sua primeira viagem como engenheiro e velejador. Voltou escritor. Foram ao todo seis livros, até agora, narrando suas aventuras, reflexões, encontros, visitas e sobretudo seu diálogo interior, na busca de entender o sentido da vida e seus limites. Em 2013, zarpou mais uma vez de sua amada Salvador para fazer uma viagem de cinco meses à Antártida – a bordo do Fraternidade – acompanhado por nove tripulantes. Uma aventura e tanto, com travessias perigosas e paisagens incríveis daquele mundo gelado, misterioso, belo e pouco conhecido.
Neste momento, Aleixo Belov, mais uma vez a bordo do veleiro Fraternidade, empreende a mais audaciosa de suas excursões, atravessar o estreito de Bhering e completar o percurso da rota Noroeste, do Alaska, passando pela Groelandia, até a costa leste americana.
A Passagem Noroeste consiste numa série de canais profundos entre as ilhas que compõem o Arquipélago Ártico Canadense. Tem cerca de 1450 km de comprimento. Tem-se falado muito na possibilidade da passagem se abrir por causa do efeito de aquecimento global, e consequente degelo, o que diminuiria consideravelmente o trajeto marítimo entre a Europa e a Ásia.
Até recentemente, essa rota só era praticável por navios com potência suficiente para quebrar gelos e durante os meses mais quentes do Verão ártico; no entanto, a ESA [1] (European Space Agency) divulgou recentemente que a passagem está aberta e limpa de gelo, tendo divulgado fotografias de satélite que mostram que o degelo levou à abertura da passagem. O gelo do Ártico derreteu dez vezes mais depressa do que no ano anterior, o que foi decisivo para esta inesperada abertura da Passagem do Noroeste (os cientistas previam que tal só acontecesse algures durante as próximas duas décadas).
Aleixo já percorreu metade do percurso planejado da rota Noroeste, estando atualmente no Porto de Cambridge Bay, ao norte do Canadá, de onde seguirá até a Groenlândia.
*Engenheiros Civis, ex alunos de Aleixo Belov na Politécnica
Extraordinário, um sonhador que realiza seus sonhos, acordado!
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