Paulo Ormindo de Azevedo*
Não é só o centro histórico que está enfermo. O Comercio, antigo centro financeiro do estado, está enfermo também. Conheço inúmeros edifícios relativamente novos que têm um só elevador funcionando e são abastecidos por carros pipas, porque têm dívidas enormes com a Embasa e a Coelba. Os proprietários de suas salas buscam quem se comprometa apenas a pagar o condomínio e o IPTU. Não é muito diferente a situação da Av, 7 de Setembro e Rua Chile, a main street de Salvador até os anos 60.
Será que podemos criminalizar os proprietários desses imóveis por omissão, ou será que o problema é mais profundo, resultante de políticas públicas comprometidas? O nosso centro tradicional foi condenado com a transferência de suas funções centrais, na década de 1970, para um novo centro periférico, na maior transação imobiliária que esta cidade já viu, quando se transformaram glebas rurais de patacas em lotes dourados comerciais com o investimento público. O poder político e a administração estadual foram transferidos para o CAB e o econômico e comercial para o Iguatemi. Como se não bastasse, em 1992 se expulsou a população e se excluiu o Centro Antigo e o Comercio do projeto do metrô. O drama da área é resultado do conchavo imobiliário.
Quando o Iguatemi e a Paralela se transforma em um dos locais mais congestionados, e inóspitos da cidade, a Orla do Atlântico, sem um parque costeiro capaz de amenizar a maresia, vira uma zona de motéis e shoppings decadentes e o estoque de terrenos do Corredor da Vitória se esgota, o capital imobiliário se propõe, candidamente, a revitalizar o Centro Antigo. Uma senhora compra 150 imóveis em Santo Antônio Além do Carmo, outro cavalheiro adquire igual número de imóveis na Rua Chile e projetos imobiliários para o Largo Dois de Julho e o Sodré são apresentados. Se pensam que vão verticalizar o Centro Antigo, se enganam.
Acho muito positivo que a Prefeitura se interesse pelo Centro Antigo, mas não creio que vá se resolver o problema pela justialização e mercado imobiliário. Para reconstruir 1500 ruínas e recuperar uma área tão extensa não bastam isenções fiscais. Quem são esses proprietários virtuais? Tirando uma franja com vista para a baia, que pode interessar à pequena hotelaria, não creio que a nossa burguesia possa querer morar em apartamentos sem garagem, playground e transporte na porta. Creio sim num plano urbanístico que envolva União, estado e município com investimentos pesados em mobilidade e recuperação de ruínas e pardieiros para uma clientela de “Minha casa, minha vida”, que inclua as 3.000 famílias carentes que foram o sal da área e outros setores sociais, como funcionários públicos, comerciários e estudantes. Sem essa decisão política, vai se continuar morrendo e liquidando o Centro Antigo.
SSA: A Tarde, 07/05/17
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