sábado, 29 de abril de 2017

Sobre o quase demolido Centro de Convenções

Márcio C. Campos*
Em janeiro de 1977 era inaugurado em Paris o Centro Georges Pompidou, o edifício que, visto a partir da perspectiva histórica de hoje, é provavelmente o mais importante no mundo dentre os construídos na segunda metade do século XX. Selecionado a partir de um dos concursos internacionais mais debatidos à sua época, o Projeto de Renzo Piano e Richard Rogers articulou, exatamente na década que iria experimentar o auge das tendências pós-modernas historicizantes em ambos lados do Atlântico, os mais importantes impulsos de improvável renovação da arquitetura moderna, com os elementos do debate espacial e tecnológico levantados nos anos 60 (palavra-chave: Archigram) e a discussão da manutenção da vitalidade dos centros históricos europeus, à beira de um processo de expansão geográfica através de subúrbios e de uma progressiva destinação de uso ao turismo de massas, em uma arquitetura unicamente otimista, radical e renovadora, algo reservado a obras excepcionais. Um professor que tive na Universidade Técnica de Viena afirmava, em uma frase de efeito e em uma comparação destemida, que o Centro Georges Pompidou deveria ser estudado por arquitetos como uma sinfonia de Beethoven é estudada por músicos.Maior exemplo da arquitetura que é reconhecida como high-tech, com a sua rigorosa separação entre os espaços de exposição no centro do volume arquitetônico e os espaços de apoio (equipamentos de circulação como elevadores e escadas rolantes, instalações, etc) situados dos dois lados maiores, na periferia do edifício, por assim dizer expostos nas fachada, o edifício com sua clara e simples definição volumétrica e sua estrutura com forte impacto de imagem recebeu críticas que o descreviam como “uma refinaria de petróleo” no centro da capital francesa. Ainda que a esta radicalidade estética, correspondente inclusive ao fato de o edifício não possuir uma fachada no sentido tradicional do termo, pois hipoteticamente módulos poderiam ser adicionados ao seu lado menor em uma extensão sem limites nas duas direções, é parte de uma resposta aos desafios de um programa que exige espaços amplos e flexíveis em vários andares, graças à compacidade de seu volume foi possível criar a grande praça que lhe serve de esplanada de acesso e organiza em harmonia tanto o espaço público como a inserção do edifício no seu entorno, atingindo um equilíbrio que é fruto de uma decisão de projeto extremamente refinada.Em 1979, dois anos após a inauguração do Centro Georges Pompidou, foi entregue à população da Bahia o Centro de Convenções do Estado, construído a partir de concurso de projeto de arquitetura realizado em 1976 e vencido pelo importante escritório carioca MMM Roberto, responsáveis por alguns dos edifícios mais importantes do movimento moderno no Brasil. Neste momento, caracterizado pela bibliografia especializada como o quarto período do escritório, a administração do escritório estava a cargo de Maurício Roberto, o mais jovem dos irmãos que compuseram originalmente o escritório, e contava com a participação de Márcio, seu filho.Dentro de todas as evidentes diferenças e distâncias que há entre duas cidades como Paris e Salvador, é impressionante como o escritório carioca elaborou uma proposta que deu origem a um edifício para o Centro de Convenções capaz de estabelecer uma série de elementos radicalmente novos para a cidade e extremamente atualizados em relação à discussão internacional de arquitetura. Em destaque evidente está a articulação das partes, claramente vinculada à arquitetura high tech, entre as torres de concreto armado que abrigam na periferia do volume escadas de emergência, elevadores e sanitários e a grande treliça metálica que compõe o “edifício-ponte” com o espaço livre e flexível destinado ao uso de feiras e convenções, com seus auditórios nas extremidades.O edifício, além disso, explora sua dimensão para determinar urbanisticamente um marco espacial de caráter direcional para a ocupação da orla atlântica da cidade: situado na cumeada da linha de elevações mais ou menos paralelas à orla – que segue com alguma regularidade até Itapoã – ele estabelecia claramente um limite para a faixa que não deveria ser verticalizada – entre a praia e o Centro de Convenções – uma função que é claramente reconhecida se somos capazes de imaginar uma expansão da linha imaginária determinada pelo eixo longitudinal do edifício em direção ao norte, através da inserção de uma série de edifícios com semelhante relação paisagística, uma continuidade que pode ser vislumbrada até mesmo com uma própria expansão do edifício-ponte (que, no limite de tal expansão fictícia, poderia se transformar em uma megaestrutura e chegar até o litoral do Rio Grande do Norte). Desta maneira, a linearidade da orla, reforçada no traçado da Avenida Paralela, era reafirmada como arquitetura e, assim, poderia finalmente ter conferido consistência de desenho urbano à paisagem da cidade.Apesar de escalas bem distintas de articulação com o espaço da cidade (decorrente da extrema diferença de urbanização e densidade entre as duas situações dos dois edifícios), é impressionante como a articulação entre a escala do acesso do usuário e a do edifício-monumento apresentam soluções que, ainda que não semelhantes, correspondentes em seu acerto: no Centro de Convenções, o uso da via de acesso no centro do vale entre as extremidades do edifício, ao passo que estabelece uma orientação inequívoca, oferece uma escala francamente convidativa assim que o usuário encontra-se sob o edifício (algo que depois foi perdido com a ampliação realizada anos mais tarde, estabelecendo outras possibilidades de entrada).Uma vez alcançado o interior do edifício, o usuário está diante da grande diferença entre o Centro de Convenções e o Centro Georges Pompidou: se a sequência de escadas rolantes no edifício em Paris constitue uma experiência de desfrute da vista para o exterior, no Centro de Convenções, por estarem situadas no interior do edifício, a sequência de escadas oferece uma contemplação do espaço interior do monumental hall verticalizado de acesso aos pisos superiores, de onde então, através da fachada envidraçada, o usuário pode apreciar a vista para a paisagem, do alto, posição adequada para a vista para o mar.Ainda que construído à época de outros importantes edifícios para a cidade que também introduziam a industrialização no processo construtivo – a exemplo das secretarias do CAB, projetadas por Lelé, em concreto armado – e que não se possa pensar outro edifício icônico da cidade como o é a Casa do Comércio sem a sua existência prévia (embora no edifício à Avenida Tancredo Neves note-se um certo formalismo tanto na simetria como nos balanços), é no fato de que provavelmente nenhum outro edifício em Salvador, nem antes e muito menos depois, ter sido capaz de materializar importantes questões do contemporâneo debate arquitetônico internacional que reside a singularidade do edifício entre o STIEP e a Boca do Rio.Sua importância para a cultura arquitetônica da cidade, mesmo tendo sofrido incialmente o mesmo tipo de estranhamento de “parecer uma refinaria”, é inconteste. O desenvolvimento da ocupação do solo urbano nestes últimos 40 anos, tanto no seu entorno imediato como na cidade como um todo, efetivamente aconteceu de maneira radicalmente distante de diretrizes ali apontadas (ah, o debate sobre a verticalização da orla…) e se ele hoje pode parecer um tanto “fora do lugar”, este não é um problema do edifício, e sim da cidade. Afinal, Salvador não é mesmo Paris.
 *Márcio Correia Campos é Professor de Projeto, Teoria e Crítica de Arquitética da UFBA

quarta-feira, 26 de abril de 2017

BRT não é solução, é problema

Entidades urbanísticas de Salvador criticaram o projeto do BRT de Salvador, cujo edital foi apresentado pelo prefeito ACM Neto na última terça-feira (14).
Conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA), Paulo Ormindo disse que os elevados – estruturas como viadutos, pelos quais transitarão os ônibus do modal – trazem impactos “muito grandes, não só visual como circulatório”. 
Ainda na avaliação de Ormindo, o projeto pensado para a capital baiana é "caro” e, até certo ponto, megalomaníaco em relação a cidades de países desenvolvidos.
 “Ele [BRT] também vai ser colocado em cima do canteiro central da Juracy Magalhães Jr., o que significa uma destruição grande de verde. 
O sistema de pagamento também evoluiu muito. Um dos motivos de você criar aquelas estações era a questão do pagamento. Quando o passageiro entrava, ao invés de parar na borboleta para pagar, você entrava na estação já tinha que pagar. Hoje, há basicamente um sistema de cartão magnético. 
Na verdade, hoje não há nenhuma cidade de país desenvolvido que tenha esse tipo de BRT. Em Nova York, os ônibus correm entre os carros. Não precisa colocar ele em elevados e alambrados”, criticou o conselheiro em entrevista ao Bahia Notícias. 
O conselheiro também apontou que o BRT de Salvador deve funcionar como um concorrente do metrô, e não uma forma de transporte auxiliar. “Isso não tem muita razão. Ainda por cima, o viaduto deprecia os imóveis que estão do lado. Deprecia a rua, cria um sombreamento aos imóveis, vira um local em que a população acaba jogando lixo. 
Não entendo a cidade com esses viadutos todos. É uma bobagem”, atacou. Para Carl Von Hauenschild, conselho do Instituto dos Arquitetos da Bahia (IAB), o BRT acaba beneficiando mais o transporte individual que o coletivo. “Neste caso desta primeira etapa do BRT Lapa ligando Pituba/Itaigara ao Iguatemi fica claro que não podemos esperar uma redução deste tráfego individual entre a Pituba e o centro da Tancredo Neves, porque por um lado facilita o tráfego individual na Av. ACM e o transporte coletivo BRT só chega até a estação do metrô do Shopping Bahia/Rodoviária, e não ao destino da maioria, que é ao centro da Tancredo Neves”, defendeu.
Os arquitetos defendem a utilização de Véiculos Leve sobre Trilho - VLT (foto), ao nivel do solo, conciliando parques, passeios para pedestres e trilhos sobre grama.
Esse sistema foi implantado com êxito na cidade do Rio de Janeiro, com 22 km de extensão e articulando o metrô com o sistema de ônibus convencional.

domingo, 23 de abril de 2017

No urbanismo, menos é mais

Paulo Ormindo de Azevedo*
Onde quer que esteja o velho ACM deve estar se contorcendo ao ver desnaturarem duas das suas obras mais caras, a Av. Paralela e o Centro Iguatemi. A Paralela, concebida como um boulevard, foi transformada em uma ferrovia, que divide a cidade ao meio, a pobre da rica. De uma pista já não se vê a outra, com aterros e estações monstruosas.
O centro de negócios do Iguatemi, que pretendia substituir o tradicional, nunca teve um projeto e ficou sem uma praça ou uma rotula de distribuição de trafego. Se alguém que vier pela Bonocô errar a entrada para a Pituba terá que ir até o viaduto da Madeireira Brotas retornar até a engarrafada rótula do Abacaxi e rodar 7 km para finalmente entrar na Av, ACM.
No Iguatemi se fizeram investimentos bilionários, públicos e privados, sob a forma de infraestrutura, shopping centers, edifícios de escritórios e lojas. Hoje é um dos pontos mais engarrafados e inóspitos da cidade, com estações ferroviárias penduradas, filtragem de lixo flutuante, passarelas labirínticas e muito concreto. Sem os planos estratégico Salvador 500 e setorial de mobilidade, a situação ficará ainda pior se a Prefeitura insistir em licitar mais uma ”via expressa” com 12 viadutos quilométricos de três níveis e estações de BRT aéreas cortando arvores e recobrindo os rios para trazer todo o trafego da Vasco da Gama, Garibaldi e Pituba para o Iguatemi ao invés de articulá-lo com a Tancredo Neves e a orla. O centro chique Iguatemi virará um nó rodoferroviário cego suburbano.
Tudo poderia ser feito no chão, com ônibus expressos com assoalhos a 20 cm do rua em vias exclusivas, como se está fazendo no 1º Mundo. Plataformas elevadas e curral de pré-pagos, quando hoje os cartões são vendidos em quiosques, são coisas da década de 60. A articulação das avenidas ACM e Juracy Magalhães Jr. poderia ser feita com uma grande rótula ao invés de uma macarronada de viadutos. Os tecnocratas automotivos municipais esqueceram a lição de Mies van der Rohe de que em arquitetura e urbanismo “less is more”. Menos concreto e mais espaços de sociabilidade!
*Arquiteto e Professor Titular da Ufba
SSA, A Tarde de 23/04/17

sábado, 22 de abril de 2017

Salvador, sua linda


Malu Fontes*
Salvador, meu solo adotado, minha cápsula no mundo, me perdoe por todos os anos lhe dar o mesmo presente: um pedido. 
E desde quando pedido é presente? 
Ora, quando é um pedido bom, é um presente, sim. 
Quando me perguntam: de que CIDADE você é? Sempre, automaticamente, penso, num átimo de tempo: minto ou minto? 
Não há outra opção. A primeira mentira, aos ouvidos de quem pergunta, mas que é mais que uma verdade para mim: "de cidade nenhuma, de lugar nenhum". 
Sim, não sou de cidade nenhuma, embora todos os lugares estejam, burocraticamente, ligados a uma cidade, à sede de um município. 
Eu nasci nos confins da Bahia e nunca pertenci à cidade burocrática à qual o pedaço de fim de mundo de onde venho se liga nos documentos oficiais. 
A segunda mentira: "sou de Salvador". É mentira, mas é a minha verdade. Eu sou cria e criatura de Salvador. Salvador me fez, me bateu, me acolheu, me fez adulta, lambeu minhas feridas, me coloriu, me lustrou e ilustrou, me deu verbo e alguma verba, me deu amores, dores, desamores e muito humor para fazer com tudo isso um jeito meu de reagir ao mundo. 
Ela é a cidade, nesse caso de VERDADE, dos meus filhos; me ofereceu todos os saberes atrás dos quais eu fui, me apresentou os melhores amigos que fiz após a infância e que são hoje as minhas âncoras; ancorou, depois de mim, uma multidão de gente da minha família. 
E é por tudo isso que, embora adore uma dúzia de cidades deslumbrantes por onde passei no Brasil e fora dele, meu útero urbano é Salvador, com todos os seus defeitos, qualidades, belezas e feiuras. 
De perto ou de longe, eu a amo. E por amá-la, há um bom tempo, todos os anos quando me perguntam o que eu diria no seu aniversário, o que eu lhe daria de presente, eu tiro das minhas entranhas afetivas o meu pedido, já gasto, mas com validade enquanto eu viver, pois ainda não o vi atendido desde que moro aqui, desde 1985. 
Meu pedido nasceu meio metido a besta, ou talvez tenha nascido com um certo mofo provinciano, ou paroquial, sei lá. Nasceu na primeira vez que vi Lisboa. Foi olhar para Lisboa, pisar naquelas pedras, olhar aquelas ruas, as paredes limpas daqueles casarios e um mantra se instalar como um grilo falante em meu imaginário. "Essa cidade é Salvador tomada banho". 
E esse é o meu presente. Um pedido, um apelo. Às autoridades todas, de hoje e do fruto, e a todo mundo que vive em Salvador ou a experimenta. 
Por favor, a façamos limpa, cuidada, como se tivesse parentes atentos; não a tratemos como a uma anciã esquecida de quem não se cuida dos cheiros, dos dentes, de quem não se troca as roupas de baixo, a quem não perfumamos nem tocamos com cuidado, a quem não vestimos com a melhor roupa e servimos a comida melhor que podemos. 
É isso que eu queria dar a Salvador: um banho de água de cheiros, afagos nos cabelos, roupas limpas, unhas cortadas; para o sol e a brisa marinha tão escandalosamente intensos que a envolvem evidenciassem os traços da beleza e da força dessa quatrocentona já quase quinhentando-se. Eu sou de Salvador. Essa é a mentira mais verdadeira sobre mim.

Malu"
*Malu Fontes é jornalista e professora. Doutora em Comunicação e Cultura pela UFBa

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Salvador realiza workshop - Rede de Cidades Resilientes

Salvador recebeu nesta quinta-feira o 1° Workshop Salvador Cidade Resiliente, que reuniu líderes e especialistas focados na construção de resiliência na rede 100 Cidades Resilientes (100 RC) – uma organização lançada pela Fundação Rockefeller. O prefeito ACM Neto participou da abertura do evento, realizado na Casa do Comércio.
O workshop contou ainda com as presenças do presidente da Fecomércio, Carlos Andrade, do presidente da Associação Comercial Luiz Fernando Studart e da vice-presidente sênior da 100 Resilient Cities, Byrna Lipper.  O encontro reuniu representantes do setor público e privado, universidades e comunidade local que foram introduzidos ao conceito de resiliência urbana. 
“Essa é uma oportunidade para fazer a cidade pensar de forma diferente, reavaliar seus desafios e suas prioridades. Os esforços de resiliência não só contribuem para Salvador sobreviver aos desastres ambientais, mas também para enfrentar outros problemas, como desigualdade social e desemprego. Quando acidade incorpora o planejamento de resiliência em seu trabalho diário, ela se torna um lugar melhor para todos”. Afirma Bryna Lipper.(foto)
Presentes também, os secretários municipais Luiz Carreira, Claudio Tinoco, Almir Mello e André Fraga, além do diretor de resiliência da capital equatoriana, Quito, Arquiteto David Jácome Polit, (na foto com Osvaldo Magalhães, editor deste blog), o economista Waldeck Ornelas e Vladson Menezes diretor geral da FIEB.
Salvador foi a única cidade brasileira entre as 37 novas cidades-membros a ingressar na rede 100RC este ano. A capital baiana é o terceiro membro brasileiro, juntando-se a Porto Alegre e Rio de Janeiro, que foram escolhidas nas rodadas anteriores. Na qualidade de membro da Rede 100RC, a cidade recebe verbas para contratar um Diretor de Resiliência (CRO), um cargo inovador dentro de governos municipais que envolve um trabalho direto com líderes municipais para o desenvolvimento de uma Estratégia de Resiliência para a cidade.
O valor da verba disponibilizada pela 100RC para a cidade, principalmente por meio dos parceiros de plataforma, deverá U$1 milhão. Salvador receberá verbas para quatro áreas de apoio principais. Uma delas é a orientação financeira e logística para a criação de um cargo novo na administração da cidade: o Diretor de Resiliência (CRO), que liderará as iniciativas de resiliência da cidade. A segunda estratégia é o apoio técnico para o desenvolvimento de uma Estratégia de Resiliência robusta. A terceira diz respeito a acesso a soluções, provedores de serviços e parceiros dos setores privado, público e acadêmico e ONG’s para assistência no desenvolvimento e implantação das suas estratégias de resiliência. Por fim, a quarta estratégia é a afiliação a uma rede global de cidades-membro que poderão se ajudar mutuamente. “O programa permite que Salvador se conecte a outras 99 cidades com perfis diversos, e que vai nos possibilitar a busca por soluções inovadoras para resolver questões históricas da cidade”, pontuou o Secretario da Cidade Sustentável e Inovação, André Fraga.
“Resiliência é a capacidade que indivíduos, comunidades, instituições e sistemas dentro de uma cidade tem de sobreviver, se adaptar e crescer, independente dos choques e estresses crônicos aos quais são submetidos.” Afirmou Helena Monteiro, coordenadora para Salvador do projeto da 100RC.
Choques geralmente são desastres pontuais, como incêndios, terremotos e enchentes, enquanto que estresses são eventos que exercem pressão diária ou recorrente numa cidade, tais como sistemas de transporte sobrecarregados, altas taxas de desemprego, violência endêmica e escassez crônica de alimentos e água, afirmou Helena Monteiro.
Segundo a diretora do 100RC, o primeiro passo para criar resiliência será entender os desafios que afetam a cidade, priorizar os mais importantes dentre eles e, com base nisso, desenvolver formas de intervenção capazes de solucionar vários problemas ao mesmo tempo. Resiliência não é o estágio final e sim, o processo de fortalecimento interno de uma cidade com o objetivo de prepara-la para desafios previsíveis e imprevisíveis.
Para o secretário André Fraga, fazer parte da rede mundial das 100 Cidades Resilientes, como também da rede C40, fortalece Salvador como uma cidade de vanguarda que adota iniciativas inovadoras.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

"Vamos criar um ambiente de negócios em Salvador", diz Bellintani

Um dos nomes de maior importância nos primeiros quatro anos da gestão de ACM Neto na prefeitura de Salvador, Guilherme Bellintani , secretário de Desenvolvimento e Urbanismo do segundo mandato do democrata, terá a missão de desenvolver projetos para a capital baiana após passar por pastas como Cultura e Turismo e Educação. Em entrevista exclusive à Tribuna, Bellintani falou sobre o seu novo posto, projetos para alavancar o desenvolvimento da cidade e a possibilidade de se lançar a uma vaga na Câmara Federal em 2018. Confira:
Tribuna da Bahia - Em que consiste o projeto de antiburocracia que foi anunciado pelo prefeito ACM Neto?
Guilherme Bellintani - Primeiro é preciso contextualizar que a geração de investimentos, de emprego e renda para Salvador não acontece com uma medida específica. Ela virá com o tempo, com o prazo e formulação de várias medidas que de forma complementar vão construir um novo ambiente de negócio e desenvolvimento para a cidade. O que a gente considera como prioritário e vai ser a primeira medida é um programa bem ousado voltado para enfrentar a burocracia histórica do Estado brasileiro, no nosso caso da prefeitura de Salvador. É um programa  que a gente deve lançar nos próximos 30 dias e vai reunir as principais ações da prefeitura para mudar a forma de relação com o cidadão e os empresários com o objetivo de preservar direitos. O direito de abrir uma empresa mais rápido, a ter um empreendimento aprovado com maior velocidade e com capacidade analítica e jurídica maior, o direito, no que se refere ao cidadão mais especificamente, de ter um processo na Transalvador melhor, ou na Secretaria da Fazenda, por exemplo. Então, é o primeiro programa, que, no bojo de outras ações, visa criar em Salvador um ambiente de negócios. 
Tribuna - Como vão desburocratizar a máquina e incentivar novos empreendimentos em Salvador?
BellintaniBasicamente nós temos três pilares. O primeiro pilar é o pilar de normas, que estamos reunindo todas as legislações, portarias e decretos que historicamente são referenciados para a abertura de empreendimentos, mas que precisam ser revisados. Por exemplo, a gente trabalha com um código de obras da década de 80 e que está desatualizado. Era bom para a época, mas hoje está desatualizado. A revisão de normas é o primeiro pilar do Simplifica. O segundo pilar é a remodelagem de processos. Muitas vezes um processo de aprovação de empreendimento passa por quatro, cinco pessoas dentro do órgão, tem um fluxo muito complexo, muito longo e que às vezes a gente pode uma remodelagem simples, menos pessoas tratem de mais assuntos e seja mais fácil aplicar responsabilidade em um processo mais longo. A terceira coisa e a tecnologia. Com uma lei e ordenamento com melhor processo, quando a gente joga a tecnologia em cima disso a tendência é de fato de uma redução e simplificação muito grande. Por exemplo, muitas coisas que o cidadão poderia fazer da própria casa através da internet a prefeitura ainda não dispõe disso. Então, eu diria que com base em simplificação de normas, melhorias de processos e implantação de processos de tecnologia, a gente vai conseguir ser bem ousados nem projeto Simplifica. 
Tribuna - Falou que vai mexer em leis e normas. Vai exigir um amplo diálogo com a Câmara de Vereadores?
BellintaniUma parte interna, sobretudo na parte de portarias e decretos, como por exemplo, o decreto de publicidade, que é um decreto muito antigo aqui no município, complexo. Hoje para o empresário saber o tamanho da placa com a marca dele que ele pode colocar na porta, uma farmácia, por exemplo, que quer expor o nome dela, o decreto é muito complexo, o empresário não tem facilidade em saber que tamanho é aquilo, como ele pode fazer. Em geral ele descumpre, mas não porque não quer cumprir, mas por dificuldade de compreensão. Como vamos mudar o decreto vai ficar mais simples, já temos todos os nossos técnicos estudando essas questões. Já o código de obras é uma legislação que vai precisar passar pela Câmara, mas a Câmara não tem faltado ao Executivo, ao município de Salvador como um todo, e sendo um projeto lógico, de bom senso, discutido com os vereadores, não teremos dificuldade de aprovação. A dificuldade acontece quando alguém quer empurrar um projeto goela abaixo e isso não cabe ao tamanho de Salvador. 
Tribuna - Falou que pretende identificar os maiores pagadores de ISS da cidade. Qual o objetivo?
Bellintani - Isso é muito importante porque a gente tem uma capacidade instalada de produção de riqueza na cidade de Salvador que em geral a gente fala em atrair empresas, mas esquece a capacidade instalada que já está ali. Em geral o investidor que quer vir para Salvador, ele é muito mais cobiçado do que o que já está aqui, e isso não é certo, não é justo. Aquele cara que está historicamente enfrentando as dificuldades de Salvador e querendo ampliar seu negócio, ele é visto com mais normalidade, ou até invisível para o gestor público. O que a gente quer é deixar claro que tão importante quanto atrair novas empresas e tratar bem aqueles que já estão instaladas em Salvador. 
Tribuna - Salvador é uma cidade historicamente de serviços. Como pretende mudar essa realidade?
Bellintani - Mais do que mudar a realidade de serviços, eu não acho que isso é o mais relevante. Primeiro temos que aproveitar a multiplicidade da economia de Salvador, as várias vertentes de economia da cidade. Mais importante do que ampliar segmentos A ou B, é ampliar os segmentos que sejam capazes de trazer dinheiro novo para a cidade. O que a gente diz sempre e que grande parte da economia de Salvador é gerada e consumida dentro da própria cidade. Salvador não tem uma capacidade de exportação de seus serviços e produtos, como por exemplo, uma cidade lá do Rio Grande do Sul que é focada na indústria do calçado e manda calçado para o Brasil e o mundo inteiro. O calçado que ele vende para a China ou para o Ceará, entra nessa cidade como dinheiro novo e fomenta a economia da cidade, transfere o dinheiro do Ceará ou da China para essa cidade no Rio Grande do Sul. O Paraná, por exemplo, que tem uma indústria moveleira muito forte. Quando você compra uma cozinha aqui em Salvador, uma cozinha que é planejada no Paraná, você está transferindo o dinheiro de Salvador e jogando no Paraná. Há pouco de Salvador no sentido inverso, que traz dinheiro de fora para Salvador, a gente exporta muito pouco. O único elemento mais claro é o turismo. De fato, quando o turista vem de fora, traz o dinheiro de outro lugar para comprar em Salvador.
Tribuna - E quais são essas cadeias produtivas e essas áreas que podem ser olhadas de forma diferenciada?
BellintaniA primeira é muito óbvia, eu já citei, é o turismo, uma coisa que já está na natureza da cidade. Quanto mais turista vem para Salvador, mais dinheiro de fora ele traz e, consequentemente,  é um recurso novo que faz investimentos na cidade. A segunda, temos um desafio claro de abrir novas vertentes e potencializar novas vertentes. No plano mais imediato, trazer investidores e negócios que iam investir em outras cidades e possam investir em Salvador. Redes de supermercado, empresas de call center, que poderiam investir em outras cidades e venham se instalar em Salvador. Nós estamos disputando com outras cidades negócios que estão na lógica econômica da cidade. Eu falei de turismo, outras áreas que já fazem parte da nossa realidade, mas que não tenham uma capacidade de atração na cidade. E o terceiro pilar são vertentes que ainda são pouco exploradas, ou nada exploradas, que precisam ser iniciadas, como o núcleo de tecnologia. Eu cito, por exemplo, uma empresa baiana, que é a JusBrasil, criada por jovens baianos na cidade de Salvador que o poder público nunca conversou, eles tem hoje uma penetração mundial, estão entre as maiores empresas de tecnologia, tem aporte financeiro do capital estrangeiro, e o poder público nunca conversou, não tem nenhum contato, invisíveis ao olho do poder público. Eles cresceram sem e existem sem nenhuma participação ou interferência positiva do poder público. O que nós vamos buscar nessa área de tecnologia. Essa empresa que eu estou citando, ou outras dessa área que estão invisíveis hoje, podem começar a ser âncoras de atração de outras empresas na área de tecnologia. Dizer assim: Salvador pode sim, por exemplo, na área de tecnologia, criar novas vertentes, seja na isenção fiscal, seja com infraestrutura, seja disponibilizando espaços  físicos para startups, coisas que possam daqui a dez ou vinte anos, e não antes do que isso, trazer uma repercussão econômica significativa para a cidade. 
Tribuna - O título de supersecretário incomoda ou aumenta o seu desafio?
Bellintani - Nem incomoda, nem aumenta. Ele é um título que não é verdadeiro. Não existe uma lógica de uma super secretaria, o que existe é uma lógica de uma super prefeitura. O que o prefeito ACM Neto conseguiu construir nos últimos quatro anos foi uma estrutura pública que era magrinha, tímida, desrespeitada e, por vez, quase ridicularizada no que se refere a políticas públicas. Conseguiu em quatro anos construir uma estrutura pública que se respeita, aqui e no Brasil como um todo, que tem uma força, que consegue atuar em áreas diferentes da que atuava e que consegue fazer melhor aquilo que já fazia anteriormente. Uma secretaria com o perfil como a nossa, que reuniu programas de várias secretarias diferentes, foi o resultado de fusões de várias secretarias, naturalmente tem a tendência de ser encarada como uma supersecretaria, mas na prática isso não acontece. A secretária é uma secretária que tem um escopo muito grande ao trabalho, uma responsabilidade grande, mas uma secretaria como outra qualquer dentro da estrutura do governo. 
Tribuna - Como pretende atuar, qual o orçamento em caixa e se a pasta de Desenvolvimento Urbano será de execução ou de intermediação?
Bellintani - Em alguns aspectos de intermediação, já que tem a necessidade de trabalhar com outras secretarias, outros programas finalísticos, mas também é uma secretária de execução, por exemplo, na área de planejamento e desenvolvimento urbano e uma secretaria que vai planejar obras, fazer intervenções e liberar projetos dentro da prefeitura. O orçamento não é o mais relevante, quem conhece a lógica do prefeito ACM Neto sabe que não há orçamento, não estou falando de orçamento formal, mas não há orçamento de verdade para uma secretaria que não produz e não é capaz de abrir os seus espaços. Como funciona a lógica do prefeito ACM Neto: elabore projetos, faça programas, torne-os viáveis e consequentemente haverá orçamento para isso. Essa é a fórmula do prefeito e eu não estou nem um pouco preocupado com isso. O que estamos preocupados e com formular programas, e acho que isso vai ser o suficiente para fazer uma secretaria pujante que vai alcançar seus objetivos.     
Tribuna - Quando vai ser possível perceber esse movimento de arrumação que pretende implantar na secretaria?
Bellintani - Já no primeiro semestre a gente está vendo a data adequada, com o lançamento do programa Simplifica, e a explicação disso para a sociedade, a gente começa a dar um passo importante. Se você for ver tanto na secretaria de Cultura e Turismo quando Educação, eu demorei de seis a sete meses para fazer o lançamento do programa, que na Educação foi o programa Combinado e no turismo a realização do Festival da Primavera. Eu diria que se a gente conseguir nessa nova secretária de Desenvolvimento e Urbanismo lançar o programa em até abril, a gente antecipou muito a historia que eu tive nas outras duas secretarias. 
Tribuna - Um dos principais problemas da população é a falta de emprego e renda. Haverá sobreposição de sua pasta com a do Trabalho?
BellintaniNa reforma administrativa a gente entendeu que a secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo tem um papel muito estratégico na formulação de políticas econômicas, mas não conseguiria abraçar, por exemplo, o dia a dia da intermediação de mão de obra, na prefeitura através o SIMM. Não faz sentido uma secretaria que é mais de formulação de estratégia ficar gerenciando uma coisa que é muito relevante, mas que tem um viés muito próprio, que a intermediação de mão de obra. A secretaria de Lazer, Esporte e Trabalho tem um perfil importante e vai precisar trabalhar em consonância com o que a gente está fazendo. E facilita muito porque Geraldo (Júnior) é um quadro novo na prefeitura, mas já tem histórico para contar na política, meu amigo, uma pessoa pela qual eu tenho o maior carinho e trabalhar com ele vai ser o maior prazer. 
Tribuna - Como viabilizar parcerias público-privadas no atual momento de crise?
Bellintani - Eu sempre fui do perfil de que no momento de crise a gente deve apertar o acelerador. O prefeito está mostrando isso. Aumentou o investimento no réveillon, continua investindo e mostrando isso para o Brasil e que quer neste momento, claro, sendo racional em alguns aspectos, mas por outro lado apertar o acelerador. A secretaria vem para isso e é no momento de crise que a gente tem que aprofundar. O empresário tem dinheiro. O que ele está agora é mais cauteloso, cuidadoso, de onde investir. Se a gente conseguir apresentar projetos que rentabilize o empresário, que sejam bons para o gestor público, mas que rentabilize o empresário e que tenha segurança jurídica, uma formação jurídica adequada, o dinheiro existe.
Tribuna - Quais PPPs serão colocadas como prioritárias?
Bellintani - Independente da PPP no sentido jurídico, terminologia jurídica Parceria Público- Privada, o que a gente está concebendo é uma nova forma de relacionamento com o setor privado. Seja por meio da PPP, de concessões, contratos, eu fui muito feliz no início da gestão quando a gente conseguiu conceber uma nova forma de financiamento do Carnaval e o Réveillon de Salvador. A gente mudou a lógica de relação com o setor privado e viu ali que a cidade tinha ativos que poderia ceder para o setor privado sem abrir mão da sua essência de planejamento, interesse coletivo, mas que por meio desses ativos a gente conseguia viabilizar o investimento do setor privado em políticas públicas. Acho que são eventos como esse que vão formular a realidade da secretaria, sejam intervenções urbanísticas, gestão de espaços públicos, repensar a lógica dos parques públicos. Por que não colocar ali um comércio de alimentos e bebidas e em contrapartida ele assumir a manutenção do entorno? Por que não a gente fazer um programa, seja na secretaria de Educação, seja na secretaria de Saúde, de melhoria de gestão por meio de concessão do setor privado de determinado tipo de serviço? Há uma série de elementos para dizer que essa agenda é uma agenda pública, mas na prática os interesses privados que a gente vai buscar convergir com os públicos e que vão mostrar qual vai andar primeiro. A gente não está preocupado com isso neste momento. 
Tribuna - O que será alvo de concessões e operações consorciadas na cidade?
BellintaniO que podemos dizer é que temos uma lista de 25 projetos que a gente imagina que podem vir a se viabilizar a partir do investimento privado, com pouco ou nenhum investimento público, mantendo a lógica do interesse público como primordial, mas ainda não dá para dizer o que vem primeiro. Eu diria, por exemplo, que a gente tem uma necessidade mais pontual de modernizar a gestão da zona azul. Isso e, mantendo uma lógica de que isso é uma taxa pública, mas por que não um aplicativo e nova gestão da zona azul para que a prefeitura consiga arrecadar um pouco mais, mas não esse como o objetivo, mas fazer uma gestão das vagas públicas? Esse é um elemento. Por que não fazer uma nova estrutura dos mercados municipais que sejam capazes de ser potencializados como gestões mais organizadas, mais audaciosas do ponto de vista da gestão pública? São parcerias, por exemplo, que estão no nosso foco, como no caso dos parques municipais. Eu não consigo adiantar o que vem primeiro, pois depende muito de ter o parceiro adequado que se interesse em investir. Eu não posso responder pelo setor privado. Eu posso mostrar quais são os interesses públicos nestes aspectos e o setor privado que tiver interesse em estudar e aportar recurso ali vai se candidatar em processo aberto e transparente para executar esses programas.