Natália Garcia*
Faltavam dois dias para minha viagem à capital dinamarquesa, primeira parada do Cidades para Pessoas, e fomos juntas “passear pela cidade” no Google Street View. Nós duas estávamos acostumadas a pedalar em São Paulo e parecia de mentira aquela cidade cheia de ciclovias e com quase nenhum trânsito. A expectativa para conhecer Copenhague e experimentar pedalar por lá só aumentou.
Assim que cheguei ao aeroporto, a primeira surpresa: É tão fácil chegar ao aeroporto de trem ou ônibus e ele fica tão próximo do centro da cidade (10 quilômetros) que simplesmente não compensa ir para lá de carro. Assim que passei pelas portas automáticas de vidro, encontrei um estacionamento para bicicletas
Também não demorei a descobrir que as bicicletas são o único transporte público gratuito da capital dinamarquesa. Há vários pontos de bicicletas públicas espalhados pela cidade: você pode retirar uma delas, usar até onde quiser e devolver em outro ponto. É parecido com os sistemas adotados em Paris, Barcelona e Londres, com a vantagem de que não é preciso fazer nenhum tipo de cadastro, ter cartão de crédito, ser habitante da cidade ou deixar um cheque caução. Tudo o que você precisa é de uma moeda de 20 kronos (que vale R$ 6) inserida no cadeado da bicicleta e ela está livre para usar. Ao devolvê-la em outro ponto, você recebe sua moeda de volta. Sim, há problemas de vandalismo. O chefe do departamento de bicicletas da prefeitura, Andreas Røhl, estima que 15% delas sejam depredadas e precisem ser consertadas todo mês. Ainda assim, o serviço continua sendo gratuito – e é usado principalmente por turistas, já que 95% dos moradores da cidade possuem bicicleta própria.
Cycle Chic
Antes mesmo de pesquisar dados sobre o uso diário de bicicletas pela cidade, uma olhada pelas principais avenidas já mostra que esse é o meio de transporte mais utilizado por lá. Copenhagen, aliás, inaugurou o movimento mundial Cycle Chic – de gente que pedala arrumadinha. A ideia é: “esse é o meu meio de transporte, então vou utilizá-lo com minha roupa de trabalho mesmo”. Daí que mulheres com vestidos e saltos enormes e homens de terno e gravata pedalam em direção ao escritório todos os dias. Inclusive quem trabalha na sede prefeitura, que fica em um prédio antigo bem no centro da cidade. Na área externa do prédio fica esse estacionamento de carros:
Depois dessa experiência prática, fui à teoria: pesquisei os dados da divisão modal na cidade. A prefeitura de Copenhague apura dois tipos de dados: a divisão modal do total de viagens e a divisão modal das viagens do dia-a-dia, feitas para a escola e para o trabalho. Nesse segundo grupo, das viagens do dia-a-dia, ainda há uma subdivisão entre os moradores do centro expandido da cidade e os moradores de toda a região metropolitana da capital dinamarquesa. Você pode ver essa divisão no mapa abaixo.
As regiões identificadas como City Center, Amalienborg Nyhavn e Christianshavn compreendem o que a prefeitura considera como centro expandido e, juntas, possuem uma população de 50 mil pessoas. A região metropolitana compreende todos os bairros assinalados e possui um total te 550 mil habitantes, em uma área de 88.25 km2. É uma cidade bem pequena (tem a mesma população que os bairros paulistanos Pinheiros e Lapa somados).
Viagens do dia-a-dia
Considerando a população do centro da cidade, a divisão modal é a seguinte:
Agora, se a população total de toda a região metropolitana de Copenhagen for considerada, a divisão passa a ser essa:
Por fim, considerando todas as viagens feitas e a população total da região metropolitana, temos esse terceiro gráfico:
Esse é o único caso em a bicicleta não ganha, perde para o carro. Mas é preciso pensar que os carros são muito utilizados em viagens de fins de semana para fora da cidade, por isso o percentual aumenta tanto. Ainda assim, é fácil de concluir que a bicicleta é o mais importante modal da cidade. E continua sendo mesmo nos meses de inverno, quando 70% dos usuários de bicicleta continuam pedalando.
E a prefeitura faz questão de garantir que continue sendo assim. Não só porque as pessoas ficam mais felizes pedalando, mas porque é economicamente melhor para a cidade. Um carro emite poluentes (o que causa danos de saúde pública), gera mais acidentes e precisa de uma manutenção mais cara na infraestrutura. As ciclovias, por outro lado, são mais baratas, atraem mais turistas, fazem com que as pessoas se exercitem e fiquem mais saudáveis e as bicicletas não emitem poluentes – os gastos com saúde pública caem bastante. A prefeitura colocou todas essas variáveis em uma equação e concluiu que, a cada quilômetro pedalado, a cidade GANHA o equivalente a R$ 0,70, enquanto que a cada quilômetro percorrido por um carro, a cidade PERDE R$ 0,30.
* Natália Garcia é jornalista e editora do Blog Cidade para as Pessoas
* Natália Garcia é jornalista e editora do Blog Cidade para as Pessoas
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