segunda-feira, 25 de março de 2013

A cidade imovel

Lourenço Mueller*
A cidade não se move, não apenas pela insuportável incompetência  de quem tem lidado e lida com mobilidade, nos dois sentidos, o da operacionalidade do sistema viário, ao proibir hábitos arraigados - como estacionar ao longo das vias -  sem dar alternativas e o do planejamento de transportes e trafego e aí eu nem vou dizer o que falta porque falta tudo, sobretudo um conceito de cidade contemporâneo. Falo de outra natureza de imobilidade. 
A cidade é uma conjuntura social expressa em varias dimensões ,entre as quais uma dimensão física constituída pelas suas redes de infraestrutura e seu habitat. Este em boa parte eh formado por habitações populares e/ou informais não licenciadas e por construções regulares, com projeto de arquitetura aprovado na municipalidade. E desta que vamos falar. Se há  estruturas organizadas responsáveis pela ocupação legalizada da cidade são a prefeitura e a associação patronal dos incorporadores e construtores de imóveis , a ADEMI; esta instituição já teve seus ícones na direção, construtores de nomes conhecidos e realmente atuantes no que se chama ' mercado imobiliário' , que ajudaram a formar sua imagem de respeitabilidade. Os critérios de escolha dos presidentes mudaram radicalmente nas ultimas gestões e recairam em pessoas de pouca ou nenhuma expressão na área de incorporacão e construção, razão pela qual tem atuado mais como facilitadores intermediários meramente mercantilistas; assim, contradizem a história dos que defendiam acima de tudo os interesses de classe dos associados colocando em segundo plano seus eventuais projetos pessoais.
Entretanto, o poder de interferência nas legislações urbanísticas da prefeitura aumentou na inversa proporcionalidade de competência dos seus dirigentes, apoiados por burocratas corruptos ao longo da ultima gestão municipal. Hoje o ministério publico precisa ser acionado a toda hora por movimentos sociais (ex) que ainda se preocupam com esta cidade, liderados por profissionais que perdem horas preciosas de suas vidas com o aborrecido trabalho de denuncia desses desmandos, muitas vezes não podendo 'dar nome aos bois' porque os atores dessa escorcha  às leis e ao patrimônio territorial e paisagístico são muito espertos para não deixar rastros visíveis de suas atividades ilegais. 
Certamente o MP e a policia tem poderes e competência para rastrear essas pegadas invisíveis. 
Embora já começando a tardar nas ações corretivas dessas malfeitorias que estão dificultando o empreendedorismo dos que realmente operam na construção física da cidade, o novo prefeito ainda goza da boa vontade dos eleitores mais informados, cônscios de que 'Roma não se fez num dia'. Não sejamos tão ingênuos: quem esta no poder tem que fazer concessões mas a percepção da cidade apenas como uma mercadoria poderá transformar a jovem liderança política municipal num fantoche de pessoas sem escrúpulos, bem capazes de vender Salvador por trinta ricos dinheirinhos. 
Lançamentos imobiliários foram reduzidos em cerca de 70% (dado de fonte do próprio mercado imobiliário) e já há desemprego para trabalhadores ( arquitetos, operários e profissionais qualificados) além do que a tibieza e o conservadorismo de certa parte do empresariado baiano permitiu que grupos de outros estados, notadamente paulistas e pernambucanos, 'jogassem na nossa área ' (Agora cariocas também, no caso do conjunto da praca Cayru) .
Nada contra, dêsde que as coisas sejam transparentes. Mas não são. Quanto ao órgão representativo da classe de arquitetos, o IAB, discute babilonicamente o sexo dos anjos, se exclue de grupos mais proativos como " A cidade também é nossa " e se omite em questões como essa de criticar uso e ocupação do solo e comportamento dos eternos agentes privilegiados da construção física da cidade. Nao sou saudosista mas não posso deixar de lembrar alguns heróis arquitetos que construíram uma sede própria do nada (os 'cinco baixinhos' nas palavras de Pena Costa, o querido AryPC) e o fizeram pensando na entidade recem criada e não em si mesmos. São omissões imperdoáveis para as poucas entidades que poderiam, com seu peso representativo, coibir equívocos na gestão urbana. Mas preferem talvez estar bem com os poderosos do que ser a voz dos seus afiliados, a maioria descontente com suas representações de classe, é só perguntar...
* Arquiteto e Urbanista

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