terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Cidades para pessoas são feitas de "homens lentos"

Adriana Sansão* 

Quando a cidade de Copenhagen, ainda nos anos 60, transformou a área de Strøget (foto) na primeira zona exclusiva para pedestres no mundo, muita gente deve ter se perguntado: mas por onde vão passar todos os carros? E os estacionamentos, onde ficam? Passados mais de 40 anos, essa pergunta, embora para nós ainda pareça tão natural, para eles já é um tema superado. Após notável revolução em seu sistema de mobilidade, Copenhagen prepara-se para concorrer ao título da melhor cidade para ciclistas no mundo. Pois o pioneiro nessas ideias, o arquiteto dinamarquês Jan Gehl, esteve no Rio +20 e falou sobre essa experiência para os cariocas. Gehl é Professor Emérito de Projeto Urbano da Escola de Arquitetura de Copenhagen, e realizou uma conferência no Instituto de Arquitetos do Brasil, dentro das atividades do evento “Cidade Sustentável - expressão do século XXI”. O tema central de seus estudos e projetos é a relação entre o ambiente construído e a qualidade de vida das pessoas que vivem nas cidades.  Preocupado em transformar o meio urbano hostil, dominado pelos automóveis, em lugar para pedestres e ciclistas, ele defende o projeto da “cidade para pessoas”. 

Para um auditório lotado e ansioso, começou sua apresentação afirmando que edifícios sustentáveis - prática arquitetônica emergente tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento – por si só não significam uma cidade sustentável. Para ele, o planejamento urbano deve ter um olhar abrangente, com foco principal na atuação sobre os espaços públicos. Segundo ele, a cidade para pessoas tem como características fundamentais ser animada, atraente, segura, sustentável e saudável. A cidade animada é a que permite o encontro de pessoas no espaço público, sejam elas conhecidas ou não, o que está diretamente ligado à qualidade das calçadas e praças, e aos usos e atividades dos edifícios ligados a elas. Relacionada a esta, a cidade atraente é aquela dotada de uma escala humana, com menos stress, barulho e poluição, onde podemos olhar para outras pessoas, ver e sermos vistos, e onde os carros têm uma fração do espaço dedicado aos pedestres. A cidade para pessoas também deve ser segura, no sentido literal da palavra, onde os pedestres não estejam sujeitos a riscos no uso dos espaços públicos, e também sustentável, onde o desenvolvimento das atividades humanas não cause impactos negativos na sobrevivência do domínio público ao longo do tempo. E, finalmente, a cidade para pessoas é saudável, onde os espaços públicos são convidativos para caminhar e pedalar, e as pessoas são fisicamente ativas. O ser humano pratica na cidade tanto as atividades obrigatórias, que incluem morar, trabalhar, comer; quanto as opcionais, como por exemplo, praticar esportes, passear; e as sociais, como os encontros e festas. Para permitir o pleno desenvolvimento dessas atividades, todas as ações devem ser feitas para convidar as pessoas a caminharem, pedalarem e a serem menos sedentárias, e isso envolve ampliar e qualificar esses percursos “lentos”, e, em ação inversa, reduzir cada vez mais o espaço dos automóveis. Essas ideias, em si, já não são inovadoras. Mas ainda são balizadoras e inspiradoras na busca de melhorias nas nossas cidades. Para que se concretizem, precisam tanto dos técnicos, que vão pensar e executar as melhorias, como da população, mudando de comportamento, reduzindo o uso do automóvel em troca de formas não motorizadas de deslocamento ou de uso do transporte público. A vitória dos “homens lentos” seria também a das cidades para pessoas, em um mundo contemporâneo que ainda coloca a velocidade em um pedestal. 

 *Arquiteta e Urbanista.

2 comentários:

  1. É isso, muito bom. Pensamos que é novidade, aqui quando se fala em rua exclusiva para pedestre, principalmente os comerciantes acham que vão perder público, e na verdade é o contrário, a cidade ganha vida. Outro exemplo é Veneza, que o carro não entra, é toda a cidade para pedestre.
    veja também:
    www.ruadegente.blogspot.com.br

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  2. Com tecnologias inovadoras, as megacidades podem tornar-se mais ecológicas, aumentar a qualidade de vida dos seus habitantes e cortar custos – tudo ao mesmo tempo.

    http://www.siemens.com.br/desenvolvimento-sustentado-em-megacidades/

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