Osvaldo Campos Magalhães*
Com mais de 2.4
milhões de habitantes em sua região metropolitana, a cidade de Portland, é um
dos segredos mais bem guardados dos Estados Unidos. Localizada no estado de
Oregon, que é conhecido por suas magníficas paisagens e pelo vulcão Santa
Helena, a cidade de Portland, jamais esteve entre os destinos mais visitados
daquele país.
O estado de Oregon,
localizado na costa do pacífico, decidiu, ha 40 anos atrás, que não queria que
suas cidades copiassem o modelo do vizinho estado da Califórnia, onde o automóvel,
especialmente em Los Angeles, reina absoluto.
Tendo
realizado um estudo comparado entre as políticas urbanas implementadas em
Portland e Curitiba, desde a década de 70, relatado no livro “City making and urban governance in
Americas”, a pesquisadora venezuelana Clara Irazábal, especialista em “design” urbano e planejamento
territorial da Universidade da Califórnia, afirmou recentemente: “Somente a sinergia entre lideranças
contínuas, políticas abrangentes e o envolvimento sustentado dos cidadãos são
capazes de produzir resultados extraordinários de planejamento.”.
Contudo, Curitiba,
por falta de continuidade no planejamento nos últimos anos, não foi capaz de
manter o seu desenvolvimento sustentável, e, uma política pública favorável ao
transporte público. A capital do Paraná, que já foi modelo de transporte
público também se rendeu ao carro. Em Curitiba, o índice de motorização passou
de 2,1 habitantes por veículos para 1,4 este ano, atestou o artigo do jornal
Valor Econômico do dia 29 de junho, (Mobilidade Urbana dá o tom das eleições).
Portland, contudo,
manteve-se fiel aos ideais do seu planejamento territorial e urbano que busca
sempre o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida dos seus habitantes
e é considerada hoje, por diversos especialistas e pesquisadores do tema, como
uma referência em termos de Mobilidade Urbana sustentabilidade e revitalização
do centro da cidade, com o resgate das antigas linhas dos bondes e implantação
de modernos “tramways”.
O sucesso de Portland
se deve, sobretudo, à vocação de seus habitantes para administrar o
desenvolvimento de sua cidade de forma extremamente participativa. Isto
infelizmente não vem ocorrendo em nossa querida e negligenciada Salvador.
Conhecida internacionalmente pelo seu ainda fabuloso e participativo carnaval,
pelo seu magnífico centro histórico, nossa joia do Barroco na arquitetura, e,
pela incrível musicalidade e mistura cultural de seu povo, a cidade do São
Salvador transformou-se, pelo menos em relação à mobilidade urbana, numa versão
tropical da cidade dos Anjos, onde reina absoluto o “Senhor Automóvel”.
Em recente artigo
publicado em A Tarde, intitulado: “Grandes
problemas, pequenas soluções”, o presidente da Federação das Indústrias do
Estado da Bahia, engenheiro José de Freitas Mascarenhas adverte: “Nada terá solução correta para Salvador sem
uma visão de antecipação do futuro, por meio de um planejamento geral que
inclua toda região metropolitana”. Citando dados recentemente divulgados
pelo IBGE, Mascarenhas afirma em seu artigo que Salvador já registra padrões de
deslocamento urbano semelhante aos das maiores e mais problemáticas cidades
brasileira, quando o assunto é Mobilidade Urbana: São Paulo e Rio de Janeiro.
Os prejuízos para a economia destas cidades e de seus habitantes é incalculável, superando certamente a casa dos bilhões de
Reais por ano.
Planejamento e
continuidade administrativa são exatamente o que tem faltado em Salvador nos últimos anos. Basta lembrar o número de secretários da pasta de planejamento que a cidade do
Salvador já experimentou nos últimos sete anos. Se na pasta do planejamento
não existe continuidade administrativa, é fácil imaginar a trágica situação das
nossas políticas públicas em Salvador e região metropolitana. A
descaracterização dos objetivos da CONDER, também contribuiu fortemente para o
agravamento da questão urbana na RMS.
Começando o seu
governo com um competente secretário de planejamento, o urbanista e professor
Itamar Batista, o prefeito João Henrique, infelizmente, cedeu à pressão do
lobby dos empresários da construção civil e do transporte público. O que se
assistiu nos últimos anos foi a gradativa entrega da cidade aos interesses do capital
imobiliário e dos empresários de transporte de ônibus, não por
acaso, os maiores
financiadores das campanhas eleitorais em Salvador.
No momento em que os
eleitores soteropolitanos terão, pelo voto, a oportunidade de renovarem a Câmara
Municipal de Salvador e o ocupante do palácio Thomé de Souza, devemos mais uma
vez observar a razão do sucesso de Portland. Nesta cidade, que atrai cada vez
mais pessoas de todos os cantos dos Estados Unidos, sejam os amantes das
bicicletas, sejam os jovens casais que desejam
constituir famílias saudáveis numa cidade ambientalmente sustentável, é sempre
bom repetir a razão do sucesso desta magnífica cidade: planejamento, continuidade administrativa e ampla participação popular.
É hora de participação
e mobilização da sociedade civil soteropolitana.
@ Artigo publicado no jornal A Tarde, em 17 de julho de2012
@ Artigo publicado no jornal A Tarde, em 17 de julho de2012
*Osvaldo Campos Magalhães é Engenheiro Civil e Mestre em
Administração. Coordenou a elaboração do PELTBAHIA- magalhaes.oc@gmail.com
e² transport - Portland: A Sense of Place from kontentreal on Vimeo.
e² transport - Portland: A Sense of Place from kontentreal on Vimeo.
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