Dimitri Ganzelevitch*
Voltando ao mau uso do Centro Histórico de Salvador. A rejeição deste bairro pela classe média baiana é uma realidade cultural. Ninguém quer saber se aqui moraram os poderosos, clérigo e nobreza de outras épocas. Nem os responsáveis pela conservação do bairro, seja de primeiro ou segundo escalão, nem o próprio arcebispo, apesar do magnífico palácio arquiepiscopal da Praça da Sé.
Quem manda seus filhos passar férias em Miami e Orlando dificilmente aceitará viver em moldura histórica sem o glamour dos condomínios com playground, zelador e garagem de controle remoto. O escudo invocado sempre é “por causa dos filhos”. Mas lamentar não adianta.
O Centro Histórico necessita de leque sociocultural mais amplo se quiser sobreviver. Há muitos anos defendo a implantação de repúblicas de estudantes, como houve antes da reforma, antes das vaias a um irascível governador. Sangue novo, risos, violões, atitudes rebeldes fazem parte da qualidade de vida de antigos bairros onde espíritos irrequietos e contestadores encontraram refúgio.
Que seria de Salamanca sem suas tunas ou de Coimbra sem suas estudantinas?
Que também fique aqui registrada minha sugestão aos governantes de atribuir, talvez na forma de prêmio, uns ateliês amplos e arejados a alunos recém-diplomados das Escolas de Música, Dança, Antropologia, Belas-Artes etc. Poderia ser sob forma de convênio para um mínimo de dois ou três anos, sem ônus para o contemplado, incluindo luz e água. Uma bolsa-artista. Por que não? Sairia muito mais barato que campanhas publicitárias na televisão e outdoors na Paralela.
Pequenos eventos com programação regular como feiras livres de produtos orgânicos no Terreiro de Jesus e no Largo de Santo Antônio, apresentações semanais de mamulengos e tantas outras formas de atrair e manter uma qualidade de vida diferenciada poderiam mudar os preconceitos da sociedade soteropolitana.
Precisamos reintegrar o Centro Histórico à cidade que dele nasceu. O que não se pode é imaginar que a abertura de um shopping no Santo Antônio ou shows de rock ou de pagode no Pelô solucionarão a previsível decadência do bairro.
Tombado pela Unesco no final do século XX, ou tombando pela falta de visão nos primórdios do século XXI?
*Dimitri Ganzelevitch – Presidente da Associação Cultural Viva Salvador
Voltando ao mau uso do Centro Histórico de Salvador. A rejeição deste bairro pela classe média baiana é uma realidade cultural. Ninguém quer saber se aqui moraram os poderosos, clérigo e nobreza de outras épocas. Nem os responsáveis pela conservação do bairro, seja de primeiro ou segundo escalão, nem o próprio arcebispo, apesar do magnífico palácio arquiepiscopal da Praça da Sé.
Quem manda seus filhos passar férias em Miami e Orlando dificilmente aceitará viver em moldura histórica sem o glamour dos condomínios com playground, zelador e garagem de controle remoto. O escudo invocado sempre é “por causa dos filhos”. Mas lamentar não adianta.
O Centro Histórico necessita de leque sociocultural mais amplo se quiser sobreviver. Há muitos anos defendo a implantação de repúblicas de estudantes, como houve antes da reforma, antes das vaias a um irascível governador. Sangue novo, risos, violões, atitudes rebeldes fazem parte da qualidade de vida de antigos bairros onde espíritos irrequietos e contestadores encontraram refúgio.
Que seria de Salamanca sem suas tunas ou de Coimbra sem suas estudantinas?
Que também fique aqui registrada minha sugestão aos governantes de atribuir, talvez na forma de prêmio, uns ateliês amplos e arejados a alunos recém-diplomados das Escolas de Música, Dança, Antropologia, Belas-Artes etc. Poderia ser sob forma de convênio para um mínimo de dois ou três anos, sem ônus para o contemplado, incluindo luz e água. Uma bolsa-artista. Por que não? Sairia muito mais barato que campanhas publicitárias na televisão e outdoors na Paralela.
Pequenos eventos com programação regular como feiras livres de produtos orgânicos no Terreiro de Jesus e no Largo de Santo Antônio, apresentações semanais de mamulengos e tantas outras formas de atrair e manter uma qualidade de vida diferenciada poderiam mudar os preconceitos da sociedade soteropolitana.
Precisamos reintegrar o Centro Histórico à cidade que dele nasceu. O que não se pode é imaginar que a abertura de um shopping no Santo Antônio ou shows de rock ou de pagode no Pelô solucionarão a previsível decadência do bairro.
Tombado pela Unesco no final do século XX, ou tombando pela falta de visão nos primórdios do século XXI?
*Dimitri Ganzelevitch – Presidente da Associação Cultural Viva Salvador
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