domingo, 3 de setembro de 2023

Um Metrotrem para a RMS e Reconcavo


Paulo Ormindo de Azevedo*

É louvável a decisão corajosa do governador de sepultar o natimorto monotrilho suburbano e restabelecer a ligação ferroviária de Salvador com a RMS, o estado e o país. Este é o momento de pensar a Bahia num projeto de estado, de longa duração. É preciso restaurar a CPE de Rômulo Almeida e utilizar o arsenal cognitivo da UFBA e da UNEB em benefício do estado, com o abandono do achismo bem intencionado e imediatista que vem travando a Bahia há meio século. A Bahia só voltará a crescer com planejamento.

Aquela decisão viária, que exige definições imediatas, deve começar por aderir ao novo padrão ferroviário brasileiro com bitola larga ou mista para trens modernos. Opção que implica na revisão dos raios de curvas e eletrificação da linha. A bitola de 1,435 m, ou standard, é a mais utilizada no mundo, nos metrôs e Veículos Leves sobre Trilhos. Isso permitirá a adoção de um novo conceito viário, o “metrotrem”, com a integração do VLT, do metrô e do trem de passageiros e carga num mesmo sistema. 

Com isso poderíamos levar o metrô até Feira de Santana e Itaparica pela contra costa. Nos trilhos do VLT do Subúrbio, que deverá terminar no Comércio, poderá rodar nas madrugadas trens de carga chegando até o Porto de Salvador, exigindo apenas um viaduto na Calçada. Projeto que deverá também eliminar o gargalo de Cachoeira. Essa ferro-rodovia se desviaria em S. Amaro para a península do Iguape cruzando o Paraguaçu com uma pequena ponte baixa à montante do Estaleiro da Enseada, em S. Roque, para seguir pelo leito da antiga E.F. de Nazaré e se articular com Ferrovia Centro Atlântica em Cruz das Almas. Isto reduziria de 290 km para 120 km, o acesso terrestre à ilha e ao sul. 

Qual a vantagem dessa ferro-rodovia envolvente da BTS? Integrar com um metrotrem Salvador a Feira de Santana e a Itaparica, atender com ferrovia os centros industriais do CIA, Mataripe e Enseada, o hub-porto de Salinas da Margarida e os 19 terminais marítimos da BTS e transformar a BTS numa espécie de Riviera Francesa com seu imenso potencial turístico, histórico, cultural e esportivo. 

O hub-porto de Salinas no Canal de Itaparica, no centro da costa do país, com 23 m de calado em águas abrigadas, poderá receber os gigantes porta-contêineres e graneleiros atuais, e ligado à FIOL se transformar no terminal da ferrovia transcontinental sonhada por Vasco Neto, agora com um novo traçado chegando ao Pacífico em Arica, no Chile, a 17º S, integrando as redes ferroviárias do Chile, Peru, Bolívia, Paraguai e do Planalto Central Brasileiro e trazendo a produção mineral e de grãos desses países e industrial do Oriente para a costa leste americana e a Europa através da BTS. 

Os chineses adorariam trocar a ponte de weekend por essa ferrovia transcontinental, que seria a redenção da Bahia. “Livre pensar é só pensar”, Millôr Fernandes. 

*Professor Titular da Escola de Arquitetura da UFBa

SSA: A Tarde, de 03/09/2023 

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