Nelson Motta*
Hoje a história é de amor, de cores vivas, de luz sensual e mar infinito, um caso de amor e alegria com uma terra e uma gente. Já amava a Bahia antes de conhecê-la, cheguei a ganhar um festival da canção com Dori Caymmi com a música “Saveiros” quando tinha 22 anos e nunca havia visto um saveiro na vida rsrs. Minha Bahia imaginária era dos livros de Jorge Amado e das músicas de Dorival Caymmi, e depois, das conversas com Caetano e Gil. Só a conheci, digo carnalmente, três anos depois, no carnaval de 1969, e era ainda melhor do que eu imaginava, os cheiros, os sabores, os sons, a alegria das ruas e das praias e a delícia do mar de águas frescas, isto não estava nos livros.
Em 1972, houve meu batismo na baianidade, guiado por Gil e sua mulher Drão, numa experiência fundamental de minha vida, com Mãe Menininha no terreiro do Gantois, que se tornou meu lar espiritual da vida até hoje. Muito forte. E profundo.
A Bahia sempre foi minha maior fonte de inspiração. Desde a série de 15 canções feitas com Dori Caymmi no nosso início profissional, em que tentava harmonizar a baianidade poética com a musical. Depois a Bahia imaginária se tornou real, mergulhei nela várias vezes, fora os carnavais, pesquisando para a biografia do jovem Glauber Rocha, que virou o livro “A primavera do dragão”. Depois, produzindo o show e o disco “Eletrodoméstico”, de Daniela Mercury, gravado ao vivo na Concha Acústica. A parte mais gostosa foram os ensaios, um mês em Salvador, entre a praia e o estúdio, mergulhando na música baiana e sua modernidade. E fiz um mestrado no mundo do carnaval e dos trios elétricos nas conversas com Daniela, que inspiraram o romance policial “O canto da sereia — Um noir baiano”, em que uma jovem estrela do axé é assassinada em pleno carnaval, que em 2013 virou minissérie na TV Globo, com Isis Valverde.
Agora Salvador me inspira e emociona de novo, pela sua Cidade da Música, em um velho-novo casarão de azulejos azuis, que conta a história da Bahia através da riqueza incomparável de sua música, desde os primeiros batuques até a explosão de diversidade afro-brasileira em uma fabulosa usina de ritmos e músicas e letras.
Com curadoria rigorosa e emocionada de Gringo Cardia e Antonio Risério, tudo está registrado em vídeos superbem editados e excelentes textos sobre as 33 regiões de Salvador e a música que originaram, que vai do candomblé e dos blocos afro ao reggae jamaicano, que foi logo incorporado à polifonia da cidade, ao rock and roll apimentado de Raul Seixas, Camisa de Vênus e Pitty, cada bairro teve sua contribuição documentada em vídeos, textos e depoimentos de alta qualidade.
Mas o ponto alto é o filme de 40 minutos, em tela grande, contando como Carlinhos Brown e a música transformaram radicalmente o Candeal, de um bairro carente de tudo, em uma pequena cidade da música, do trabalho, da alegria de viver, que mudou a vida de milhares de pessoas e deu uma decisiva e afirmativa contribuição à cultura da Bahia. Vale acompanhar o trabalho deles no Instagram (instagram.com/cidadedamusicadabahia) ou http://cidadedamusicadabahia.com.br “
*Nelson Cândido Motta Filho ORB é um jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical, teatrólogo e letrista brasileiro. É autor de mais de trezentas músicas, com diversos parceiros
Ele retratou a emoção que senti ao conhecer a Cidade da Música.
ResponderExcluirFico orgulhoso quando falam bem de minha terra. Sou um admirador incondicional do Nelson Mota desde o jovem que aparecia brilhantemente na Rede Tupi !!!
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