José Carlos Capinan*
Voltamos a querer entender o Brasil, justamente quando menos entendido ele parece poder ser. Eu sei que amo um Brasil que quase ninguém vê, por não existir talvez. Apenas o realizo quando sou surpreendido por acordes de Villa Lobos, imagens glauberianas, literatura seca de Graciliano. Então, amo um Brasil virtual, pensado pelos seus mais sonhadores artistas, existente apenas nas artes. Artes de ontem. As de hoje não são mais tensionadas pela utopia, Estão boiando nas ondas do mundo, tão dispersas quanto os parlamentos. E tão também incapazes de ser uma sociedade realmente nova, capitalista e popular, ninho de resultantes desmemoriadas, desarraigadas, nação quase reificada na alma e no coração. Estúpidas guerras, cultura desossada... universalizou-se o infanticídio e o vatapá de fubá transgênico. Como maltratam o povo e como o povo entra pra valer nas roubadas, porque não há tempo para conversa fiada, trelêlê de deputado, a maioria inepta para o cargo e esperta para o roubo.
Quanto tempo durará essa Merda? Não faço ideia. A degeneração é profunda e se propaga com uma força irresistível, corrompendo até o que já nasce corrompido. Profunda ausência de sonhadores, estão recolhidos no campo da estética. Quando se bota o pé fora desse território, pisa-se em lama. Em sangue. Em feridas. Em trapos. Em seringas contaminadas atiradas no lixo. E no sorriso dos banqueiros. Eu sou um lírico, que não usa colírio. Ser um lírico nesse açougue é correr o risco de atirar-se ao alvo do açougueiro, a capa salva vida vulnerável às balas de borracha e os gases servidos nas esquinas e praças onde jovens protestam pela falta de regras limpas nas relações políticas e econômicas.
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