Lourenço Mueller*
O arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969),
principal criador do "international style", é também famoso pelas
suas frases sempre repetidas por decoradores que nem conhecem o autor, como
"menos é mais" (em prol do minimalismo) ou "Deus está nos
detalhes" (em prol de muitas outras coisas...). Outro alemão, o Alz, pode
estar me pregando mais uma peça, entre as muitas que apronta, mas creio ser
também de Mies o axioma "os edifícios têm vida longa", num contexto
de ética profissional em que a estética, uma de suas obsessões, pode
comprometer para sempre a autoria de um projeto e seu ambiente físico. Se é
assim com simples prédios, imaginem o quanto isso pode significar em obras de
infraestrutura gigantescas que mudam para sempre toda a paisagem urbana, como
uma linha de metrô. A responsabilidade de sua autoria é incalculável, e não
apenas do ponto de vista plástico, mas do seu custo, exequibilidade, prazo e
funcionalidade.
Ao mesmo tempo, tais obras, como nas cidades do mundo que as
possuem, são enorme benefício para a população, sobretudo para aqueles que não
têm o seu transporte individual. Não tenho conhecimento de redes de metrô
demolidas, elas "têm vida longa", são definitivas. O que causa
espanto é por que se escondem da sociedade civil os seus critérios de
contratação, desde a origem das "manifestações de interesse" até a
implementação da obra nos seus canteiros já em operação em pontos da cidade.
A primeira interrogação é o próprio traçado: os projetos de
transporte de massa são feitos a partir de movimentos
"origem-destino" comprovadamente densos de passageiros, que
viabilizem suas tarifas. A Paralela, apesar de recentemente mais ocupada, não
as viabiliza. Mas como já se decidiu - o porquê será talvez um insondável
mistério - pelo traçado na Paralela (à primeira vista um "canteiro
central" vazio quando originalmente foi pensado como "parque
urbano"), a segunda questão passa a ser como serão projetados os
diferentes "modos" de circular (pedestres, ciclistas, ônibus, carro)
para chegar a cada estação: esta uma questão complicada porque as estações
devem facilitar, numa espécie de "acesso universal" (nomenclatura
técnica), todos os tipos de mobilidade nas conexões com os trens e - aí mais um
grande "pepino" - na transposição transversal desse conjunto,
religando as duas bandas da cidade já dividida pela pista dupla da Paralela.
Fala-se metaforicamente de duas cidades, uma do lado do mar,
rica, e outra pobre no interior do "miolo", debitando ao metrô essa
futura divisão, sem considerar que ela já existe, imposta pela própria
"avenida", o que a rigor não é, como não é tampouco uma rodovia, os
especialistas me entendem. As conexões podem ser uma saída.
Espera-se, todavia, que a imaginação de bons profissionais
envolvidos com essas complexidades saiba superá-las, mas seria bom que
prestassem um mínimo de esclarecimento a nós, cidadãos e pagantes, em última
instância, de todo esse mistério.
* Arquiteto e Urbanista
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