José de Freitas Mascarenhas*
O
IBGE publicou recentemente, dentro do Censo 2010, o tempo de percurso gasto
pelo brasileiro para ir de casa ao trabalho, naturalmente sensibilizado pelo
que vem-se tornando um dos principais martírios para os habitantes das
principais regiões metropolitanas do País: a mobilidade urbana.
O
resultado desta aferição conduz a constatação de algo que todos sentíamos e
suspeitávamos: Salvador, neste início de década já registra padrão de
deslocamento semelhante ao das maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de
Janeiro. Quem quiser comemore, pois afinal conseguimos uma posição de
liderança!
De
fato, um indicador tempo gasto para o trabalho na faixa de meia hora até mais
de 2 horas, Salvador tem 60,67% das pessoas ocupadas; Rio de Janeiro 61,02% e
São Paulo, 66,40%. Para termo de comparação, em Florianópolis, a melhor das
grandes cidades, o percentual da população que gasta este tempo é de 32,92%. Ou
seja, 60,67% da população trabalhadora de Salvador vêm despendendo até mais de
duas horas em seus deslocamentos para o trabalho, sendo que, destes, 19,46%
gastam entre uma e duas horas.
Se
considerarmos a densidade demográfica das áreas habitadas nas três regiões
metropolitanas primeiras colocadas neste ranking – Salvador com 6.796
habitantes por km²; Rio de Janeiro, 6.701 habitantes/km2 ; e São Paulo 7.888
habitantes /km² - , e também que a relação habitante por veículos é de 5,4 em
Salvador, 4,3 no Rio de Janeiro e 2,4 em São Paulo, conclui-se que a situação
na capital baiana é a mais séria, pios esta já enfrenta problemas de igual
gravidade aos das outras duas cidades, que tem maior população, extensão
territorial e números de veículos.
A
questão mais instigante, no entanto, não é bem essa. O mais grave é que o Rio
de Janeiro e São Paulo se movimentam em busca de soluções para reduzir os
efeitos do enorme problema que têm em mãos, resultante da falta de planejamento
na origem. São Paulo e Rio, esta inclusive usando as verbas para as Olimpíadas
de 2016, investem pesadamente em anéis rodoviários, metropolitanos e
ferroviários, metrôs, linhas de BRT, centros de controle de trânsito.
O
Rio inclui, entre suas estratégias, ações de porte em urbanismo, que preveem a
revitalização da zona portuária, e aquelas voltadas para a qualificação dos
sistemas de transportes, computando investimentos somente nestes, da ordem de
R$ 10 bilhões. Em São Paulo, as linhas do metrô serão ampliadas de 74,3 KM para
101,3 KM em 2014, quando terá construído o monotrilho, interligando o aeroporto
de Congonhas à estação Morumbi.
Enquanto
isso, Salvador timidamente contempla executar uma linha de metrô a ser iniciada
e um possível investimento em uma pista alternativa para o aeroporto chamada
Linha Viva, cujo financiamento, até onde se sabe, ainda não tem definição. São
obras que, quando concluídas certamente aliviarão alguma dor. Mas a partir de
quando e até quando? E o resto da cidade.
Como
tudo indica que a situação se agravará nos próximos anos e teremos novo
prefeito em breve, é provável que ele seja levado a adotar medidas mitigadoras
que, em última análise penalizam a população ou pelo menos parte substancial
dela, como introduzir a circulação de automóveis em dias alternados, ampliar
zonas azuis, pedágios ou outras eventuais.
Nada
absolutamente nada, terá solução correta sem uma visão de antecipação do
futuro, por meio de um planejamento geral que inclua toda a região
metropolitana, cuide do trânsito, sim, mais também da habitação e da
infraestrutura, bem como apresente soluções para as importantes áreas
degradadas de Salvador, o adensamento da cidade com o seu embelezamento e a
limpeza dos seus logradouros, com objetivo de melhorar a qualidade de vida dos
seus filhos.
Não
vejo como se possa sair desse imbróglio sem a liderança ostensiva do governo do
Estado.
*José de Freitas
Mascarenhas, Engenheiro, é Presidente do Sistema Federação das Indústrias do
Estado da Bahia – FIEB. Foi diretor da Odebrecht e Secretário de Minas e
Energia nos governos Antônio Carlos e Roberto Santos – 1972-1979.
Perdemos qualidade de vida e competitividade
ResponderExcluirSe os lideres investissem em planejamento e infra-estrutura para inicialmente remover os gargalos...
Mas nao há lideres e assim esta criadp o ciclo vicioso... De novo.