segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Malibu....Salvador...amores...

Ludmila Rohr*
Estive na Califórnia esses dias.. Especificamente em Malibu.....Fiquei diante do Pacífico pela primeira vez. Adoro o mar...não gosto de praia..Adoro o mar!
Sentir o cheiro do mar nas vésperas da minha viagem para Salvador, alimentou minha alma..
Esse é o cheiro da minha infância..cresci na Barra...no Porto da Barra...esse é o perfume da minha adolescência...pois a Barra, era o "point" da paquera nessa minha idade...
O cheiro do mar lembra todas as fases da minha vida...Meus filhos cresceram em frente ao mar de Salvador... Lembro do primeiro banho de mar de Caio...e de Lucas... Lembro com saudade dos castelos de areia que Judson fazia para eles...
Moro em frente a praia (em Salvador)...vejo o mar todos os dias, indo e vindo do trabalho.
Cresci amando ver o mar..cresci amando ver o pôr-do-Sol na Barra...amo ver a Lua nascendo sobre o mar de Itapuã quando voltava para casa...
Malibu é linda...tem o Oceano pacífico na sua frente..as pessoas vivem em função dessa beleza imensa. Lá senti minha alma sendo invadida pelo mar..pelo céu azul...Fui invadida sem nenhuma reverência. Aquela natureza simplesmente me arrebatou..me tomou...Ali, eu não precisava de mais nada...ficaria assim, ...vendo o mar...e lembrando de tantas coisas que vivi tendo o mar como testemunha.
Estou chegando em Salvador. Vou trabalhar..vou ver amigos...vou abraçar pessoas...vou ver meu filho (não aguento mais de saudades), minha família...Vou conhecer pessoas novas.. Vou ver o mar de Salvador...
Estou chegando em Salvador...mas sei que uma parte minha já pertence aos EUA..a Houston...agora sou assim...sou de muitos lugares..sou de muitas pessoas...meu coração expandido pertence a muita gente...pois as deixei entrar, sem reservas...simplesmente, deixei Houston entrar em mim...deixei os amigos novos entrarem no meu coração...não coloquei porteiro, não coloquei defesas ou reservas...Dei licença e as pessoas foram entrando..os lugares foram entrando......deixei todo mundo entrar...comumente faço isso..vou deixando o coração aberto e as pessoas e os lugares vão entrando..
...por isso, meu coração vai crescendo..expandindo e cabendo cada vez mais pessoas e lugares... Pertenço também a Houston agora, Malibu também ganhou um lugar em mim, assim como os lugares que já fui e amei.. Assim como a Índia e o Nepal..Veneza..Paris..NY...Itacaré...Capão....não conseguiria fazer uma lista dos lugares a qual eu já pertenço...
Bom...em Salvador, estarei muito tempo no Espaço Mahatma Gandhi.., uma das minhas casas mais queridas..Estarei lá...fácil de ser achada...apareçam..venham me ver...amarei conhecer voces...Amarei sentir meu coração sendo expandido ainda mais, para caber mais gente que amarei...e que se juntarão aos que já amo!
*Ludmila Rohr é psicóloga e professora de Yoga
P.S. Programação de trabalho em Salvador disponível no blog do Espaço Mahatama Gandhi - http://espacomahatmagandhi.blogspot.com

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Pobreza Cultural de Salvador

Gil Vicente Tavares*
Há um equívoco grave em relação ao que se pensa sobre a cultura, em Salvador.
Por conta desse pensamento comiserado de incensar os oprimidos – doença nefasta que é um dos grandes equívocos reforçados pela era Lula –, a exaltação da cultura própria, endógena, popular chegou a uma hiperbólica cegueira sobre a pobreza cultural que nos assola.
Todos os países intelectualmente espertos souberam dialogar com outras culturas, outros povos, outros modos de produção, criação e identidade, para se reinventarem. Há, ao redor do mundo, programas de intercâmbio, de residência e de estudos de outras culturas que fazem com que, dessa mistura, possam florescer novas formas de pensar, de agir e de criar.
Aqui, em Salvador, há esse pensamento equivocado de que somos uma cultura forte e rica. Mentira. Somos uma cultura fraca e pobre, justamente porque nos fechamos em nossa própria cultura, folclorizando e exaltando ela como algo maravilhoso, especial, diferente de tudo.
Por trás dessa baianidade, se esconde a opressão de nos caracterizarmos como pessoas que falam alto, cospem no chão, mijam na rua, são felizes em sua miséria, não estudam, não crescem. Há uma opressão em relação ao negro soteropolitano, pois legitimar a imagem do negro falastrão, esculhambado, folgado, malandro, ignorante e cheio de ginga é a pior forma de se lutar contra o preconceito e a segregação. Devíamos, sim, lutar para termos mais “miltons santos”, e não legitimar o que nos empobrece, indignifica e nos folcloriza.
Azelites baianas são as mais estúpidas que eu conheço. Poderíamos pensar que esse baiano raso, de cultura pobre, estaria nas camadas baixas, mas basta ver as atrações da “chopada de medicina” pra percebermos que nazelites o problema é bem pior. Onde se poderia ter um acesso diferenciado à educação privilegiada, livros, concertos, exposições, a coisa fica mais feia ainda, pois, ao menos, as pessoas menos favorecidas, financeiramente, de Salvador, trazem em si a pobreza cultural própria, autêntica e legítima.
Sinto muito, mas é pobre, sim. Uma população precisa ter acesso a todos os meios culturais para enriquecer sua cultura. Dizer que sambar, comer acarajé, ir pro candomblé e jogar capoeira é ter uma riqueza cultural é balela. É pouco. Como é pouco alguém que passa o dia ouvindo Mozart e nunca viu o Ilê Aiyê subir o Curuzu.
É natural que, num povo onde se exalta a mediocridade de se bastar com sua cultura endógena, a cultura seja rasa e as possibilidades exíguas. Com isso, não tem teatro, música, dança nem literatura que se sustente. E, o pior, começa-se a pensar que o “especial” povo de Salvador tem suas particularidades, num egocentrismo pateta que serve de desculpa à falta de educação e cultura de nossa população.
Enquanto os governos, as instâncias privadas e públicas responsáveis por diretrizes culturais, enquanto os pseudo-intelectuais que se valem de modismos pra serem publicados e incensados, enquanto esse pessoal todo continuar legitimando nossa pobreza cultural, não haverá como melhorar nossa miséria. Não poderemos pensar em uma economia da cultura, em um mercado de trabalho digno pro artista, onde ele não precise de emprego paralelo, nem tampouco depender 100% do estado, pra poder sobreviver e fazer sua arte.
Salvador tem um potencial imenso, pelos pensadores e artistas que tem, pelos recursos, pela inventividade, pra se tornar uma cidade do século XX. Desde a década de 50 que tentamos. Mas a persistência no amadorismo, no folclorismo e no medo de crescer que acomete as províncias, em geral, faz com que o século XXI seja um futuro inalcançável, por enquanto. Tornemo-nos modernos, por enquanto. Já é um começo.
Vamos parar de achar que Salvador é linda, que seu povo é lindo, que sua cultura é linda. Um bom começo é ensinar as pessoas a ver a poesia das coisas. Estamos petrificados frente à poesia do mundo.
E pra que se aguce a possibilidade de ler a poesia das coisas é preciso educação e cultura. Outra cultura. A cultura que não querem dar ao povo; seja porque acham lindo o povo ser do jeito que é, seja porque é mais difícil fazer uma revolução cultural sólida, ou seja, principalmente, porque um povo culto vai perceber melhor a merda em que está vivendo e os merdas que estão no comando.
*Gil Vicente Tavares – compositor, dramaturgo e diretor teatral

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Viva a praia livre


Antonio Risério*
Soube, aqui em Brasília, que finalmente cumpriram a determinação judicial para demolir as chamadas "barracas de praia". Parabéns. Baianos civilizados agradecem.
Aquelas construções, para fazer jus ao papelão que desempenhavam na orla marítima da cidade, deveriam ser chamadas mais propriamente de barracas antipraia. Porque interpondo-se entre o observador e as ondas, bloqueavam a visão do mar. Com sua profusão pavorosa de mesas e cadeiras, nos impediam de andar livremente pela praia. Com seu cacofonismo pseudomusical, perturbavam o ambiente e não deixavam a gente ouvir o som do mar. E porque caprichavam na poluição visual - sujando a visibilidade marinha, que se ofertava em tons de verde e azul, entre espumas brancas.
Quando eu era criança, morando na então tranquila rua Visconde de Itaboraí, no bairro de Amaralina, inexistiam barracas de praia. Elas começaram, a aparecer quando eu já entrava na adolescência, me mudando de um prédio ali pelo Jardim de Nazaré para a então também tranquila Airosa Galvão, vizinhança do Morro do Cristo, na Barra.
Mas é claro que a culpa não era das barracas. E sim de sucessivas administrações e dos moradores da cidade, ambos fortemente empenhados em avacalhar nossos sítios marinhos. Tudo na base do embalo da onda de grossura que foi tomando conta de Salvador.
Não faz muito tempo, o pintor e biólogo Ronan Rebouças Caires de Brito escreveu, em artigo publicado aqui mesmo nesse jornal: "Culpamos sempre as barracas... O problema não está aí, o problema está em nós, que concordamos em transformar as praias neste espaço privatizado de incalculável mau gosto e insalubre... O problema é comportamental". Mais: "O pior de tudo é que esta nossa ignorância foi acatada e até estimulada por todos os gestores públicos que por aqui passaram e nenhum deles teve a clareza para compreender a insensatez desta privatização agressiva e nem tampouco a coragem de barrar esse processo insidioso".
Já no tempo em que o desprefeito João Henrique cometeu a insanidade de permitir a implantação de uma favela barraqueira em Piatã, o economista e sociólogo Armando Almeida bateu no ponto certo: "Não é o número de barracas que está em questão. São elas". Para abrir o foco: "É preciso que tomemos uma posição definitiva quanto ao uso de nossa beira-mar". Armando estava mais do que certo. As barracas tinham de ser detonadas, proibidas de invadir predatoriamente a praia. Mas não só elas precisam ser demolidas.
Foi muito bom ver o Clube Português no chão, devidamente demolido. Mas ainda há outros mondrongos e monstrengos que desfiguram a orla e nos fecham a visão do litoral. Como a sede do Esporte Clube Bahia, na Boca do Rio. A igreja nova do Rio Vermelho, que pode muito bem ser construída em outro espaço. Os galpões do cais, no Comércio, que ganharia outra vida com a abertura para o mar. Os galpões entre o Solar do Unhão e o Comando Naval, abrigando coisas supostamente chiques. Os bares que obstruem a contemplação do mar, entre a sereia de Itapoã e o começo da pista para Stella Maris. E outros absurdos que atravancam o caminho do olhar..
Em suma, Salvador deveria promover um amplo e saudável bota-abaixo dessas porcarias visuais que enfeiam ao extremo a cidade. Como bem defendem meus queridos amigos Armando e Ronan, sempre se movendo em função da elevação da nossa qualidade de vida, a Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos precisa de um novo litoral. Temos de ser uma cidade inteiramente aberta para a linha do mar. Com vista limpa e desimpedida de nossas praias. Praias de areia e ondas, não de barracas e outros trambolhos. Praias onde possamos ficar, andar, nadar. Uma cidade, enfim, onde as pessoas tenham o direito de ver e viver o mar.
* Antropólogo e escritor.
Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde

domingo, 5 de setembro de 2010

25 Anos da eleição de Tancredo Neves- Um sonho não concretizado

Palestra do Embaixador Rubens Ricúpero, na ACB - Salvador, dia 25 de agosto de 2010
"...Mas nós não devemos nos iludir, aqui também falta muita coisa a fazer.
Falta em primeiro lugar, a Reforma Tributária. Um dos grandes fracassos destes 25 anos, é que nós não conseguimos equacionar a questão dos tributos no Brasil. Nós continuamos com um sistema absolutamente irracional. Então este é um problema fundamental.
Um segundo problema fundamental, é o Orçamento. O Brasil não tem um orçamento. Eu me lembro do meu espanto quando eu me tornei Ministro da Fazenda, no primeiro dia em que eu me sentei na minha mesa, veio o meu Chefe de Gabinete, e me disse: está aqui o Chefe do Tesouro, o Murilo Portugal, (que agora está no Fundo Monetário Internacional), e ele me trouxe a lista dos desembolsos para aprovar. Quanto dinheiro nós vamos liberar para cada Ministério? Mas eu argumentei: mas isto não está previsto no Orçamento? Ele então me disse: o Orçamento está contingenciado, quem o senhor achar que recebe, recebe, quem o senhor achar que não recebe, não recebe”.
O Srs. vejam o arbítrio, o poder fantástico do Ministro da Fazenda. Dependia de mim dar o dinheiro ou não ao Ministério da Cultura, por exemplo, ou a qualquer outro Ministério , a decisão era minha. Isto é um absurdo, que nenhum país moderno pode ter. Nós precisamos ter uma Lei Orçamentária bem elaborada, porque o Orçamento é em todo país civilizado, desde o caso da Inglaterra, por exemplo, ou dos Estados Unidos, a Lei Orçamentária é a peça mais discutida, porque ela é que contém tudo, o que vai se gastar, aonde e como, e em que ritmo. Isto nós não temos ainda, nós não podemos continuar no século XXI sem um orçamento.
Devemos aumentar a taxa de poupança no Brasil que é muito baixa, e não se pode aumentar desemfreadamente o consumo. Ao mesmo tempo, devemos aumentar a taxa de poupança e o investimento. A conseqüência disto é que nós estamos com um problema gravíssimo de infra-estrutura. Eu não sei se o senhores se dão conta, e isso é um dos aspectos mais graves é que em matéria de infra-estrutura. O Brasil investe 1/3 do que se investia em infra-estrutura no começo dos anos 70. O Brasil de 1970 e 1971 era um Brasil muito menor do que é hoje, tanto em população quanto em atividade econômica, no entanto, naquela época, o Brasil investia cerca de 5 a 6 % do PIB, em infra-estrutura. Hoje, somando tudo, inclusive os investimentos da empresas estatais não se chegam a 2% do PIB. Nós ainda investimos 1/3 do que investíamos há quarenta anos atrás. Veja o contraste com a China. A China está ao mesmo tempo construindo 27 sistemas de metrôs em 27 cidades. Eles duplicaram a rede de metrô, e três anos." ( continua)
* Nota do editor . Enquanto isso, no Brasil, o metrô de São Paulo só conseguiu atingir cerca de 60 km de externsão, após mais de 40 anos de inaugurado. Mais grave, o de Salvador, após 10 anos de obras iniciadas, e, tendo consumido mais de R$ 700 milhões, continua não operacional, e com perspectiva de funcionar em 2011 com menos de 7 km. Devemos investir mais em transporte público de qualidade. A questão da mobilidade urbana nos grande centros é gravíssima e prioritária em relação a outros investimentos de transporte já anunciados, como por exemplo o dispendioso e desnecessário Trem Bala.

sábado, 4 de setembro de 2010

Porto de Salvador: uma nova etapa

José Muniz Rebouças*
Com a ampliação da área denominada Ponta Norte do Porto de Salvador (Resolução nº 1.780, publicada no dia 6/8, no DOU), somada à construção da Via Expressa Baía de Todos-os-Santos e à realização da dragagem de aprofundamento para 15 metros, consolida-se um enorme avanço rumo à melhoria das condições de operação e da capacidade de movimentação de cargas da Bahia. Não bastasse isso, contemplando a estratégia de crescimento estabelecida pela Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) - que visou atender às necessidades de toda a comunidade portuária -, foram também autorizadas as seguintes medidas adicionais: realização de estudos para apurar a existência de desequilíbrio econômico-financeiro no contrato de arrendamento do terminal e seu eventual restabelecimento; assegurar alternativa para outros operadores portuários que se utilizam do berço público para movimentação de contêineres, cuja área e superestrutura serão repassadas ao arrendatário, uma vez comprovada a existência de demanda para tal situação; e realização de processo licitatório para a instalação de um segundo terminal de contêineres, em 36 meses.Dar-se-a de imediato a ampliação do Porto de Salvador, o mesmo ocorrendo com implementação de procedimentos para atender às demais medidas, pois a Autoridade Portuária entende serem de extrema importância e fazem parte de um plano mais amplo de expansão e modernização da atividade portuária, não podendo ser vistas de maneira estanque. A autorização para a ampliação retira um obstáculo e permite que as demais ações passem a fluir com maior rapidez. É que num espaço de 10 meses o terminal de contêiner estará apto a receber navios de grande porte e terá ampliada em 50% sua capacidade de movimentação de cargas. Ainda como medida adicional na parte relativa à movimentação de cargas, será lançado um programa para utilização poroutros operadores, das retroáreas atualmente ociosas, em caráter provisório, até que o segundo terminal esteja em condições de operação. incrementado pelas novas condições de acessibilidade marítima e terrestre que já se fazem uma realidade, graças ao apoio incondicional dos governos federal e estadual. Tais ações são etapas que guardam conexidade sucessiva no conjunto de um projeto mais amplo de ocupação e investimentos que, por lei, compete à iniciativa privada, haja vista se tratar de uma atividade econômica. Cabe ressaltar que, até hoje, nenhum interessado se apresentou oficialmente para propor a licitação de nova área para construção de um novo terminal, tampouco ofertando os estudos de viabilidade, na forma prevista no Decreto nº 6.620/2008.
A Administração Portuária está fazendo sua parte assegurando obras e investimentos de competência do setor público, deixando o porto em condições de ser explorado economicamente, por aqueles que de fato demonstrem interesse em nele investir. Outrossim, descortina-se a construção de um terminal de passageiros de última geração, cujos recursos federais já estão alocados, que faz parte do projeto de integração porto-cidade, que contará com a destinação de uma área para revitalização do bairro do Comércio, a ser integrada ao seu Centro Histórico.
Cumpre ressaltar, no entanto, que tais ações não estão desapegadas de outras que estão sendo gestadas na unidade portuária de Aratu, que junto com a de Salvador formam o Complexo Portuário Baía de Todos os-Santos, as quais serão oportunamente apresentadas. Isto sem perder de vista o Porto de Ilhéus, em relação ao qual a Autoridade Portuária tem se debruçado numa nova configuração para a utilização de seu potencial portuário harmonizada com as características locais e regionais daquela hinterlândia, oquerecolocaráosportospúblicos da Bahia na rota do crescimento com sustentabilidade.
A Resolução nº 1.780, da Antaq, é um justo tributo à Bahia,que de há muito merecia esse reforço para amplificar a produção, tornando a mais atrativa e segura para novos investimentos, bem assim para garantir a geração de emprego e renda.
* Presidente da Companhia Docas do Estado da Bahia - CODEBA
Fonte: Jornal A Tarde - 01/09/2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Patrimônio e lutos urbanos

Claudio Carvalho*
Agosto de 2010 ficará registrado na memória dos moradores da Cidade da Bahia como um mês de desgosto. Duas intervenções urbanas causaram comoção entre os soteropolitanos, deixando um gosto amargo de tristeza e nostalgia. A derrubada das barracas de praia provocou sentimentos de repúdio na população ante a extinção de milhares de postos de trabalho e da brusca alteração na trajetória de vida de muitas pessoas; mudou a paisagem de toda a orla e lançou o desafio de reinventar a praia como espaço cultural dos baianos.(foto:Nilton Souza)
Já a demolição da Fonte Nova, palco de espetáculos de futebol baiano nos seus 59 anos de existência, entristeceu freqüentadores de várias gerações.
Na noite do último sábado, percorri a orla atlântica de Salvador. Pude ver o mar quebrando na areia e fui tomado por um sentimento inquietante: o vazio deixado pelas barracas desertava em mim, por um instante, a sensação da passagem do tempo e da transitoriedade da vida. Resolvi fazer o percurso de volta para casa passando pela Fonte Nova para olhar pela ultima vez o estádio horas antes da demolição. Ao chegar a casa, abri o site de A Tarde e li comovido os depoimentos de vários torcedores sobre suas experiências neste patrimônio da cidade. Muitos deles evocavam a lembrança de ser conduzidos pela mão do pai na paixão pelo futebol. A identificação foi imediata.
No domingo, não tive coragem de assistir in loco à demolição e escutei o mesmo de vários amigos. Diante das imagens do estádio indo ao chão na TV, a palavra patrimônio revelou-se em seu duplo sentido de bem cultural reconhecido pelos habitantes do lugar e como herança paterna.
A interseção entre a história da cidade e a minha história pessoal provocou instantâneos da memória de quando, sentado nos ombros de meu pai, ouvia excitado o burburinho da torcida nas arquibancadas e compartilhava a fanfarronice do universo masculino com seus amigos. Muitos já se foram. Sensibilizado, peguei e liguei para ele com o pretexto de comentar sobre a vice-liderança do Bahia na série B.

Começava ali o meu luto urbano e o tempo de reinventar a relação com o pai.
* Psicanalista, professor de história e filosofia
E-mail: ccarvalho19_23@hotmail.com

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A implosão da Fonte Nova

Almir Santos*
Um assunto que não me emocionou, pelo contrário.
Assisti a sua primeira inauguração em 28 de janeiro de 1951 num o torneio que reuniu todas as sete equipes que disputavam a categoria de profissionais do campeonato baiano. Para minha felicidade o primeiro gol foi de Antônio, ponta esquerda do meu time, o Botafogo, num jogo contra o Guarany.
Vi a sua reinauguração em 5 de março de 1971, com o jogo Bahia x Flamengo com o primeiro gol de Zé Eduardo do Bahia.
Agora vejo essa história, o palco de grandes espetáculos, um cartão postal de Salvador, ser arrasado.
Quanto custou essa implosão?
Por que a implosão para ser construída uma arena com menor capacidade?
Como Salvador pode abrir a Copa se a capacidade mínima exigida pela FIFA para a abertura é de 65 mil espectadores?
Quanto custaria a recuperação de sua estrutura?
Por que não a construção de um novo estádio e recuperação da Fonte Nova?
Teríamos mais um estádio em Salvador. Sobre o assunto pronunciaram-se dois arquitetos, Heliodoro Sampaio e Nivaldo Andrade com muita propriedade. Na Copa da África do Sul foram recuperados estádios centenários.
Copiar Wembley (o centenário estádio londrino que abrigou a Copa de 1966, implodido recentemente para dar lugar a uma moderna arena multiuso) foi uma solução de impacto para fazer Salvador ganhar notoriedade na mídia internacional.
Como disse Antônio de Almeida Matos no seu livro Vida e Crescimento das Cidades, “não se destroem riquezas edificadas”.
* Almir Ferreira Santos, Engenheiro e Consultor de Logística e Transportes mora em Salvador a mais de 75 anos.

Palestra do Embaixador Rubens Ricupero na ACB - Salvador

No dia 25 de agosto, o Embaixador Rubens Ricupero esteve em Salvador para o lançamento do livro " Diário de Bordo - A Viagem Presidencial de Tancredo" , uma homenagem póstuma ao presidente que possibilitou a implantação da "Nova República".
Segue com exclusividade, o primeiro trecho da palestra, gravada e transcrita por Osvaldo Campos Magalhães, editor deste blog.
Palestra do Embaixador Rubens Ricupero na ACB – Salvador - 25 anos da Nova República - Avaliação e desafios - 1ª Parte:
"Senhores, caso tivesse tomado posse no cargo de Presidente da República, as principais preocupações do presidente eleito Tancredo Neves seriam:
Que não houvesse mais aquele espectro permanente do perigo da intervenção das forças armadas como nós tínhamos conhecido ao longo de praticamente cem anos de história.
Este era o primeiro desafio.
O segundo desafio era o da inflação.
O Dr. Tancredo tinha uma noção muito clara do perigo que essa inflação acelerada representava para o futuro daquela transição, que era o problema número um, como conciliar a luta contra a inflação com o atendimento das expectativas de melhoria que toda a população tinha, depois de 21 anos de espera.
E o terceiro problema, era o da crise da dívida externa, que naquele momento estava no seu auge. Os senhores se lembram que a dívida externa começa a explodir em outubro de 1982. Entre os anos de 84 e 85, não estávamos conseguindo sair daquela crise, tanto que depois houve a moratória.
Então, eram estes três problemas que dominavam as preocupações de Dr. Tancredo, e, em todos eles eu acredito que ele teria conduzido de uma forma muito melhor do que a que nós tivemos.
Com a morte de Tancredo acabei ficando como sub-chefe da Casa Civil e depois como assessor especial do presidente José Sarney, pelo qual eu tenho o mais profundo respeito e admiração.
Acho que o Dr. Sarney representou um papel crítico numa hora muito difícil. Mas, não é nenhum desdouro para o Dr. Sarney reconhecer que não tinha sobre o partido do governo, o PMDB, a mesma força que tinha o Dr. Tancredo Neves. Os senhores se lembram que o Dr. Sarney tinha vindo do outro partido. Ele tinha ingressado no PMDB apenas devido à crise da sucessão em 1984. Ele não tinha sobretudo junto a Ulisses Guimarães a força que tinha Tancredo Neves.
Tancredo Neves comandava no país todo, com respeito, com uma autoridade incontestável, e se ele tivesse comandado o processo da eleição para a Constituinte, e a elaboração da Constituição, eu não sei como seria a Constituição , mas tenho certeza que teria sido um processo melhor do que o que nós tivemos. Eu cheguei a assistir o Dr. Tancredo, ao ser condecorado na Embaixada da França com a Legião de Honra, ele declarar o seguinte,:” Quero fazer uma Constituição de acordo com o conselho de Napoleão, eu quero que seja uma Constituição breve e vaga. E nossa Constituição foi longa e absolutamente pormenorizada. Foi o contrário do que ele anunciou.
Eu ainda pretendo publicar alguma coisa, pois eu tenho o “diário secreto” das decisões que levaram a moratória, pois indiretamente, eu fui o responsável por dar ao presidente Sarney a informação que desencadeou a decisão dele.
Fui eu quem deu a ele a informação, pois estava entre as minhas atribuições de assessor. As nossas reservas estavam abaixo de U$3,5 bilhões. O que eu não sabia, é que ele tinha combinado com o Ministro da Fazenda, que quando as reservas caíssem abaixo de U$ 3,5 bilhões, o Brasil suspenderia o pagamento. Se eu tivesse sabido, provavelmente eu não teria contado, mas este era o meu dever. Meus assessores me traziam os dados e eu repassava ao presidente. Lembro que ele duvidou da informação, me disse “não pode ser verdade”. No começo ele recebeu a notícia com incredulidade.
Mas enfim, eu acredito que se nós tivéssemos uma outra circunstância , sem a doença do Tancredo, nada disso tivesse ocorrido. E acho que como conseqüência disso, o final da presidência Sarney, não teria sido o que foi. Eu duvido muito por exemplo que tivesse ocorrido a eleição de Fernando Collor, como ocorreu, se o Tancredo tivesse sido o presidente pleno.
Mas isto tudo são exercícios da história do que pudesse ter sido, e o que não foi.
A Constituição de 1988 teve um grande defeito, ela não tocou naquilo que é fundamenta, no sistema eleitoral, no sistema partidário, no funcionamento das instituições públicas sobretudo do Congresso Nacional. E nós estamos assistindo, uma situação hoje em dia no Brasil, em que o Congresso funciona razoavelmente, consegue aprovar as leis, mais a um custo muito alto, todo mundo sabe a que custo, o que custa o financiamento das campanhas, a corrupção a que isto conduz, e como esta corrupção que se institucionaliza, pode levar ao descrédito das instituições.
Eu acho que é muito importante, não termos nunca uma atitude de indulgência e tolerância com a corrupção. Há muita gente que condena o combate à corrupção como moralismo, evocando aqueles anos da campanha do Lacerda, da UDN, mas as pessoas que pensam assim se esquecem, que a essência da Democracia é a Confiança.
É a confiança dos cidadãos entre si, e a consciência dos cidadãos nas Instituições.
E a corrupção é com certeza, a maneira mais segura de destruir esta confiança. Cedo ou tarde, a corrupção conduz ao descrédito das instituições. Nós temos uma história que prova isto.
Ontem foi o dia em que rememora o suicídio do presidente Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954, que foi um episódio a que o presidente foi levado por causa deste problema (corrupção), e nós não podemos nos esquecer como foi que terminou a presidência do Fernando Collor, que provocou um abalo muito grande nas instituições. Eu creio que nenhum brasileiro deseja que no futuro isto se repita.
Então nós precisamos completar este trabalho que falta, que é a reforma do sistema eleitoral, dos partidos e a reforma do Poder Judiciário, que é um poder, que todos nós sabemos, que tem defeitos muito graves, em termos de lentidão, e dificuldades em resolver problemas básicos.
No segundo problema, que é este da economia, eu creio, já mencionei aqui, que o esforço de se vencer a inflação, finalmente teve êxito no Brasil, a partir do Plano Real.
Não é uma obra de uma só pessoa, é uma obra de vários presidentes, Itamar Franco teve um grande mérito, Fernando Henrique teve um grande mérito, o atual governo teve também o mérito de no essencial manter estas peças fundamentais para a estabilidade, apesar do Partido do Presidente Lula, sempre ter sido contrário, tanto ao Plano real quanto à Lei de Responsabilidade Fiscal, o PROER, etc.
O Partido dos Trabalhadores teve a sabedoria de uma vez no poder manter estas instituições, de consolidar e depois até de ampliar com uma economia voltada ao consumo, com transferência de renda para suavizar a pobreza a desigualdade , isto sem dúvida tem provocado este surto de desenvolvimento. Mas nós não devemos nos iludir, aqui também falta muita coisa a fazer." (continua na próxima semana)