quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Há 122 anos a primeira rua do Brasil, preserva a memória e revitaliza o centro de Salvador


Alan Alves*
Há exatos 115 anos, a primeira rua a ser fundada no Brasil, na cidade de Salvador, era batizada de "Rua Chile". Porta de entrada para o Centro Histórico da capital baiana, a via de cerca de 400 metros ficou marcada na história como palco do comércio elitista até meados da década de 70 do século passado. Hoje, após o processo de descentralização da área comercial da cidade e a decadência da região, a iniciativa privada e o poder público tentam resgatar o espaço como atrativo turístico e até mesmo reacender o glamour dos tempos áureos.

Um dos símbolos da rua, o Palace Hotel, inspirado no Flatiron Building de Nova York, foi reaberto há três meses após ser totalmente reformulado. Foi um dos cenários do romance "Dona Flor e Seus Dois Maridos", obra do escritor Jorge Amado. Era no luxuoso hotel que Vadinho, o primeiro marido de Dona Flor, costumava passar as noites jogando no cassino que funciou no local até 1946 - o espaço foi fechado após a proibição dos jogos de azar no Brasil.

Era no Palace, empreendimento que ocupa um quarteirão inteiro e que divide a Rua Chile com as ruas do Tesouro e a da Ajuda, que "as senhoras da Graça e da Barra exibiam os últimos modelos e algumas delas, as mais evoluídas, num requinte de desenvoltura, arriscavam fichas na roleta", como escreveu Jorge Amado. A ficção retrata o que foi a realidade.

Rua Chile, em Salvador — Foto: Alan Tiago Alves/G1
Rua Chile, em Salvador — Foto: Alan Tiago Alves/G1 
Antes de ser batizada de Chile, a rua onde fica o Palace já teve outros oito nomes. Virou, recentemente, protagonista do quinto livro escrito pela jornalista Gabriela Rossi. Na obra, intitulada "Rua Chile: honra e glória do comércio baiano", lançada no dia 28 de junho como parte das comemorações pelos 70 anos da Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-BA), a escritora conta a história do local, desde a sua origem em 1549, mesma data de fundação da capital da Bahia, até a tentativa hoje de revitalização do local. Do início do levantamento de informações até a publicação do livro, foram oito meses. A escritora se baseou em informações que colheu em jornais antigos, teses de mestrado e doutorado. Diz que o que mais a chamou a sua atenção durante o trabalho foi a prosperidade que a Bahia viveu no auge da Rua Chile. "A Bahia de outrora tinha um charme e um comércio próspero. Os costumes da época, o passeio de bonde, a cultura do estar na rua ao ar livre, diferente de hoje, que vivemos a cultura do shopping center. A rua, debruçada para a Baía de Todos-os-Santos, era símbolo da efervescência política e cultural", destacou.
Dos tempos áureos ao 'esvaziamento
'A professora de história da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Neivalda Freitas de Oliveira, que pesquisou a história da Rua Chile para o seu doutorado, diz que o traçado da rua que depois seria chamada pelo nome de Chile já estava desenhado na planta de fundação da cidade. A planta já estava pronta antes mesmo de os portugueses desembarcarem no Brasil. Segundo Neivalda, os portugueses já tinham plantas de como eles queriam que as cidades fossem e, ao chegarem em novas terras, eles aplicavam essas plantas. "Aportaram no Porto da Barra, mas acreditavam que ali era muito vulnerável ao ataque de inimigos. Escolheram, então, a parte alta da cidade, onde tinham uma visão panorâmica. Ali fundaram a cidade e foi ali onde nasceu a primeira rua, primeiro núcleo urbano", destaca. O primeiro nome da via foi Rua Direita de Santa Luzia. Essa e as demais nomenclaturas que a rua teve sempre se basearam em acontecimentos políticos ou econômicos da época, como lembra Gabriela Rossi. "O primeiro nome foi dado porque a cidade era murada e tinha duas portas, sendo uma delas a porta de Santa Luzia. Como ficava próximo, a rua ganhou esse nome. Conforme a cidade foi crescendo, ali virou o centro do governo, centro político do Brasil colonial. E o comércio foi se desenvolvendo no local, com a instalação de hotéis, lanchonetes, sorveteria, farmácia e lojas com muitos produtos importados. Com isso, a rua ganhou seu segundo nome: Rua Direita dos Mercadores, pela vocação comercial. Depois, na época do Império, também ganhou o nome de Rua Direita do Palácio, porque ali ficava a sede do governo", destaca a escritora.
Rua Chile, em Salvador, foi a primeira rua do Brasil — Foto: Reprodução/TV Bahia
Rua Chile, em Salvador, foi a primeira rua do Brasil — Foto: Reprodução/TV Bahia 
O nome de Rua Chile, conforme a historiadora Neivalda Freitas, veio somente em julho de 1902, uma homenagem do governo baiano a membros da esquadra chilena que estavam de passagem pelo Brasil por conta da morte de embaixadores do país após uma epidemia de peste bubônica. "O Rio de Janeiro era conhecido na época como o "cemitério dos estrangeiros", por conta das muitas epidemias. A embaixada chilena foi dizimada, e a esquadra do país, que estava participando da coroação do rei, passa no Brasil para buscar os caixões dos conterrâneos", conta. 

A escritora Gabriela Rossi diz que foi em função desse acontecimento trágico que a Câmara sancionou uma lei de reparação perante o Chile. A historiadora Neivalda Freitas, por sua vez, afirma que foi também uma forma encontrada pela Bahia para "se aparecer". "A Bahia, na época, não tinha tanta importância política e econômica e a recepção aos chilenos com festa foi também uma forma de se colocar como um lugar de destaque, de aparecer politicamente diante de um país que tinha a melhor esquadra, que foi o primeiro da América Latina a se urbanizar, que fazia os melhores negócios e que era o mais organizado politicamente. Foi mais de uma semana de festa", diz.

Em 1912, na época do governo de José Joaquim Seabra, 10 anos depois de ganhar o nome de Chile, a rua passou por uma reforma. Foi feito alargamento da rua e ela foi estendida até a Praça Castro Alves. Para isso, houve derrubada de prédios e até de uma igreja.


Rua Chile, em Salvador, foi fundada em 1549 — Foto: Reprodução/TV Bahia 

"Sempre foi uma rua de experimentos urbanos. Foi lá que teve a primeira linha de bonde, a primeira escada rolante, os primeiros postes de iluminação a gás, o primeiro hotel, que foi o Hotel Chile. Por isso, sempre atraiu a atividade comercial. Era um lugar do comércio de produtos mais finos, e não de produtos populares. Quem queria algo mais popular tinha que ir para a Baixa dos Sapateiros", destaca Neivalda.


No auge do comércio, a rua ditava moda, como lembra também a escritora Gabriela Rossi. A partir do final dos anos 70, no entanto, a rua foi perdendo força, sobretudo com a expansão urbana e migração do comércio mais para a região norte da cidade. "O comércio começou a ganhar força na região do Iguatemi, após a construção do shopping, e para a Avenida Tancredo Neves, que virou um novo corredor de lojas. Além disso, o governo foi transferido para o CAB [Centro Administrativo da Bahia]. Houve, assim, um esvaziamento e declínio da Rua Chile, já que a vida comercial da cidade caminhou para o outro lado", diz a escritora.

* Jornalista

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Viena ou Budapest?

Viena e Budapeste oferecem experiências únicas e atraentes, mas qual você deve escolher para visitar pela primeira vez? Reconhecemos a dificuldade em tomar esta decisão. Embora haja informações abundantes disponíveis sobre ambos os destinos, muitas vezes é difícil encontrar orientações claras sobre qual cidade se alinha melhor com suas preferências de viagem. Este artigo tem como objetivo fornecer uma comparação imparcial entre Budapeste e Viena e, esperamos, ajudá-lo a escolher a melhor cidade para visitar.

Visitas de três dias são suficientes para conhecer os principais pontos turísticos imperdíveis de Budapeste. Esta é uma capital compacta com boas ligações de metro e bondes. Você pode atravessar a cidade facilmente - ir do Castelo de Buda, de um lado da cidade, até os Banhos Termais Széchenyi, do outro, leva menos de uma hora em transporte público.

Dito isto, Budapeste tem muitos segredos escondidos na manga. Você poderia facilmente passar uma semana inteira aproveitando happy hours baratos nos bares em ruínas, tomando banho nos spas Art Déco e visitando ilhas no Danúbio. Se vier no verão, você também pode estender a estadia para incluir as galerias de arte e ruas de paralelepípedos de Szentendre, as águas ricas em minerais do Lago Balaton e a rústica região vinícola de Tokaj, a leste. Viena é grande e repleta de paisagens. Os aficionados por história e amantes da cultura vão querer pelo menos três ou quatro dias para conferir as atrações da lista de desejos. Isso porque os principais palácios e os museus mais envolventes merecem, cada um, pelo menos meio dia para si. Você também precisará de algum tempo para passear pela área da Cidade Velha e conhecer os famosos cafés vienenses.
Se você está ansioso para explorar todas as facetas de Viena, certamente precisará de muito mais tempo do que apenas uma pausa média na cidade. Semanas inteiras podem ser passadas aproveitando as praças movimentadas e os parques repletos de estátuas. Além do mais, há muitos passeios de um dia na região, que vão desde as florestas de pinheiros de Wienerwald até o sopé ascendente dos Alpes de Salzburgo.
Viena no verão é atraente. Quando o sol brilha, os parques e bares da cidade ganham vida. O melhor clima geralmente é entre junho e agosto, mas cuidado, pois as coisas podem ficar quentes e úmidas, com temperaturas acima de 30 graus Celsius. A boa notícia é que existem algumas praias e locais para nadar ao longo do Danúbio para se refrescar. Se você preferir coisas um pouco mais amenas, maio e setembro também costumam ser secos e quentes.
Por outro lado, Viena no inverno é um verdadeiro país das maravilhas. A capital austríaca acolhe alguns dos mercados de Natal mais encantadores da Europa. Você encontrará aqueles que preparam chocolates quentes e vinho quente na Rathausplatz e nos terrenos do Schloss Schönbrunn. Eles entram em pleno andamento em dezembro, quando é comum receber poeira de neve e temperaturas abaixo de zero – serão necessárias botas e casacos de lã.
O final da primavera e o início do outono são quando os moradores costumam dizer que Budapeste está no seu melhor. As temperaturas médias ficam em torno de 23-25 ​​graus em maio e setembro. Também não há sobrecarga de chuva. E é perfeito para evitar as multidões de turistas no meio do verão que acontecem durante os feriados europeus. Também há algo a ser dito sobre visitar Budapeste no meio do inverno. Mercúrio despenca entre novembro e março, e não é incomum ver o Danúbio congelar com enormes pedaços de gelo. Além do mais, os cortiços e ruas laterais do Bairro Judeu e as áreas históricas do centro da cidade exalam atmosfera em dias frios e com neve. Apenas certifique-se de levar as térmicas!
Budapeste, com a sua rica cultura histórica, perfeitamente interligada com uma vida noturna energética, estabeleceu-a como um destino de eleição para uma gama diversificada de viajantes. 

Os mochileiros gravitam em torno dos exclusivos bares em ruínas do Bairro Judeu, onde podem deliciar-se com cervejas húngaras excepcionalmente acessíveis em meio a pátios ecléticos.
Enquanto isso, aqueles com foco cultural podem optar por mergulhar na história do império húngaro no Castelo de Buda ou prestar homenagem no comovente museu Casa do Terror, que investiga a era opressiva da Stasi. No entanto, se a sua preferência for por praias ensolaradas, Budapeste pode não parecer a opção perfeita. Situados numa região sem litoral, tanto a cidade como o país são desprovidos de litoral. Além disso, embora existam parques, eles estão predominantemente localizados na periferia da cidade, tornando Budapeste uma experiência predominantemente urbana.
Repleta de belos palácios, cervejarias austríacas, florestas alpinas, cafés descolados, galerias repletas de arte e uma vida noturna agitada, Viena satisfaz todos os tipos de viajantes. Você pode facilmente preencher viagens inteiras apenas nos museus. 

Os dias podem ser passados ​​​​passando entre cafeterias. As noites podem ser passadas em espetáculos de ópera ou bebendo cervejas espumosas em bares modernos. Não pense que Viena é o grande ar livre austríaco. Este pode ser o país dos Alpes, mas as montanhas ainda ficam a pelo menos uma hora de viagem de trem a oeste. Além do mais, não há praia à vista. O melhor que a Europa Central, sem litoral, pode oferecer em termos de areia e água são algumas áreas artificiais para natação ao longo do rio Danúbio.
Viena foi eleita por “The Economist” a cidade com melhor qualidade de vida ​​do mundo, à frente de Zurich e Copenhagen. Está também entre as mais seguras e com maior diversidade de atrações culturais. Claro, você precisará ser esperto como se estivesse viajando para qualquer lugar. Furtos de carteira, guias turísticos falsos e golpes de táxi ocorrem, embora não sejam comuns como em outras capitais europeias.
Locomover-se deve ser fácil na capital austríaca. O U-Bahn é ridiculamente eficiente. Ele se conecta com linhas ferroviárias e bondes acima do solo em uma rede de bilhete único para tornar a viagem de A a B um prazer, não uma tarefa árdua.
As tarifas de viagem única custam € 2,40, enquanto um cartão de viagem de 48 horas custa € 14,10. Não fique tentado a andar de metrô sem comprar as passagens. Isso é possível porque as plataformas não são fechadas, mas há verificações regulares e multas pesadas correspondentes.
Em termos de preço, Budapeste está certamente entre as capitais europeias mais baratas. Uma cerveja grande pode custar apenas 500 HUF (1,50 euros). A comida em um restaurante de médio porte custará entre 2.000 HUF e 3.000 HUF (6-9 euros). As noites em hotéis também são visivelmente menores do que na vizinha Viena. 

Ponto negativo para Budapest são as estações ferroviárias. Sujas, mal sinalizadas e sem estrutura de apoio aos turistas. Já em Viena, são majestosas, limpas e organizadas. Inaugurada em 2015, Viena Hauptbahnhof foi eleita pelos e usuários europeus
 como a segunda melhor estação ferroviária do continente.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Cemitério e o “Carrossel Baiano”.


Manuel Ribeiro*

Confesso que ontem o desempenho do Bahia irritou-me. Nos anos 70 do século passado o técnico da Holanda Rinus Michels inventou o "carrossel holandês". Carrossel porque os jogadores se movimentavam dentro de campo sem qualquer posição fixa. Ou seja, os jogadores se movimentavam, giravam no campo, mas a bola com rapidez era finalizada para o gol adversário. O treinador Rogério Ceni, talvez inspirado na Holanda, inventou o "carrossel baiano". Nele quem gira a bola e não o jogador. O objetivo da bola é de ir, de pé em pé, do goleiro ao centroavante e do centroavante ao goleiro passando pelo maior número possível de jogadores até ser, como é óbvio, tomada pelo adversário. O objetivo, creio, não é o gol adversário é o passe para o companheiro de time e levar o maior tempo possível com a posse da bola. Talvez o técnico Ceni (ou o Citi) esteja querendo que o Bahia entre para o Guinness com o recorde de posse de bola em partida e nos campeonatos. Só assim consigo entender porque o goleiro do Bahia foi um dos jogadores que mais recebeu passe e distribuiu passe. Um autêntico volante ou líbero. A bola com o Bahia na área do Flamengo acabava indo parar nas mãos, desculpem-me, nos pés do excelente goleiro do Bahia para reiniciar o movimento do "carrossel baiano". Ceni foi goleiro recordista em fazer gols no adversário, agora pretende ser o técnico recordista em posse de bola. Sem gols, claro.

Minhas escusas ao Ceni e ao Citi, sou velho e do tempo em que futebol era bola da rede...

*Advogado

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Infraestrutura e Educação prejudicando a Economia da Bahia

 

Osvaldo Campos Magalhães *

Enquanto alguns Estados do Nordeste seguem investindo na melhoria do ensino público e na infraestrutura de transportes, a Bahia depois de 17 anos seguidos do mesmo grupo político, vai ficando para trás.

A Bahia tem sérias deficiências estruturais, destacando-se a Educação a infraestrutura de transportes e a Segurança Publica. A deficiência nesses setores acaba prejudicando toda economia, afastando investimentos industriais,  investimentos no setor de turismo e setores de alta tecnologia. 

Uma das maiores empresas do Estado da Bahia , a Brasken, acaba de inaugurar um grande centro tecnológico e de pesquisas no Estado de  Massachusetts onde se concentram algumas das melhores universidades do mundo. 

Enquanto os estados do Ceará e Pernambuco vem priorizando a Educação e a Infraestrutura,  a Bahia vem investindo em projetos equivocados como o Porto Sul e Ponte Salvador - Itaparica. Perdemos nossa malha ferroviária de 1.530 kms, por omissão de nossa classe política e empresarial. A hidrovia do Rio São Francisco, outrora conhecida como “Rio da Integração Nacional” encontra-se abandonada. Nosso mais importante corredor rodoviário, ligando Salvador a Feira de Santana e dali a Cândido Sales foi desastrosamente concessionado à iniciativa privada, sob a coordenação da Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, pelo critério da Tarifa Mínima de Pedágio e baixos investimentos, que afugentaram todas as grandes empreiteiras e entregou esse corredor vital para nossa economia à inexperiente ISOLUX, sem nenhuma tradição no setor rodoviário. Toda a BR 101 foi duplicada nos estados do Nordeste e não avançou na Bahia. Os governos dos estados de Pernambuco e Ceará construíram modernos terminais portuários, operados pela iniciativa privada, capazes de receberem os maiores navios do mundo. Com força política conseguiram viabilizar a transposição das águas do rio São Francisco, obra que não beneficiou o semiárido da Bahia.

O ensino público na Bahia figura entre os 3 piores do Brasil e a taxa de analfabetismo está entre as maiores. Enquanto isso, o Ceará avança quando o assunto é a oferta de uma educação de qualidade. O Estado apresenta o melhor resultado do Brasil, ao lado de São Paulo, no Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ipen), 2023, com nota 5,5. Já Pernambuco possui a maior rede de ensino integral do país no Ensino Médio. Atualmente, são 438 escolas que ofertam esta modalidade, totalizando 62% das matriculas de estudantes que acessaram o Ensino Médio. O índice supera a meta do Plano Nacional de Educação, prevista para o ano de 2024.

 Não podemos continuar com ufanismo. A nossa situação é grave. Por incompetência e falta de planejamento estratégico.

*Engenheiro Civil e Mestre em Administração. Especialista em Planejamento da Infraestrutura de Logística e de Transportes.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Mercados Gastronômicos na Europa

 Se é verdade que uma viagem perfeita também inclui comida, também é verdade que o melhor local para a saborear é em um mercado gastronômico! Com centenas de estandes e produtos frescos, hoje os mercados de toda a Europa estão cada vez mais populares, tornando-se uma atração imperdível. É aqui que nascem as novas tendências, enquanto se preservam os sabores mais autênticos da região.

Cidades europeias vêm transformando seus mercados tradicionais em verdadeiros points gastronômicos; conheça alguns imperdíveis 

1. Borough Market – Londres, Inglaterra

Quem lidera o ranking, com mais de 500 mil menções, é o Borough Market, em Londres. Localizado em Southwark, a dois passos de locais como a London Bridge e a London Tower, esse mercado Vitoriano é o mais antigo da cidade.


2. La Boquería – Barcelona, Espanha

A Espanha ocupa o segundo lugar no pódio graças ao mercado La Boquería. Localizado na Rambla de Barcelona, o icônico mercado catalão com estrutura de ferro é um dos lugares mais emblemáticos da cidadee aparece em mas de 170 mil publicações turísticas.


3. Markthal – Rotterdam, Países Baixos

Marcado mais de 116 mil vezes, o Markthal de Rotterdam, nos Países Baixos, possui cerca de 100 estandes. Aqui você pode comprar e saborear iguarias de diversas  partes do mundo. Além disso, Markthal é uma verdadeira joia arquitetônica – não deixe de reparar na obra ‘The Horn of Plenty’, que cobre grande parte do teto. 

5. Naschmarkt – Viena, Áustria

Graças à sua ampla oferta gastronômica internacional e aos inúmeros locais da moda, o Naschmarkt de Viena, na Áustria, tornou-se um ponto de encontro para os locais. Além disso, muitos viajantes vêm até aqui para desfrutar do emblemático mercado de pulgas aos sábados. O local aparece em mais de 78 mil menções 

6. Torvehallerne – Copenhague, Dinamarca

As belas salas envidraçadas de Torvehallerne, na capital dinamarquesa, são uma explosão de cores que aparece em quase 60 mil posts. Copenhague tornou-se um dos principais destinos gastronômicos nos últimos anos, e um dos pratos estrela do mercado é o Smorrebrod, um sanduíche aberto cuja versão mais típica é com arenque ou salmão.

7. Mercado São Miguel – Madrid, Espanha

Considerado o mercado gastronômico mais emblemático de Madrid, o Mercado São Miguel foi inaugurado em 1916  e já foi publicado mais de 59 mil vezes. Uma das experiências gastronômicas imperdíveis por aqui são os sorvetes artesanais de Joan Roca, o famoso chef com três estrelas pelo Guia Michelen.  

8. Leadenhall Market – Londres, Inglaterra

Com pouco mais de 59 mil menções, o Leadenhall Market está localizado no coração de Londres. A sua arquitetura espetacular supostamente serviu de inspiração para o próprio Beco Diagonal nos filmes de Harry Potter. O local era apenas um mercado de carnes quando foi construído no século 14, mas hoje há inúmeros bares, lojas e restaurantes em seu interior 

9. Mercado Mathallen - Oslo
Oslo inclui dezenas de lojas especializadas, cafés e restaurantes que oferecem comidas e bebidas de alta qualidade.
Mathallen está repleta de produtos interessantes de pequenos produtores noruegueses e internacionais, e tanto chefs profissionais quanto pessoas comuns vêm aqui para comprar ingredientes fabulosos.
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 10. Mercado Central Budapeste 

Situado em um belo edifício de 1896, o Mercado Central (Vásárcsarnok) é um excelente local para experimentar alguns pratos da culinária local e comprar ingredientes e lembranças do país.Entre as especialidades destaca-se o kolbász (salame picante), e o queijo de ovelhaHá também restaurantes onde se podem experimentar pratos locais como Lángos, que é a massa de pão à base de levedura frita em óleo e coberta com diversos ingredientes como creme de leite, queijo e alho.

Fonte: Eating Europe Guide




terça-feira, 23 de julho de 2024

Salvador, Bahia: o tesouro africano do outro lado do Atlântico

Música, religião e danças refletem uma tradição de folia e rebeldia na Bahia, o estado mais africano do Brasil.

POR PEDRO H. DE ABREU
FOTOS DE STEPHANIE FODEN



É POSSÍVEL OUVIR o som furioso dos tambores a quilômetros de distância e ver as pedras do calçamento se moverem discretamente sob os seus pés. Os percussionistas estão chegando. Torçamos para que as construções centenárias de Salvador consigam sobreviver a mais um desfile.

Enquanto São Paulo é conhecida como o motor financeiro do país e o Rio ganha como a cidade mais bela do mundo, o estado da Bahia é mais conhecido por sua cultura negra vibrante. Uma expressão local reflete com precisão a vitalidade artística dos baianos: baiano não nasce, estreia.

Em nenhum outro lugar a celebração da cultura é mais evidente do que em Salvador, a capital do estado da Bahia. Algo nessa cidade evoca a criatividade. Pode ser que tenha relação com o fato de que, em uma cidade onde 3 a cada 10 pessoas estão desempregadas, a inventividade não seja um hobby ou uma escolha, mas uma forma de sobreviver a mais um dia.


No Brasil, a expressão cultural é uma forma de protesto. Festas como o Carnaval e o São João, na Bahia, conhecida por celebrações elaboradas, normalmente expõem divisões complexas entre pessoas de diferentes classes. A nova atmosfera de extrema-direita no país dividiu ainda mais os cidadãos brasileiros.

Mais de um terço dos escravos capturados na África durante a escravidão foram trazidos ao Brasil para trabalharem na indústria do açúcar. Em alguns momentos, Salvador pode parecer bastante portuguesa, mas as raízes da cidade remontam ao Oeste da África. Da culinária superapimentada à musicalidade única e às fascinantes cerimônias religiosas marcadas pela dança, essa cidade é um grande turbilhão de sentidos.

Em 1888, o Brasil tornou-se o último país do Ocidente a abolir a escravidão, um vergonhoso recorde mundial que poucos estão prontos para colocar em pauta. Talvez em Salvador, que já foi o maior porto de comercialização de escravos das Américas, seja o local onde as pessoas mais desejam falar a respeito, utilizando o improvável pretexto das bandas de percussão. Faz sentido quando se pensa a respeito: tente tocar um enorme tambor com bastante força e conseguirá chamar a atenção das pessoas. Os garotos percussionistas atraem centenas de milhares que se atentam ao seu pedido por igualdade racial.


O ritmo predominante do Carnaval de Salvador, que atrai anualmente quase um milhão de pessoas, é chamado de samba-reggae, um gênero musical às vezes reproduzido por grupos com até 100 percussionistas. No samba-reggae, os principais ritmos do Brasil e da Jamaica, que tradicionalmente incluem protestos cantados e acompanhados por uma batida animada, ganharam um furor bruto, simples e alegre.

O Carnaval da Bahia não é feito somente de um deboche despreocupado. Os foliões ganham um presente inesperado. O Carnaval envolve política, ao estilo brasileiro. Todos os anos, blocos-afro, expressões culturais que lutam para promover a cultura negra por meio da música, dança e moda, tradicionalmente abordam complexas questões políticas durante os desfiles realizados em celebração a seus ancestrais africanos.

Durante a escravidão, estima-se que 1,7 milhão de pessoas, a maioria trazida de onde hoje é Benim, foram vítimas de tráfico para trabalharem forçosamente na Bahia. E os blocos afro não querem que as pessoas esqueçam disso. Luma Nascimento, ativista e vice-presidente de um desses blocos, conhece bem a ligação entre festa e política. "É possível ver uma divisão étnica mais clara durante o Carnaval", afirma ela. "Aqueles que podem pagar para terem acesso a um camarote são normalmente brancos, ao passo que as pessoas que os servem são, predominantemente, pessoas negras".

Para dar voz à insatisfação deles em relação à desigualdade racial ativistas como Nascimento e outros foliões que pensam da mesma forma entoam gritos de protesto contra as visões políticas que não aceitam.

Em outras partes da região, as pessoas lutam para preservar a cultura e as tradições nas quais nasceram. Quanto mais você se distancia de Salvador e se aproxima das pequenas cidades e vilarejos do estado da Bahia, mais difícil fica de acreditar que se trata do mesmo estado onde acontece a maior celebração de rua do planeta. Cada vez mais desertas, as estradas perdem o asfalto aos poucos.



Em Santiago do Iguape, mais de 96 quilômetros a oeste da capital, a vida tem um ritmo menos acelerado.  "Só queremos pular no rio no fim do dia, ver as catadoras de mariscos trabalhando, cuidar de nossos idosos e ouvir nossos homens e mulheres cantarem e conversarem", diz Adinil de Souza, líder da comunidade local. Ocupado por descendentes de quilombolas, esse pequeno vilarejo não tem nenhuma dificuldade em manter as coisas como elas sempre foram.

Desde o início, as celebrações carnavalescas aqui são impiedosamente marcadas por grupos de crianças locais que se cobrem com lençóis e máscaras sinistras e percorrem o vilarejo assustando e afugentando os espíritos do mal.

Quando indagados sobre o fato de os espíritos do mal serem a manifestação de senhores de engenho do passado, os moradores preferem não entrar em detalhes. "Eu não saberia dizer", afirma de Souza.

Ao fim do dia, todos em Santiago do Iguape estão em suas casas — o imponente Rio Paraguaçu garante abundância aos pescadores que desbravam suas águas nas primeiras horas da manhã.

*Artigo publicado na revista National Geographic.


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sábado, 13 de julho de 2024

Uma História muito curta da vida na Terra

Henry Gee*

Por volta de 700 mil anos atrás, os episódios glaciais foram muito mais longos que os intervalos quentes que os separaram. A Terra estava agora em um estado mais ou menos permanente de glaciação. As pausas eram quentes, inebriantes e breves.

A vida não só sobreviveu, ela prosperou. Regiões da Eurásia não oprimidas pelo gelo estavam cobertas de estepe verde, que suportava uma tonelagem quase incalculável de caça. Na primavera e no verão, bisões migravam pela terra em rebanhos tão grandes que levaria dias para vê-los passar aos milhões. Eram acompanhados por cavalos e veados gigantes com chifres incrivelmente extensos; vez ou outra a eles se juntavam espécies de elefantes, como mamutes e mastodontes; o resfolegar e a pisada dos rinocerontes lanosos também iam junto. Os invernos eram só um pouco menos cheios. Muitos animais migravam para o sul, mas as renas permaneciam na neve. Toda essa carne em movimento era um ímã para carnívoros como leões, ursos, felinos-dente-de-sabre, hienas, lobos — e os duros e resistentes herdeiros do Homo erectus.

Os hominíneos responderam à intensificação da era do gelo com cérebros e reservas de gordura maiores.

Isso foi, por si só, notável. Como observamos, cérebros são órgãos que custam caro para funcionar. A economia da natureza geralmente exige que um animal inteligente tenha apenas um mínimo de gordura, porque, se a comida acabar, ele será astuto para encontrar mais em outro lugar antes de morrer de fome. São apenas os menos iluminados entre os mamíferos que precisam acumular gordura. Os humanos, porém, são exceção. Os humanos mais magros armazenam uma quantidade superior de gordura que a dos macacos mais gordos. Animais com cérebros grandes que têm uma boa camada de isolamento têm tudo de que precisam para lidar com o frio interminável da era do gelo.

A gordura tinha outro propósito também. A diferença entre os sexos é em grande parte uma questão de acúmulo dela. O corpo de um homem adulto contém, em média, cerca de 16% do peso em gordura; o de uma mulher, 23%. Essa diferença é significativa, uma vez que energia embutida é um pré-requisito essencial para a fertilidade e a gravidez, principalmente em tempos de escassez. Como tal, os mecanismos de seleção favoreceram as fêmeas roliças com curvas arredondadas, por terem as melhores perspectivas de reprodução.

Cérebros grandes, no entanto, também podem apresentar problemas, uma vez que levam a cabeças grandes. Bebês humanos, com suas cabeçorras, têm dificuldade para nascer. Os bebês só nascem graças a uma torção de noventa graus da cabeça durante a passagem pela pélvis da mãe e a emersão pela vagina. Até muito recentemente, o custo disso era suportado pela mãe, que corria um alto risco de morrer no processo. Os bebês humanos vêm ao mundo em um estado relativamente desamparado. Se esperassem até estar mais desenvolvidos e talvez mais capazes de lidar com o mundo, poderiam ser grandes demais para passar pelo canal do parto, e sequer nasceriam. Assim os nove meses de gravidez representam um período de trégua desconfortável entre o bebê, que precisa ser capaz de lidar sozinho com o mundo exterior o mais rápido possível, e a mãe, que, se esperasse mais, teria de jogar dados cada vez mais viciados com a morte.

É um meio-termo que não agrada a ninguém. Uma espécie em que os bebês nascem totalmente indefesos e, mesmo se nascerem com sucesso — de mães que correm alto risco de morte —, levam muitos anos para atingir a maturidade, provavelmente vai se extinguir muito depressa. A solução para isso, portanto, foi uma mudança dramática, mas no outro extremo da vida: a menopausa.

A menopausa é outra inovação evolutiva exclusiva dos humanos. Em geral, qualquer criatura, mamífero ou não, que seja velha demais para se reproduzir envelhece e morre na sequência. Em humanos, porém, as fêmeas que deixaram de se reproduzir na meia-idade podem desfrutar de muitas décadas de vida útil — e, portanto, criar mais filhos. 

O aumento do cérebro e o consequente desamparo dos bebês foi acompanhado pelo surgimento das avós: mulheres na pós-menopausa que estariam ali para ajudar as filhas a criar os netos. A lógica da seleção natural não diz nada sobre quem realmente cria os filhos até a maturidade — contanto que sejam criados por alguém. Ocorre que uma mulher que deixa de se reproduzir para ajudar as filhas a criar os netos gerará, em média, um número maior de descendentes do que se ela mesma permanecesse reprodutiva, competindo por recursos com suas filhas.

*Henry Ernest Gee é um paleontólogo britânico, biólogo evolutivo e editor sênior da revista científica Nature