quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O Resumo da Ópera


Paulo Ormino*
Pela enésima vez é anunciado o início da ponte Salvador-Itaparica. A nota diz apenas que vai começar a sondagem, orçada em R$160 milhões, para ver a profundidade das estacas numa trajetória já condenada pela Academia de Engenharia da Bahia. Só então se poderá saber o custo da ponte, cujo orçamento inicial quase dobrou antes de começar. Diz a mesma fonte que ainda vai ser preciso a dragagem do porto, orçada em R$120 milhões, e construção dos canteiros de obras de Salvador, Vera Cruz e São Roque, não orçados, obras que levarão pelo menos dez meses embolando com o calendário eleitoral.
A sangria do estado para essa ponte não vai parar com sua inauguração. A partir daquele momento vamos ter que pagar uma contrapartida à concessionária cujo cálculo vai depender da demanda de tráfego na ponte. Quanto mais baixa for a arrecadação do pedágio maior será a contrapartida do estado. Hoje sua demanda é muito baixa, a ponto de não estar prevista a duplicação da Ponte do Funil, que só tem duas faixas de rodagem. Como a ponte terá seis faixas, quatro ficarão ociosas e a concessionária tem direito a uma compensação pela perda de pedágio. O Tribunal de Contas do Estado deve ficar atento a essa conta.
Depois de dez anos de marchas e contramarchas, o panorama mudou. É muito importante discutir esta questão quando o estado resolve repor os trilhos no subúrbio e reestruturar sua malha ferroviária para levar trens de passageiros até Feira de Santana, podendo levá-lo também a Itaparica pela conta-costa, beneficiando o Recôncavo onde existem 19 terminais marítimos, o CIA, uma refinaria, um estaleiro e quatro cidades históricas. Esse ramal poderá ainda viabilizar a criação de um hub-porto em Salinas da Margarida com 22 metros de calado em águas abrigadas, que seria o terminal da ferrovia transcontinental sonhada por Vasco Neto, mas agora revista para chegar no Pacífico na divisa do Chile com o Peru, integrando as redes ferroviárias desses dois países, da Bolívia, do Paraguai e do Brasil e escoando a imensa produção mineral e graneleira desses países para o Atlântico, pela Bahia.

A ponte perdeu sentido e se realizada inviabilizaria o Pela enésima vez é anunciado o início da ponte Salvador-Itaparica. O último anúncio foi na semana passada. A nota diz apenas que vai começar a sondagem, orçada em R$160 milhões, para ver a profundidade das estacas numa trajetória já condenada pela Academia de Engenharia da Bahia. Só então se poderá saber o custo da ponte, cujo orçamento inicial quase dobrou antes de começar. Diz a mesma fonte que ainda vai ser preciso a dragagem do porto, orçada em R$120 milhões, e construção dos canteiros de obras de Salvador, Vera Cruz e São Roque, não orçados, obras que levarão pelo menos dez meses embolando com o calendário eleitoral.

A sangria do estado para essa ponte não vai parar com sua inauguração. A partir daquele momento vamos ter que pagar uma contrapartida à concessionária cujo cálculo vai depender da demanda de tráfego na ponte. Quanto mais baixa for a arrecadação do pedágio maior será a contrapartida do estado. Hoje sua demanda é muito baixa, a ponto de não estar prevista a duplicação da Ponte do Funil, que só tem duas faixas de rodagem. Como a ponte terá seis faixas, quatro ficarão ociosas e a concessionária tem direito a uma compensação pela perda de pedágio. O Tribunal de Contas do Estado deve ficar atento a essa conta.

Depois de dez anos de marchas e contramarchas, o panorama mudou. É muito importante discutir esta questão quando o estado resolve repor os trilhos no subúrbio e reestruturar sua malha ferroviária para levar trens de passageiros até Feira de Santana, podendo levá-lo também a Itaparica pela conta-costa, beneficiando o Recôncavo onde existem 19 terminais marítimos, o CIA, uma refinaria, um estaleiro e quatro cidades históricas. Esse ramal poderá ainda viabilizar a criação de um hub-porto em Salinas da Margarida com 22 metros de calado em águas abrigadas, que seria o terminal da ferrovia transcontinental sonhada por Vasco Neto, mas agora revista para chegar no Pacífico na divisa do Chile com o Peru, integrando as redes ferroviárias desses dois países, da Bolívia, do Paraguai e do Brasil e escoando a imensa produção mineral e graneleira desses países para o Atlântico, pela Bahia.
A ponte perdeu sentido e se realizada inviabilizaria o enorme potencial econômico e turístico da BTS e do Recôncavo e provocaria um impacto brutal em Salvador e na ilha de Itaparica, que se transformaria num grande terminal rodoviário para bitrens que não podem entrar em Salvador, transformando-a numa grande favela, como São Gonçalo na Baía da Guanabara. A ponte não entrou no debate sucessório, no PDDU de Salvador e agora no PAC. Diante de tantas incertezas, os chineses parecem estar botando as barbas de molho e apostando no plano ferroviário do estado, na via transcontinental como alternativa ao canal da Guatemala, e na construção de um hub-porto internacional na BTS. enorme potencial econômico e turístico da BTS e do Recôncavo e provocaria um impacto brutal em Salvador e na ilha de Itaparica, que se transformaria num grande terminal rodoviário para bitrens que não podem entrar em Salvador, transformando-a numa grande favela, como São Gonçalo na Baía da Guanabara. A ponte não entrou no debate sucessório, no PDDU de Salvador e agora no PAC. Diante de tantas incertezas, os chineses parecem estar botando as barbas de molho e apostando no plano ferroviário do estado, na via transcontinental como alternativa ao canal da Guatemala, e na construção de um hub-porto internacional na BTS.*Arquiteto e urbanista. Professor Titular da UFBA

domingo, 26 de novembro de 2023

O progresso é concreto


Paulo Ormindo de Azevedo
*

Este era o slogan de uma usina de concreto e se transformou no lema dos administradores públicos. Lobby mau só mete medo às criancinhas, mas seria melhor que não se escondesse para sabermos quanto pagamos e a quem, como nos States. Os lobos das construtoras de escondem no subsolo dos gabinetes governamentais e atacam durante a noite para que elas continuem petrificando nossa cidade. 

São elas as responsáveis por Salvador ser a cidade mais “viadutizada” do planeta. Temos viadutos que não passam um carro, como os da Fonte Nova; que alagam, como o da Federação; e o Viaduto do Aeroporto, que é saída de metrô e ponto de ônibus e táxis. Temos ainda o único subway, ou underground, aéreo do mundo, a Linha 1 do metrô. Viadutos são vias bloqueadas que não permitem escolhas. A Rótula do Abacaxi foi transformada em uma chicana de pilares. Enquanto o viaduto da Av. Barros Reis está vazio, se forma um engarrafamento no chão para que os motoristas possam retornar à Av. ACM, subir para o Cabula, ou descer para a Cidade Baixa. 

O concreto tem muitas utilidades, serve para impermeabilizar o solo e encostas e construir ponte, viadutos e espigões de 40 andares que engarrafam as ruas. O material poderia ser oficializado como uma moeda regional, como já foi o sal. O Estado e a Prefeitura ao invés de pagar “salários”, como em Roma, pagaria “concretários” a seus funcionários. Operários iriam à Usina Central da Fazenda pegar seu carrinho de mão de concreto para cimentar suas casas e empresários contratariam “n” caminhões betoneiras para construírem seus espigões. 

O verde público foi extinto pelo metrô e o BRT e o privado do Caminho das Árvores transformado no Caminho do Cinzento. Há alguns anos foi lançado o Loteamento Horto Florestal, com TAC de preservação das árvores e só se permitir casas em lotes florestados. Mas a Odebrecht reservou uma gleba vizinha ao loteamento e lançou duas torres que tinham como reclame a vista e o ar puro do horto. A prefeitura recentemente resolveu fazer o milagre da multiplicação dos peixes, ou melhor dos IPTUs, permitindo a construção de espigões onde hoje são casas e árvores. Fez o mesmo no Buração, para não se poder mais bronzear. Em Salvador as indústrias do concreto, dos viadutos, dos espigões e do IPTU são irmãs. 

Por que ao invés de concretar não se faz uma passarela verde ligando o Unhão à Vila Brandão ou um parque em Cajazeiras? 

São Paulo, que é mais arborizada que Salvador, tombou os Jardins Paulistanos, que são bairros de casas burguesas, mas servem como pulmão da cidade. No Cine Paseo vi vídeos de moradores do Horto Florestal e da Praia do Buracão apelando para a população se posicionar contra a destruição do verde e sombreamento das praias. O Movimento Salva Verde me pede para ajudá-lo nessa campanha, o que faço com a maior convicção e prazer. O verde é progresso, o atraso é concreto! 

*Arquiteto e Urbanista, Professor Emérito da Ufba

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Risério, 70 anos

Cachorros e gatos no quintal, a areia da praia ao lado, sandálias havaianas e a serenidade de Itaparica, a principal cidade da ilha do mesmo nome, virada de costas pra Salvador, a metrópole da Bahia. E um notebook por perto, pra escrever. Só sai dali pra cumprir copiosa agenda de palestras, debates e outros eventos culturais Brasil afora.

Ao lado da companheira Sara Victoria, designer e escritora, é assim que vive hoje, aquele que é o mais polêmico e brilhante , intelectual da Bahia, por conta de uma produção teórica invejável e de trabalhos práticos de grande efeito. Vive atualmente bem próximo de onde morava outro brilhante intelectual baiano, o escritor João Ubaldo Ribeiro. Atuando como escritor e colaborador de jornais, o antropólogo, ensaísta e historiador baiano Antônio Risério tem colecionado polêmicas, especialmente quando trata de questões raciais. Em janeiro do ano passado, foi alvo de ataques vindos de intelectuais e militantes de esquerda, quando escreveu um artigo para a Folha de S. Paulo intitulado Racismo de Negros Contra Brancos Ganha Força com Identitarismo.

Nascido em Salvador em 21 de novembro de 1953, é poeta, escritor, jornalista e antropólogo. Fez política estudantil, membro da Política Operária (Polop) foi preso pela ditadura militar em 1968, mergulhou na viagem da contracultura, editou revistas de poesia experimental na década de 70 e escreveu para a imprensa brasileira: Código, Muda, Bahia Invenção. Em dezembro de 1989, Risério criou o suplemento quinzenal do Jornal da Bahia, Fetiche, editando nove números.

Em 1995 defende dissertação de Mestrado em Sociologia com especialização na Antropologia pela Universidade Federal da Bahia. Participou das campanhas políticas dos políticos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Teve suas parcerias poético-musicais gravadas por diversas estrelas da Música Popular Brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Alfredo, Diana Pequeno, Morais Moreira, J. Veloso, MPB 4, Arnaldo Antunes, Gereba, Lazzo Matumbi, Paulinho Boca de Cantor, Chico Evangelista,

Antonio Risério tem aproximadamente, trinta títulos publicados, dentre os seus livros, destacam-se: ‘Carnaval Ijexá’ – notas sobre os blocos e afoxés do novo carnaval afro-baiano, 1981; ‘O poético e o político’ (em parceria com Gilberto Gil), 1988; ‘Caymmi um utopia de lugar’, 1993; ‘Cores Vivas’; ‘Textos e Tribos – poéticas extraocidentais nos trópicos brasileiros’, 1993; ‘Avant-garde na Bahia’, 1996;  ‘Fetiche’, 1996; ‘Oriki Orixá’, 1996; ‘Ensaio sobre o texto poético em contexto digital’, 1998; ‘A via Vico e outros Escritos’, 2000; ‘Adorável Comunista’, 2002; ‘Uma história da cidade da Bahia’, 2004; ‘A Banda do Companheiro Mágico’, 2007; ‘Uma História do Povo de Sergipe’, 2010; ‘A Cidade no Brasil’, 2012; ‘Edgard Santos Reinvenção da Bahia’, 2013; ‘Mulher, Casa e Cidade’, 2015; ‘A Casa no Brasil’, 2019; ‘Bahia de Todos os Cantos’, 2020; ‘Uma cidade, uma rua, uma igreja’.
 
Em recente livro escrito por Antônio Risério, “Sobre o relativismo pós-moderno e a fantasia fascista da esquerda identitária" Riserio provocou grandes polêmicas. Rompendo a espiral de silêncio reinante nos ambientes intelectual e acadêmico, o antropólogo baiano Antonio Risério faz ataques severos a movimentos de minoria que, traindo sua origem, teriam se convertido em guetos fechados e avessos a qualquer forma de divergência, perseguindo de forma brutal e truculenta todos aqueles que ousam criticá-los. Segundo o autor, o que era para ser inclusivo tornou-se excludente. Risério identifica nesse processo a emergência de um verdadeiro fascismo identitário, incapaz de compreender a complexidade da sociedade brasileira além dos clichês do cercadinho ideológico de uma certa esquerda.
Por conta dessa posição, Riserio vem sofrendo perseguições e até ameaças de morte. Apesar de todos ataques segue escrevendo, debatendo e realizando projetos, agora, completando sete décadas de produtiva existência.

Ciclovia que brilha com obra de Van Gogh

Holanda, conhecida por ser o país das bicicletas, não para de surpreender quando o assunto é ciclovia e incentivos ao uso de bikes. Na cidade de Eindhoven, localizada ao sul de Amsterdã, existe uma ciclovia especial, inspirada no famoso quadro “A Noite Estrelada”, do pintor holandês Vincent Van Gogh. Feita com um material especial, a ciclovia brilha no escuro, criando um efeito que é de cair o queixo.

O projeto, que une arte e tecnologia à cultura do ciclismo, foi feito com peças de um material que traz pequenas luzes LED.

Dessa forma, quando está escuro, o chão brilha, criando o efeito surpreendente. “Eu queria criar um lugar em que as pessoas pudessem ter uma experiência especial. A parte técnica combinada com experiência, isso é o que a poesia tecnológica significa para mim“, explicou Daan Roosegaarde, artista responsável pelo projeto da ciclovia.

A rota escolhida para a intervenção, feita em apenas alguns metros da ciclovia, é conhecida por passar por locais que marcaram a vida de Van Gogh, como Zundert, cidade em que o pintor nasceu e foi criado. O ano de 2025 será marcado pelas comemorações do 135° aniversário da morte de Van Gogh e a ciclovia é apenas uma das novidades inspiradas na obra do artista que estão por vir.