.
Então, cidade, como estás em teu moderno estado?
E como nos tem tratado teus convertidos prosélitos?
E teus alcaides, cidade
O que de novo tem praticado?
(Estás ainda tão feia quanto teus brongos, alagados)
Seriam traumas, sequelas, dos tantos que endividaram
Tuas tralhas?
Ou será tua sina divina não teres ninguém que te valha
Vestindo gravata ou saia?
Quem te governa, cidade
É a farófia revolucionária ou a direita canalha?
.
II
Desde Tomé que a gente paga pra ver
A utopia prevalecer
E as Coréias proliferando
(E certamente não é que falte fé ao baiano)
Continua ele votando
(Mas não passas de um ex-voto do milagre que o demo vem praticando)
.
III
(E de que valem todos os santos
Se pra baixo te ajudam os soteropolitanos?)
.
IV
E então, Salvador
Mudaste a cara do Pelô?
Tiraste de lá o povo
Tocas já outro tambor?
Os que antes lá roubavam
Passaram o ponto aos doutores?
Os traficantes trocaram
De drogas e os mercadores
Vendem outras ilusões
E o amor cotado em dólares?
.
VIII
Se teus esgotos esgotam
Teus cidadãos pacientes
Pelo menos uma máxima
Aos que vomitam concede
Quem maledicente fala
O repto consente
Se o meio ambiente exala
É inepta ou inapetente
A gerência da cloaca?
(Ela fede abertamente)
.
XVI
Que querem teus governantes?
Negócios e, negociantes
Dinheiro, como dantes
Para o terceiro milênio
Convênio com os empreiteiros
E como dantes, dinheiro
.
XX
Se aos justos difamas
E alcagüetas
Digam de mim teus ghost writers
Toda maledicência
De mim podes dizer que sou
Teu proxeneta
Já que não podes dizer que sou
Teu poeta
De mim podes dizer que sou
Teu drogado
Já que não podes dizer que sou
Teu advogado
De mim podes dizer que sou
Ressentido
Porque proíbes a esperança
Ao meu partido
Mas deixa ao menos que eu seja
O que o futuro deseja
E o que será a tua estética
Uma nova ética
.
José Carlos Capinan. Poemas; antología e inéditos. Salvador: FCJA:Copene,1996.p.99-10
(Um canto quase Gregoriano foi incluído no livro Confissões de Narciso, publicado em 1995)
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