João Quadros*
Não sou contra a linha 2 do metrô. Todos os elogios à decisão do
governo em não só resolver os impasses de gestão que envolveram o início do
projeto, como, também, estender a sua área de abrangência para um trajeto de
fluxo prioritário para a mobilidade dos soteropolitanos. Dando uma de são Tomé,
motivei as 32 entidades integrantes do Fórum Empresarial a visitarem as obras
do metrô. A impressão não poderia ter sido melhor. A
concessionária demonstra dominar uma tecnologia de primeiro mundo, com destaque
para a sua preocupação com a segurança e bem-estar dos usuários. As estações já
implantadas reportam-se à arquitetura do que há de melhor no primeiro mundo.
Mas isto não basta. Não percebemos, no croqui que a
concessionária nos apresentou (e não um projeto como todos nós esperávamos), a
preocupação com os detalhes urbanísticos, ambientais e paisagísticos
imprescindíveis para com a última avenida de Salvador que ainda estava
preservada da voracidade de mais um plano pouco sensível ao meio ambiente, à
sua convivência com os passantes e à sustentabilidade do ecossistema lá
instalado desde a sua implantação.
Questões relevantes não foram respondidas a contento à época da
apresentação. A resposta lacônica que recebemos durante a visita é que
"tudo será resolvido". Questiona-se a disponibilidade de
estacionamentos capazes de abrigar os transbordos necessários de moradores nas
áreas próximas às estações do metrô.
Parece que a comunicação entre os dois lados em que a Paralela
será dividida pela ferrovia de superfície será feita através de três complexos
viários (mais viadutos!) que serão construídos para substituir três retornos
existentes. Este "detalhe" crava definitivamente a reimplantação do
"muro de Berlim" na primeira capital do Brasil.
Mesmo que preservem as lagoas existentes, sobre elas serão
construídas pontes. O governador declarou a este jornal, em 6 de novembro, que
"onde houver depressões haverá um pequeno pilar e o trem passará por entre
as trincheiras, mas não vai afetar a paisagem". Pilares, trincheiras e trem,
Senhor governador, são incompatíveis com o paisagismo em qualquer lugar do
mundo. Talvez, em Salvador marcaremos mais uma exceção sem precedentes!
A preservação das árvores e lagoas já implantadas está sendo
jurada pela concessionária que serão recompensadas. O Inema, tão exigente nos
projetos privados, acredita piamente quando a promessa é feita por projetos
públicos. Estranho, não? Pelo andar dar carruagem, nem "tudo será
resolvido", até porque o puxadinho do Bonocô já está instalado desde as
futuras estações da rótula até a rodoviária. Há que se levar em conta que o
trajeto da linha 2 contempla 12 estações com grande ocupação espacial.
O que já está aparecendo por traz dos tapumes é um desmatamento
desenfreado, inclusive com o uso intensivo de motosserras - o que me parece
incompatível com o propósito de "conservar árvores nativas".
Preocupa-me também um termo de ajustamento de conduta firmado
entre a prefeitura de Salvador e o governo em que prevê apenas o replantio de
árvores, sem focar na preocupação da sustentabilidade ambiental. As obrigações
estabelecidas para a concessionária neste acordo se restringem à limpeza da
cidade, ordenamento do trânsito e à recuperação da malha viária, ou seja, basta
cumprir o que fora feito no Bonocô.
Os argumentos que ouvi de alguns setores responsáveis da
prefeitura é que foram "condescendentes" com o projeto para que não
transparecesse de que se tratava de oposição política ao projeto.
Ora bolas! Está em jogo neste projeto não questiúnculas
políticas com visão imediatista, mas a vida de uma comunidade que usa
diariamente a Paralela como fluxo de deslocamento e local de habitação e
convivência.
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