Quando os portugueses
localizaram no dia primeiro de novembro de 1501 a enorme “Kirimurê”, ou grande
mar, na língua tupinambá, com águas profundas e abrigadas, 1.233 km² de área e
300 km de contorno litorâneo, logo escolheram o local como porto natural e
local adequado para a construção da primeira grande metrópole lusitana no novo
continente.
O porto cresceu e antes do
surgimento dos navios a vapor e da construção do canal de Suez chegou a ser o
mais movimentado do hemisfério Sul. A cidade do Salvador, acompanhando o
crescimento do seu porto, também cresceu e se desenvolveu como grande centro
logístico, comercial e político, tornando-se a primeira capital do Brasil.
O porto natural se
constituiu em porto organizado e através de uma concessão pública, datada do
final do século XIX, foi ampliado com o aterro de extensa área que expandiu o
bairro do Comércio e possibilitou a construção de armazéns e retro áreas para
armazenagem de cargas.
A modernização das
embarcações, a transferência da capital para o Rio de Janeiro e as construções
dos canais do Suez e Panamá contribuíram para a perda de importância econômica
e comercial do porto e da cidade, que passa a crescer em direção ao litoral
norte e literalmente, dá as costas para seu porto.
Apesar de representar uma
das principais atividades econômicas e geradoras de emprego numa cidade sem
atividades industriais relevantes, o porto nunca recebeu a importância que
merece por parte das administrações municipais e estaduais que se sucederam nos
últimos 50 anos, chegando-se ao absurdo de se propor a desativação do porto
para a movimentação de cargas, proposta apresentada pelo representante da
prefeitura de Salvador durante o Seminário “Agenda Bahia”, realizada na Fieb
esta semana, que tratou do Turismo Sustentável.
Esta proposta não leva em
conta a enorme importância econômica do porto para a cidade e todo o estado da
Bahia e que é perfeitamente conciliável a manutenção da atividade operacional
no porto, com ênfase nas operações de contêineres e trigo, e a revitalização de
áreas do porto para o turismo e lazer.
Desconhece também a
existência de um contrato de concessão entre o porto e a empresa TECON,
responsável pela operação de contêineres, que tem longo prazo de vigência e
enorme relevância econômica.
Quem conhece algumas cidades
portuárias e turísticas como Barcelona (foto), Buenos Aires e Hamburgo, sabe que a atividade
portuária é vital para a economia destas cidades e que é perfeitamente
conciliável a operação portuária e a atividade turística, em áreas do porto que
podem ser revitalizadas e expandidas. ( na foto abaixo, área do porto de Salvador que poderia ser destinada ao turismo e lazer)
Lembremos que a atual
legislação portuária brasileira permite ao município assumir a gestão do porto,
como se verifica nos principais portos europeus e como já ocorre, com sucesso
no Brasil, mais especificamente em Itajaí, Santa Catarina.
Um dos principais fatores da
decadência do porto de Salvador está justamente no desconhecimento por parte do
Governo da Bahia e da Prefeitura de Salvador do enorme potencial econômico
representado pela atividade portuária. Enquanto a administração dos nossos
portos está ainda vinculada à administração federal e subordinada ao loteamento
político dos cargos de direção da Codeba, os estados de Pernambuco e Ceará
colocaram a atividade portuária como estratégica para o desenvolvimento,
constituíram enxutas e eficientes empresas estatais que construíram os
complexos portuários de Suape e Pecém, fatores de atração de novos
empreendimentos industriais para aqueles estados e importantes vetores do
crescimento da economia nordestina.
Ao invés de propor a
desativação do porto, a Prefeitura de Salvador deveria reivindicar e assumir a
concessão do mesmo, colocando a atividade portuária como estratégica para o
desenvolvimento econômico da cidade.
*Engenheiro
e Mestre em Administração, é membro do Conselho de Infraestrutura da FIEB e do
Conselho de Administração da Codeba.
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