Osvaldo
Campos Magalhães*
No dia 30 de julho de 2013,
conforme promessa do ex-presidente Lula em evento de avaliação do PAC realizado
em 2010, a Ferrovia de Integração Oeste Leste – FIOL deveria ter sido
inaugurada, marcando uma nova etapa para logística de transportes de cargas no
Brasil. Infelizmente, o que se constatou é que nem um único metro de trilho foi
instalado ao longo dos 1.022 quilômetros do traçado previsto e que, no trecho
entre as cidades de Caetité e Barreiras, praticamente nenhuma intervenção foi
feita até agora.
Conforme amplas reportagens
realizadas pelo jornal Valor Econômico, que percorreu todo o traçado da
ferrovia, a Valec, estatal responsável pela implantação da FIOL, cometeu o erro
primário de licitar a ferrovia sem dispor do projeto executivo da obra e, sem
estudos ambientais adequados.
Lembremos que o
ex-presidente da Valec, que dirigiu a empresa durante sete anos e que foi
responsável pela licitação da Fiol, foi preso pela Polícia Federal, acusado de
prática de atos administrativos ilegais à frente da empresa. Lembremos ainda que um dos principais trechos
da ferrovia foi ganho pela empreiteira Delta Engenharia, líder em obras do PAC,
acusada por corrupção ativa.
Enquanto isso, as ligações
ferroviárias de Belo Horizonte a Salvador e Alagoinhas a Juazeiro, que tinham
sido privatizadas em 1996, e que apresentavam movimentação de cargas sempre
decrescentes, acabam de ser retomadas pelo governo federal, comprovando o
fracasso do processo de privatização do setor ferroviário na Bahia. O acesso ao
porto de Salvador e a ligação entre Recife e Salvador foram desativados ha mais
de 10 anos, sem que nenhuma providência tivesse sido adotada pela Agência
Nacional de Transportes Terrestres – ANTT.
Se as obras dos sistemas de
metrôs nas principais metrópoles brasileiras não avançam, o governo federal continua
colocando como prioridade para o setor o megaprojeto do trem bala, ligando
Campinas ao Rio de Janeiro e orçado em R$ 35 bilhões. Curiosamente, atendendo
pedido da empresa alemã Siemens, a Empresa de Planejamento Logístico – EPL anunciou
o possível adiamento da licitação do projeto.
Coincidentemente, a mesma
empresa alemã, que integrou o Consócio Metrosal, responsável pelo fracassado
projeto do Metrô de Salvador, foi destaque na imprensa nacional, ao revelar a
existência de esquema ilegal nos contratos relacionados às obras de metrô e
trens urbanos em São Paulo.
Através de um acordo de
leniência que garantiu imunidade à empresa no processo, os executivos da
Siemens, em depoimento ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE
revelaram as tratativas que resultaram na formação de cartel em pelo menos
cinco licitações para compra e manutenção de trens para a Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos e para os Metrôs de São Paulo e do Distrito Federal.
As denúncias atingem
principalmente as administrações do PSDB e DEM, envolvendo os governos Mário
Covas, José Serra, Geraldo Alkimim e José Arruda. Destaque-se que o atual
governo de São Paulo tem nos projetos de mobilidade urbana sobre trilhos sua
principal bandeira.
Lembremos que a Polícia
Federal, em operação denominada Castelo de Areia, já havia comprovado a
existência de formação de cartel e acordos de preços entre as principais
empreiteiras do Brasil, nas obras dos metrôs das principais metrópoles
brasileiras, incluindo o de Salvador, que após mais de 13 anos de obras, quase um
bilhão de reais consumidos, ainda não foi capaz de transportar um único
passageiro. Contudo, as provas tinham sido obtidas através de denuncia anônima,
o que possibilitou ao advogado das empreiteiras, Márcio Thomas Bastos,
conseguir junto ao STJ a anulação das mesmas. Enquanto os caminhões fazem filas
de mais de 25 km no porto de Santos para o embarque de soja e os
engarrafamentos travam a mobilidade urbana nas grandes cidades, provocando
imensos prejuízos para economia e perda de qualidade de vida para os cidadãos, permanece
a questão: até quando o Brasil continuará fora dos trilhos?
* Artigo publicado no jornal A Tarde, em 05/09/2013
* Artigo publicado no jornal A Tarde, em 05/09/2013
*Engenheiro
Civil e Mestre em Administração. Membro do Conselho de Infraestrutura da
Federação das Indústrias do Estado da Bahia
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