quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Hidroporto da Ribeira , o primeiro da Bahia


Nelson Cadena*
Em 10 de dezembro de 1935, amerissou, no aeroporto de Itapagipe, o gigantesco hidroavião Trininad Clipper, com oito tripulantes, sob a chefia do comandante Charles Lorber, trazendo, entre os passageiros, o ex-governador Antônio Muniz Sodré de Aragão. Entre os que embarcariam em direção ao Rio de Janeiro, estavam os políticos Lauro de Freitas, João Pacheco de Oliveira e o jornalista Altamirando Requião. O amerrissar na Ribeira de Itapagipe se constituía um verdadeiro espetáculo para centenas de baianos que até lá se dirigiam, para ver os hidroaviões descer e flutuar. O píer de atracação, inicialmente de madeira, tinha sido construído em 1922, como auxiliar para uma escala dos pilotos portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, que realizaram em um hidroavião, partindo de Lisboa, a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, no âmbito das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil. Provavelmente, teria também servido de apoio ao piloto espanhol Antenor Navarro no seu histórico voo pelo centro de Salvador, em 1923, observado por autoridades e convidados, reunidos na cúpula do Hotel Meridional. Foi no hidroporto da Ribeira de Itapagipe que o presidente Getúlio Vargas desembarcou, em 1939, para as comemorações da descoberta de petróleo em Lobato. Durante a II Guerra Mundial, o hidroporto serviu de base de apoio aos hidroaviões americanos que faziam o patrulhamento da costa brasileira. Depois de operar com regularidade durante toda a década de 1940, utilizado pela empresa de aviação Nyrba do Brasil, denominada, a seguir, Panair do Brasil, foi, aos poucos, sendo relegado a um segundo plano, em função de as companhias aéreas passarem a optar pelos aviões de pouso em terra, de maior porte e mais seguros.
* Jornalista e escritor
Texto do livro de minha autoria “A Cidade da Bahia”). Editora P55. Realização ALBA, TCE, TCM. Salvador, 2017. Fotos do acervo da Fundação Gregório de Mattos-FGM)