Vitor Paolozzi *
Em vez de adotar medidas repressivas como rodízio ou pedágio urbano, Helsinque decidiu esvaziar suas ruas com a criação de um sistema "personalizado" de transporte por ônibus que seja eficiente a ponto de convencer os moradores a abandonar espontaneamente seus carros. Nesse sistema não existem mais linhas com trajetos fixos: por meio de um computador ou celular, o passageiro informa o seu ponto de partida e o de chegada e em poucos minutos é apanhado por um micro-ônibus que adapta a rota de acordo com a demanda.
Chamado de Kutsuplus, o serviço foi implantado na capital finlandesa de maneira experimental em 2012 com três vans e logo passou para dez. Atualmente, o programa ainda opera em pequena escala, com 15 veículos, mas o plano é ir ampliando-o gradualmente até atingir uma frota com entre 5.000 e 8.000 micro-ônibus em 2027, quando então, idealmente, boa parte da população da cidade - hoje ao redor de 600 mil - iria preferir deixar de lado o carro e adotar o transporte público.
Para utilizar o sistema, o passageiro necessita de um computador ou celular - que não precisa nem mesmo ser um smartphone, a viagem pode ser marcada com o envio de um SMS. Após receber o pedido com hora e locais de partida e chegada, o sistema calcula o preço e estimativas da rota e do tempo que a viagem levará. Caso o passageiro aceite a proposta, o pagamento é debitado da sua conta e ele se dirige para o ponto de encontro determinado. Ao embarcar, ele passa ao motorista a senha recebida eletronicamente. Durante a viagem, se o sistema designar algum novo passageiro à van, o motorista é comunicado em seu GPS sobre a alteração no trajeto.
De acordo com uma pesquisa feita em maio, em cerca de um terço das viagens o micro-ônibus pega o passageiro na hora combinada; em aproximadamente 95% dos casos a variação do horário definido não passa de cinco minutos. Segundo as estatísticas, somente em 1,1% das viagens o passageiro chega ao destino com atraso superior a 10 minutos. O preço da passagem é mais caro do que uma viagem de ônibus normal, mas custa cerca de um quarto da tarifa de um táxi - sendo que o tempo gasto é o mesmo e o passageiro ainda conta com conexão wi-fi gratuita.
"Após ser expandido, o Kutsuplus oferecerá uma ferramenta poderosa e economicamente eficiente para a redução do número de deslocamentos privados de carros, graças à simples oferta de uma melhor alternativa para muitos dos atuais motoristas", afirma Kari Rissanen, diretor do programa, mantido pela Autoridade de Transporte Regional de Helsinque (HSL). Ele diz que um dos objetivos da HSL é fazer com o Kutsuplus deixe de ser deficitário. "Por que não, se o táxi tradicional é lucrativo? Por enquanto, o serviço ainda é parcialmente subsidiado, embora o subsídio esteja diminuindo a cada vez que aumentamos o número de veículos."
Em 2012, pela primeira vez em mais de 40 anos, Helsinque registrou um aumento da parcela de utilização do transporte público, que atingiu 43% (com alta de 1 ponto percentual). Segundo Rissanen, a mudança se deve a várias medidas adotadas pela HSL, entre as quais a criação do Kutsuplus, cujo "efeito positivo [no resultado da pesquisa] foi pequeno, mas [...] continuará a crescer".
Tanto Rissanen, como Teemu Sihvola, CEO da Ajelo, a empresa responsável pela tecnologia que permite a operação do serviço, afirmam que o sistema poderia ser implantado em metrópoles como São Paulo. Porém, ressalta Rissanen, "não para substituir outros transportes públicos, mas para complementá-los". Sihvola diz que está negociando com outras cidades para vender os seus softwares. "Infelizmente não posso revelar os nomes das cidades. Vou apenas dizer que o interesse em relação ao Kutsuplus é global."
*Jornalista - Valor Econômico
Em vez de adotar medidas repressivas como rodízio ou pedágio urbano, Helsinque decidiu esvaziar suas ruas com a criação de um sistema "personalizado" de transporte por ônibus que seja eficiente a ponto de convencer os moradores a abandonar espontaneamente seus carros. Nesse sistema não existem mais linhas com trajetos fixos: por meio de um computador ou celular, o passageiro informa o seu ponto de partida e o de chegada e em poucos minutos é apanhado por um micro-ônibus que adapta a rota de acordo com a demanda.
Chamado de Kutsuplus, o serviço foi implantado na capital finlandesa de maneira experimental em 2012 com três vans e logo passou para dez. Atualmente, o programa ainda opera em pequena escala, com 15 veículos, mas o plano é ir ampliando-o gradualmente até atingir uma frota com entre 5.000 e 8.000 micro-ônibus em 2027, quando então, idealmente, boa parte da população da cidade - hoje ao redor de 600 mil - iria preferir deixar de lado o carro e adotar o transporte público.
Para utilizar o sistema, o passageiro necessita de um computador ou celular - que não precisa nem mesmo ser um smartphone, a viagem pode ser marcada com o envio de um SMS. Após receber o pedido com hora e locais de partida e chegada, o sistema calcula o preço e estimativas da rota e do tempo que a viagem levará. Caso o passageiro aceite a proposta, o pagamento é debitado da sua conta e ele se dirige para o ponto de encontro determinado. Ao embarcar, ele passa ao motorista a senha recebida eletronicamente. Durante a viagem, se o sistema designar algum novo passageiro à van, o motorista é comunicado em seu GPS sobre a alteração no trajeto.
De acordo com uma pesquisa feita em maio, em cerca de um terço das viagens o micro-ônibus pega o passageiro na hora combinada; em aproximadamente 95% dos casos a variação do horário definido não passa de cinco minutos. Segundo as estatísticas, somente em 1,1% das viagens o passageiro chega ao destino com atraso superior a 10 minutos. O preço da passagem é mais caro do que uma viagem de ônibus normal, mas custa cerca de um quarto da tarifa de um táxi - sendo que o tempo gasto é o mesmo e o passageiro ainda conta com conexão wi-fi gratuita.
"Após ser expandido, o Kutsuplus oferecerá uma ferramenta poderosa e economicamente eficiente para a redução do número de deslocamentos privados de carros, graças à simples oferta de uma melhor alternativa para muitos dos atuais motoristas", afirma Kari Rissanen, diretor do programa, mantido pela Autoridade de Transporte Regional de Helsinque (HSL). Ele diz que um dos objetivos da HSL é fazer com o Kutsuplus deixe de ser deficitário. "Por que não, se o táxi tradicional é lucrativo? Por enquanto, o serviço ainda é parcialmente subsidiado, embora o subsídio esteja diminuindo a cada vez que aumentamos o número de veículos."
Em 2012, pela primeira vez em mais de 40 anos, Helsinque registrou um aumento da parcela de utilização do transporte público, que atingiu 43% (com alta de 1 ponto percentual). Segundo Rissanen, a mudança se deve a várias medidas adotadas pela HSL, entre as quais a criação do Kutsuplus, cujo "efeito positivo [no resultado da pesquisa] foi pequeno, mas [...] continuará a crescer".
Tanto Rissanen, como Teemu Sihvola, CEO da Ajelo, a empresa responsável pela tecnologia que permite a operação do serviço, afirmam que o sistema poderia ser implantado em metrópoles como São Paulo. Porém, ressalta Rissanen, "não para substituir outros transportes públicos, mas para complementá-los". Sihvola diz que está negociando com outras cidades para vender os seus softwares. "Infelizmente não posso revelar os nomes das cidades. Vou apenas dizer que o interesse em relação ao Kutsuplus é global."
*Jornalista - Valor Econômico