sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Copa, Olimpíada e a Salvador do futuro

Gilmar Santiago
O prefeito João Henrique, em artigo com o mesmo título publicado neste blog, no dia 15 de outubro, comentou a preparação de Salvador para sediar competições esportivas da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, o que seria a oportunidade de “um salto para o futuro”. No texto, elencou, de forma genérica, ideias frágeis para resolver o caos da mobilidade urbana e citou as políticas para crianças e juventude como prioridades para transformar acidade e garantirmelhor qualidade de vida para a população.
Todos sabemos que será imenso o volume de recursos a serem investidos, em Salvador, na preparação da Copa e das Olimpíadas. Só os investimentos para a Copa estão estimados hoje em cerca de R$ 6 bilhões. Óbvio que é uma rara oportunidade que não deve ser desperdiçada.
Contudo, é preciso estar muito atento à cidade real e injetar esses recursos em projetos estruturantes, que ajudem a resolver problemas graves e duradouros.A mobilidade urbana depende, fundamentalmente, da qualidade da oferta de transportes públicos. Para isso, é preciso ir além da criatividade dos técnicos dos escritórios das empresas que planejam as obras.
Há um conhecimento acumulado nas universidades e nos meios profissionais soteropolitanos acerca da gravidade e dimensão dos problemas da cidade, além de estudos apontando alternativas que devem ser consideradas no momento das decisões. De qualquer modo, trazemos ao debate a nossa contribuição, a partir das seguintes questões: Como fazer da Copa e da Olimpíada uma janela de oportunidades para os mais pobres desta cidade? Como inserir esses dois eventos em uma estratégia capaz de contribuir com um futuro melhor para Salvador por meio da implantação de um programa de desenvolvimento humano, com base em políticas sociais, econômicas e culturais consistentes; um programa capaz de favorecer, de fato, a redução das distâncias entre ricos e pobres nesta bela e maltratada cidade? Chamo a atenção para alguns aspectos da realidade atual de Salvador de forte repercussão sobre o futuro da cidade. O primeiro deles é o patrimônio ambiental – as reservas de florestas e matas secundárias – que vem sendo suprimido pelo capital imobiliário e por uma ocupação desordenada. A região da Avenida Paralela poderia conhecer um uso e ordenamento do solo planificado, articulado com um programa de mobilidade urbana, abrigando atividades especializadas e de baixo impacto ambiental, de modo a assegurar às futuras gerações uma cidade menos dilapidada.
A outra questão estruturante, vital para o futuro de Salvador, está no campo do saneamento ambiental. A cidade precisa urgentemente de uma política de resíduos sólidos que inclua a coleta seletiva,a reutilização e reciclagem do lixo. Sabemos que o lixo acumulado na s encostas é umadascausasprincipais da queda de casas durante as chuvas torrenciais.
A outra causa é a falta de investimentos para a montagem de uma eficiente rede de drenagem de águas pluviais, que ajude a evitar as tragédias anunciadas.
A maioria da população de Salvador depende também de uma política de ações afirmativas que proporcionem a redução contínua das distâncias entre negros e brancos. A realidade é que vivemos numa cidade que,em certo sentido, é tão ou mais violenta do que aquela praticada pelo regime do apartheid. Entre nós também o fato de nascer negro determina olocalondesemorae o lugarquese ocupana cena social.
Perguntamos: quem realmente terá benefícios com a realização das duas mega competições esportivas? Os empresários construtores são os primeiros beneficiários. Foram dispensados do pagamento de quase R$ 100 milhões aos cofres públicos com a isenção de ISS e de outros tributos. Um privilégio exigido pela Fifa e pelo Comitê dos Jogos Olímpicos.
O preço dos ingressos para assistir aos jogos será proibitivo. O povo negro não irá assistir a nenhuma das competições aqui realizadas.
Uma política consistente acerca dos benefícios sociais da Copa e das Olimpíadas precisa levar em conta essas questões. Queremos muito mais do que apenas ver alguns dos nossos vendendo churrasquinhos nas imediações das praças esportivas.

Gilmar Santiago é vereador em Salvador e ex-Secretario de Governo e da Reparação Racial na primeira gestão do prefeito João Henrique. Fundou e dirigiu por sete anos o SINDAE

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Salvador: Tradição e Raízes

Martina Low
Já ha algumas semanas, eu observo a cidade de Salvador como socióloga, como teórica do espaço e como norte-européia que leu pilhas de livros, em inglês e alemão, sobre o Brasil e sobre Salvador. Nas minhas pesquisas, eu me esforço para decifrar o código urbano desta cidade. Quer dizer, eu volto o meu olhar para a gramática desta cidade e a forma de empregá-la. O espaço produzido fala não apenas de modas passageiras e ideologias transitórias, mas também, e sempre, de práticas culturais profundamente enraizadas.
O sonho português, por exemplo, dirige o olhar sempre para cima. Primeiro, os portugueses se estabeleceram na cidade alta, o que faz do centro histórico, até hoje, um elemento espacial que, em termos de planejamento, está ligado apenas de forma insuficiente ao resto da cidade. Eles, então, introduzem mais uma modalidade de separação social e espacial que, em muitas colônias africanas, por exemplo, seria impensável.
Os portugueses não dividem as áreas entre zonas de brancos e zonas de negros, mas providenciam uma separação vertical no interior dos prédios. Os escravos da casa vivem nos pavimentos térreos da casa senhorial, enquanto que a família de nobres dá vida aos amplos cômodos nos andares superiores.
Quando eu pergunto às pessoas desta cidade o que elas percebem como sendo o centro ou os centros das cidades, elas mencionam, sobretudo, a Barra e o Iguatemi. O Iguatemi é mais o centro econômico, um ponto de encontro para a classe média. A Barra é, mais intensamente, o lugar de uma atitude urbana diante da vida. O bairro é mais povoado e mais heterogêneo. As opções de lazer mostram-se mais atrativas, e o local é descrito como carregado de identidade. O Pelourinho só é mencionado quando se pede uma informação a respeito.
Sim, trata-se do lugar de sua história, mas os mais velhos, em grande parte, riscaram-no do seu mapa mental. Ele seria, simplesmente, perigoso demais. Os mais jovens freqüentam shows lá, à noite, enfrentando oposição de seus pais.
Nesta cidade existem duas coisas: um êxodo das zonas centrais, uma realização dos desejos consumistas, fora delas e apesar disso, uma idéia de centralidade. Estes novos centros podem ser descritos como lugares da nova globalização, com projetos de prédios de apartamentos e de shoppings centers que podem ser encontrados em qualquer lugar do mundo, mas os velhos centros, que estão ligados à história colonial mais antiga ou mais recente, não estão esquecidos.
O Pelourinho é um destes lugares. Aqui se tentou, com restaurações, destacar o que é próprio da cidade, mas, no fim, terminou-se por criar uma ilha de recuperação urbana. Divididos entre a globalização econômica e a cultura, surgem novos centros e, ao mesmo tempo, a importância cultural local, imaginada como tipicamente baiana, cresce mais do que diminui: música baiana, culinária baiana, tradição baiana.
A tenacidade com que as pessoas de diferentes classes sociais insistem em afirmar que, nesta cidade, o ritmo é dado por um coração negro, parece-me ser indicativa de que existe, no mínimo uma grande tensão entre uma estrutura pragmática de redes de centros, de um lado, e a localização da herança cultural, de outro. Afinal de contas, a história colonial não foi esquecida, apenas o seu foco passou a ser a questão escravista.
A nacionalização, enquanto processo, necessita da construção de uma tradição comum , na qual se juntem, numa mistura, os diversos estrangeiros. Salvador é o lugar que dá garantia a esta construção, ao preço de que a própria cidade fique fortemente entrelaçada no imaginário das raízes afro-brasileiras – tão fortemente quanto esta história é contada por quem está de fora, em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas também na Afro-América e nos guias alemães de viagem.
Eu sustento que a cidade de Salvador deve fornecer aquilo em que o Estado Nacional Brasil deseja acreditar, e que se presta bem a transformar-se em visibilidade internacional, e também turística: ou seja raízes.
* Professora Titular da cátedra de Sociologia do Espaço na Universidadede Darmstadt, Alemanha

domingo, 25 de outubro de 2009

Capoeira e Bicicletas juntas em Salvador?

Lourenço Mueller*
A capoeiragem e o ciclismo caminham juntos. As duas práticas, jogar capoeira e montar bicicleta, são expressões do equilíbrio corporal como aptidão natural. O corpo aparece nestas duas modalidades como a síntese do movimento elegante e circular: as circularidades dos golpes da capoeira e da cinemática ciclista. O equilíbrio mental vem junto…
Não é apenas esta a razão que convida à reflexão para se aproximar, nas nossas cidades,o ciclismo e a capoeiragem, misto de dança, luta e visão de mundo.
Listemos outras. A capoeira é praticada por estratos sociais predominantemente de baixa renda: a ocorrência das academias de capoeira é maior nos bairros pobres. Identicamente a bicicleta como meio de transporte é usada entre os mais pobres. Ou seja, são praticas da maioria da população pobre, a camada que mais precisa de apoio governamental.
Por favor, poupem-me do discurso pseudo-sociológico de que os pobres ‘’também têm direito’’ ao automóvel, como se essa coisa assassina que nos mata a todos, ricos e pobres, fosse um grande privilégio. Já foi, mas hoje pecam por excesso deles e juntamente com as motos deviam ser simplesmente excluídos das centralidades urbanas mais densas, dos centros de cidades.
Vislumbro, e me deslumbro (assim que se escreve, Guto…) com uma possível aproximação capoeira-bicicleta e aqui vai um reforço sistêmico: a animação de circuitos cicloviários com pontos de capoeiragem, “rodas de capoeira’’, não apenas em bairros de grande densidade populacional, mas também ao longo da ciclovia da orla, com toda a exposição que a pratica da capoeira evidencia para o turista e para o habitante, que este merece mais do que aquele, numa projeção para a cidade da Copa.
A capoeira:
É um dos componentes culturais mais fortes da negritude e pode se constituir em mais um esporte olímpico, se o Rio não chegar primeiro e nos tomar, como fez com o samba, mais este trunfo. Sua agregação a um modelo de mobilidade urbana que se persegue cada vez mais nas grandes cidades do mundo desenvolvido emprestaria um grande diferencial à Bahia.
Seria também uma forma de compensação à contribuição dos afrodescendentes ao caldo de cultura que tanto engrandece a nossa terra e que por tanto tempo o preconceito e o conservadorismo das elites “branco-mestiças” (Risério com a palavra) ajudou a esconder, pois até do fantástico berimbau um médico equivocado falou mal.
Há muito mais tempo, meu pai quebrou o berimbau que Mestre Bimba fez para mim, quando eu tinha 14 anos e já era fascinado pela capoeira; ele também sofria deste preconceito surdo contra os negros e sua cultura. O berimbau merece loas…
A bicicleta:
Como modo de transporte tem argumentos irrespondíveis: recentemente fez-se em São Paulo uma experiência de medição de tempo de deslocamento com diferentes modos de transporte (trem, metrô, carro, moto, ônibus e até helicóptero) e a bicicleta ganhou para todos!
Quanto aos outros aspectos (custo baixíssimo do veículo e da infraestrutura para ele, poluição auditiva, ambiental e atmosférica zero, saúde preventiva, praticidade no deslocamento ponto a ponto, violência no trânsito zero…) as ‘’magrelas’’ ganham disparado para TODOS os meios de transporte.
Do ponto de vista urbanístico, elevar o status da bicicleta e o respeito ao ciclista é uma das condições de se promover o seu uso intensivo.
Igualmente, promover a capoeira, reconhecida no mundo e semiesquecida no seu segundo berço depois da África, deveria ser uma atitude constante do poder público.
Algumas faculdades já admitem a capoeira como disciplina mas alguns trabalhos teóricos (Prof. Edivaldo Boaventura prefaciou o livro [**] e orientou um destes doutores, recentemente) sugerem um curso de graduação, com direito a grade curricular prática e teórica. Seria mais uma vanguarda do nosso estado e seguramente fortaleceria a ideia de tê-la aqui nas Olimpíadas, como sede, além do futebol.
As duas práticas, tão elegantes e saudáveis, podem e devem
caminhar juntas.
* Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista

Retrato de Salvador

Antonio Risério*
Quando Antonio Carlos Magalhães decidiu construir o Centro Administrativo de Salvador na Avenida Paralela, teve gente que achou que ele tinha enlouquecido. “O governador está louco, quer levar o governo pro meio do mato!” – era um dos comentários que então se ouviam. Mas não havia nada de louco na idéia. Era, simplesmente, a primeira vez que se pensava Salvador em ternos metropolitanos.
O secretário de Planejamento, na época, era Mário Kertész. E ele soube escolher com quem trabalhar. Mário procurou Lúcio Costa, o urbanista que projetou Brasília. E Lúcio fez o traçado da avenida do viaduto de acesso ao Centro. E de todas as avenidas do CAB. Mas tarde, em meio ao processo de construção dos prédios, entrou em cena, por sugestão de Alex Chacon e Roberto Pinho, o arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé. Era uma dupla perfeita, Lúcio-Lelé, pra ninguém botar defeito.
Mas houve reação. Empreiteiros locais se rebelaram logo contra o projeto em pré-moldado de Lelé. Aquilo poderia ser até bonito, mas não seria assim tão lucrativo para eles. A verdade é que Lelé projetava obras nuas, a serem executadas por um sistema nada convencional de construção. Obras difíceis de sofrerem superfaturamento. E empreiteiros costumam não gostar disso. Mas o trabalho foi feito. Com o CAB, houve um deslocamento do centro da cidade. Na mesma década de 1970, tivemos a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari. Tudo mudou. Surgiram na cidade, inclusive, bairros novos com Imbuí e Patamares.
Mas quero falar da Avenida Paralela hoje. O que era deserto apresenta congestionamentos de trânsito. Pessoas fazem exercícios físicos no canteiro central da avenida. A Paralela, como o CAB, passou a fazer parte da nossa paisagem e das nossas vidas. Mais que isso: a Paralela, hoje, nos oferece um retrato perfeito de Salvador.
A começar pelas construções religiosas. Temos a Igreja da Ascensão do Senhor, no Centro Administrativo. Mas temos também, um templo evangélico. E diversos terreiros de candomblé que se concentram na Invasão das Malvinas, também chamado Bairro da Paz. Terreiros pra tudo que é gosto, por sinal. E que se declaram de diversas nações: angola, ijexá, Keto, jeje, etc. Até a umbanda se faz presente, no Centro Espírita Caboclo Tumba Jussara.
Vemos na Avenida Paralela, os extremos reais e vitais desta nossa cidade. A sede administrativa estadual, com todas as suas muitas secretarias, e o comércio de “crack” e CDs piratas. O prédio da Odebrecht, as jovens prostitutas, e a favela sinuosa, com seus becos quase sempre perigosos. Um bairro confuso, cervejeiro, e ruidista como o Imbuí. A revendedora de automóveis de luxo e a oficina fureca, reciclando fuscas. As novas faculdades particulares (Foto: pagode universitário na avenida paralela) - que mais sugerem “shopping centers” supostamente pedagógicos e o analfabetismo. Projeta-se um condomínio caro ao lado de um conjunto habitacional classemediano e perto de barracos precários, que se esforçam para se manter de pé.
Enfim, a Avenida Paralela, hoje, é um retrato concentrado de Salvador. Da vida atual da cidade que, bem ou mal, se metropolizou. Girando entre os camelôs do Iguatemi e os absurdos visuais de Lauro de Freitas, antiga Santo Amaro do Ipitanga. É um espaço que fervilha e esfervilha, durante todos os dias da semana, entre passarelas, taxis, indigentes, engravatados, policiais, lojas, sobrelojas, sublojas, e postos de gasolina, que se revelaram bares da madrugada, com seus cheiros e sons intoleráveis.
Acho que nossos jovens estudiosos e pesquisadores, economistas, sociólogos e antropólogos, tem ali um prato feito. “Ma não só para “cientistas sociais” – também para jornalistas, cineastas, dramaturgos etc”. Na verdade a Avenida Paralela se converteu num segmento urbano altamente privilegiado para quem se disponha ao chamado “ trabalho de campo”, Para quem queira ver de perto o que é, de fato, Salvador. Ou no que ela se transformou. Por que esta cidade não se resume à praia, nem se circunscreve ao seu centro histórico, que agora virou “centro antigo”(sic). É muito mais fragmentada e fragmentária do que nós, com todos os nossos clichês e estereótipos, costumamos imaginar.
* Jornalista, Antropólogo e Escritor

sábado, 24 de outubro de 2009

Salvador sede do Pan 2019?

Armando Avena*
E se Salvador for candidata a sediar os Jogos Pan-Americano de 2019? À primeira vista a ideia soa destemperada, afinal parece inadmissível que uma cidade tão carente de infraestrutura, sem sistema adequado de transporte urbano e demandando recursos para investimentos sociais básicos resolva promover uma competição de caráter internacional.
O destempero é apenas aparente, pois a realização dos Jogos Pan-Americanos em Salvador ajudaria a resolver parte desses problemas, pois seria uma espécie de ímã que atrairia milhões de reais do governo federal e do setor privado para as obras de infraestrutura necessárias à competição.
É o que vai ocorrer, por exemplo, com o Rio de Janeiro, que receberá cerca de US$ 14 bilhões por conta das Olimpíadas de 2016. Não fosse a competição, jamais uma única cidade do País receberia tal investimento. Sediar o Pan-Americano seria como abrir uma torneira de investimentos públicos que beneficiaria toda a cidade.
É verdade que Salvador é desprovida de equipamentos mínimos para sediar qualquer competição, mas terá obrigatoriamente de criar essa infraestrutura se quiser tornar-se sede da Copa do Mundo de 2014 e de alguns jogos das Olimpíadas de 2016. Será, portanto, com base nesse parque esportivo recém-criado que poderá apresentar sua candidatura ao comitê que vai escolher a sede dos Jogos Pan-Americanos de 2019.
Mas por que 2019? A escolha das cidades sedes do Pan obedece a um rodízio entre as regiões do continente. Assim, após o Rio de Janeiro, a competição se realizará em 2011 em Guadalajara, na América do Norte, em 2015 virá para a América Central e só em 2019 os jogos voltarão a ser realizados na América do Sul.
Fatalmente outras cidades brasileiras vão se apresentar e, se os recursos não vierem para Salvador, poderão aportar, por exemplo, em Santos, que já está mobilizada para tornar-se candidata. Naturalmente, o projeto exige, além do apoio da população, uma ação coordenada dos poderes públicos e o apoio incondicional e financeiro do governo federal, mas, com isso, será possível fazer de Salvador a sede dos XVIII Jogos Pan-Americanos.
* Economista, professor e escritor, Armando Avena foi Secretário de Planejamento da Bahia no período 2003/2006

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Grande e a Pequena Salvador

Paulo Ormindo de Azevedo
Na madrugada é mais visível. São centenas de ônibus e carros que levam e trazem operários e diretores para fazerem funcionar o Copec, o CIA, a Ford, a Refinaria de Mataripe e o Temadre. Fico imaginando quanto custa esta frota rodando e parada e quantas horas perdem seus funcionários diariamente dentro destes veículos, expostos a acidentes. O custo Salvador tem muito a ver com a falta de planejamento.
A Grande Salvador reúne 13 municípios, tem 4.375 km², onde vivem quatro milhões de habitantes e é responsável por metade do PIB do Estado. A Pequena Salvador tem 7,41% desta área, mas é onde se concentra 81% da população da metrópole.
Por aí se pode compreender porque Salvador se transformou em um aglomerado de espigões e favelões, que avança sobre seus últimos verdes. Isto explica também sua pobreza estrutural.
Toda atividade industrial está fora de Salvador e ela é responsável por fornecer habitação, transporte, saneamento, saúde, educação, cultura e lazer a cerca de 1,5 milhão de habitantes que geram riqueza e impostos em benefícios de outros municípios. Só Camaçari tem um PIB de quase metade do de Salvador e muito pouco custo com seu exército de operários.
Por que tanta gente se submete a este sacrifício diário? Porque em municípios como Camaçari, São Francisco do Conde, Simões Filho e Candeias, onde estão as indústrias, não existem conjuntos habitacionais, hospitais, hotéis, escolas, cinema ou teatro de mínima qualidade.
Não fomos capazes, como São Paulo, de criar em torno da capital cidades como Campinas, São José dos Campos e Santos. O que ocorreu aqui não foi por falta de recursos, foi por incapacidade de gestão dos prefeitos locais, inclusive de Salvador, cabeça da região, e omissão do Estado, que deveria planejar e desenvolver políticas metropolitanas de integração.
A Região Metropolitana de Salvador, RMS, foi instituída em 1973 pelo governo militar. A Conder foi criada para planejar e infraestruturar a região, mas falhou e perdeu o foco, sendo transformada em uma empresa para fazer obras em todo o Estado.
A única tentativa de planejamento da RMS, o CIA, só se preocupou com a indústria, visando os incentivos da Sudene. Nenhuma atenção ao transporte, habitação, saneamento, saúde, educação, cultura e turismo. Não se pode resolver nenhum desses problemas dentro dos limites de cada município e partido, senão como políticas de Estado.
Precisamos criar redes de transporte ferroviário e saneamento básico para toda a região, desenvolver uma agricultura voltada para o abastecimento alimentar, criar um mercado de terras baratas para programas habitacionais e aparelhar as cidades da RMS com serviços de qualidade.
Visando o turismo, precisamos dar um tratamento único a nossas praias e à orla da Baía de Todos os Santos. É na solução desses problemas que está a chave para atrair grandes investimentos para uma região privilegiada, com dois grandes portos, terrenos planos, praias insolejadas e uma baía navegável todo o ano e não destruindo a Mata Atlântica e emparedando as nossas praias.
A questão institucional é um dos nós do problema metropolitano. Em muitas capitais latino-americanas, além dos prefeitos municipais, há um prefeito metropolitano eleito. Esta prefeitura é um degrau para atingir postos mais elevados, como governos provinciais e a presidência da república. Seu titular tem que mostrar eficiência e capacidade de articulação política numa prévia para voos mais altos. Nossa Constituição não prevê isto e o Estatuto da Cidade passou ao largo da questão metropolitana.
Resta a possibilidade de um grande consórcio municipal, que já funciona com sucesso desde os anos 90 no interior de São Paulo e Paraná e começa a ser adotado na Bahia. Em muitos setores, o interior está mais adiantado que a nossa metrópole.
Para discutir estas questões, os movimentos ”A Cidade Também é Nossa” e “Vozes da Cidade” com apoio da Sedur estão convocando a sociedade e autoridades para o seminário “Salvador Metrópole”, a ser realizado na Fundação Luís Eduardo Magalhães entre 17 e 18 de novembro. Salvador precisa pensar grande.
*Paulo Ormindo de Azevedo é arquiteto, doutor pela Universidade de Roma, professor titular da Universidade Federal da Bahia, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Bahia (IAB-BA)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Temporada dos cruzeiros se inicia

Osvaldo Campos Magalhães*
Hoje começa em Salvador mais uma temporada de Cruzeiros Marítimos, estando confirmadas mais de 140 escalas e cerca de 210.000 turistas visitando nossa cidade. Infelizmente, a infra-estrutura no porto para o receptivo aos turistas e aos navios, permanece com as mesmas limitações de trinta anos atrás. Segmento do turismo que apresenta as maiores taxas de crescimento no Brasil, não vem tendo a contrapartida correspondente na Bahia. Enquanto Santos, Rio de Janeiro e Manaus, com apoio da iniciativa privada, investiram em novos terminais marítimos, o projeto no porto de Salvador permanece esquecido pela Codeba.
Este segmento do turismo, além de apresentar altas taxas de crescimento no Brasil, opera com índices de ocupação recorde no mundo, com mais de 95%. Salvador, cidade com grande potencial para tornar-se um "hub-port" turístico, poderia se beneficiar em muito com a implantação de um moderno terminal de cruzeiros, que, com um projeto multiuso semelhante ao Terminal de Amsterdã, poderia abrigar grandes feiras, congressos e eventos culturais, requalificando o bairro do Comércio.
Cabe ao setor privado tomar a iniciativa e ao novo presidente da Codeba ter a sensibilidade para liderar o processo de requalificação do porto. A Lei 8630/93, estabelece que a qualquer tempo poderá ser solicitada a abertura de processo licitatório para arrendamento de áreas no porto, e, estabelece prazos para a tomada de decisão por parte da diretoria da Codeba e CAP.
Segundo estudos da EMBRATUR, cada visitante do turismo marítimo despende mais de U$ 100/dia nas cidades visitadas pelos Cruzeiros, o que significará para a economia de Salvador cerca U$ 21 milhões, que vão gerar emprego e renda para a população da cidade.
A Codeba deve assumir a liderança do processo, realizando o quanto antes Audiência Pública para colher subsídios da sociedade além de buscar apoio do BNDES, que dispõe de recursos para a realização de Estudos de Viabilidade Econômica, sem ônus para a Codeba, e linhas de financiamento para o setor privado implantar o Terminal.
* Engenheiro Civil e Mestre em Administração é membro do Conselho de Infra-estrutura da Fieb e é Assessor do Secretário da Indústria Naval e Portos do Governo da Bahia.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Salvador, devagar, quase parando

Henrique Carballal
A situação do trânsito de Salvador está rumando para o caos total. Há três anos, os ônibus circulavam com velocidade média de 12 km/hora na cidade. Hoje, a média reduziu para 8 km/hora. O que ocorreu com a cidade foi o mesmo que aconteceu com o próprio Brasil a partir do projeto desenvolvimentista, com ênfase na indústria automobilística, implementado pelo presidente Juscelino Kubitschek, tendo como espelho os Estados Unidos. Hoje já é necessário se pensar em alternativas para reduzir o fluxo e também repensar os próprios viadutos, construídos visando suportar cargas em movimento e não cargas paradas, provocadas pelos imensos congestionamentos. Salvador conta hoje com 650 mil veículos nas ruas e mensalmente são adicionados outros cinco mil. O problema tende, e muito, a piorar. Um detalhe interessante é que, se colocarmos os carros em fila única – na média de três metros cada um –, formaria uma linha extensa o suficiente para ir, voltar e ir novamente a Porto Alegre. O modelo é individualista e altamente poluidor. O que seria a solução para o caos iminente, um transporte de massa com qualidade para a cidade, o metrô, já consumiu R$ 1,4 bilhão e continua sem previsão de término, esgotando o dinheiro público e a paciência dos soteropolitanos, que não suportam mais olhar para o concreto flutuante sobre a Avenida Bonocô. Pior ainda é saber que a primeira fase será entregue com apenas seis quilômetros de extensão. Uma dúvida ainda paira no ar: qual a razão de ele ser construído elevado do chão, já que as pilastras se multiplicam sobre o canteiro central por toda a extensão da avenida? As denúncias de superfaturamento continuam aparecendo, e é necessário que o Tribunal de Contas da União, que já encontrou irregularidades na obra, continue investigando onde foi parar tanto dinheiro. A Câmara Municipal de Salvador tem o papel de investigar a “novela” do metrô. Um outro problema que certamente virá à tona assim que – quem sabe um dia – o primeiro trecho do metrô começar a funcionar é a questão da origem/destino. Os dois pontos finais ficam localizados em áreas não-habitacionais. Tanto a Lapa, quanto a Rótula do Abacaxi não são, necessariamente, áreas de moradia. Quer dizer, para chegar à Estação da Lapa, o usuário terá de se deslocar de um outro lugar de transporte coletivo, da mesma forma que para a Rótula do Abacaxi. Ao usuário, restará pagar tarifa dobrada.Aos custos atuais, a passagem do metrô, para se tornar sustentável, seria R$ 14, o que é inviável e proibitivo. Não é possível se gerir dinheiro público de forma tão irresponsável, e até mesmo criminosa, e sair ileso. É importante que se encontrem os culpados para essa situação que já virou motivo de piada. O metrô de Salvador vai entrar para o Guiness Book como o menor do mundo, o que mais tempo levou para ser concluído, além de ser o mais caro. O que deve ser pensado é um transporte de massa que incorpore a Região Metropolitana de Salvador, já que muitos dos cidadãos que trabalham na capital moram em cidades próximas, como Simões Filho, Camaçari e Lauro de Freitas. É necessário também se pensar a situação do subúrbio ferroviário, com seus mais de 400mil habitantes, retornando o acesso do trem metropolitano para as cidades da RMS e todo o Estado. Precisamos encontrar uma saída que garanta o término das obras da primeira etapa e discutir formas para dar prosseguimento ao projeto. Pouco se comenta sobre o assunto, mas quem vai pagar os subsídios das tarifas quando, finalmente, o metrô entrar em funcionamento? E quais os modelos dos modais a serem implantados? Terão tarifas integradas? Pelo bem do desenvolvimento de Salvador e o futuro da cidade – incluindo aí a realização da Copa de 2014 – tem que ser decidido quem vai assumir a operação, até pelo fato de que tanto dinheiro foi investido e ainda é necessário se injetar mais recursos para que a obra seja concluída. O projeto deve atender aos interesses do público, que com um transporte de qualidade poderia deixar o automóvel em casa e utilizar um meio de transporte confortável, seguro e que cumpra seus horários. Todos os seus horários.
* Professor e Vereador de Salvador

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A caótica Salvador de Risério

Marielson Carvalho
Antonio Risério entrevistado pela Revista Metrópole (n°17) acendeu a luz de alerta para a situação caótica em que está Salvador. Autor de estudos e livros, como "Carnaval Ijexá", "Caymmi: uma utopia de lugar" e "Uma história da Cidade da Bahia", Antonio Risério colabora em diversos meios informativos, comentando não só questões políticas e culturais relativas à Bahia, mas também sobre temas nacionais, como o racismo à brasileira, abordado em seu último trabalho "A utopia brasileira e os movimentos negros". O problema social de Salvador tem preocupado o antropólogo nos últimos tempos e sua reação tem sido ferina aos gestores que passaram e passam pela Câmara e Prefeitura. Nessa entrevista, ele, em um momento de muita lucidez e ironia, diz que a pobreza de Salvador pode ser vista até por um marciano ou por satélite. A divisão territorial e social da cidade é, segundo sua dedução, 50 mil habitantes por quilômetro quadrado em uma área pobre, e uns 500 habitantes por quilômetro quadrado em uma área rica. "Se a gente fizer um levantamento desse, a gente vai ter um retrato preciso e brutal de como a pobreza se expressa em cada centímetro do solo da cidade", afirma. Não é preciso muita altura para ver do espaço esta divisão perversa entre os soteropolitanos. Daqui mesmo, a rés do chão, a gente vê o que a Cidade da Bahia está se transformando nesta primeira década do milênio. Vê-se a pobreza inclusive sendo invadida por empreendimentos imobiliários de luxo, por não terem mais espaço em bairros outrora de classe alta.Se as construtoras quiserem, esses condomínios viram oásis em meio às invasões ou bairros populares e mudam até de nome a localização. Fazem muros, guaritas, acessos exclusivos, portões e se isolam. As janelas dos patrões ficam viradas para o que resta ainda de verde e de paisagem limpa. As áreas de serviço, onde a empregada suburbana dorme, ficam para as casas apinhadas de eternit e blocos à mostra, afinal, ela está acostumada a esta realidade e não tomará um susto ao acordar.Salvador não foi planejada para enfrentar essa torrente humana que nasce e cresce aqui, ou vem até ela do interior e de outros Estados. Nem seu trunfo de ser cidade-dormitório, por três décadas, do Pólo Petroquímico de Camaçari, assim como do CIA, tem conseguido afastar os altos índices de desemprego e baixo desenvolvimento econômico. Salvador não está entre as capitais do País que mais produzem riquezas. Cidades menores tomam nosso posto. Pernambuco, o segundo Estado com maior PIB do Nordeste, a partir de sua Recife "dos rios cortados de pontes", está ganhando da Bahia em mobilização de seus políticos e intelectuais contra a estagnação econômica, a pasmaceira cultural e o agravamento social. O debate sobre essas questões tem sido feito, mas a passos indesculpavelmente lentos. A tal preguiça baiana parece engessar as cabeças da elite intelectual e acadêmica da cidade. As universidades (Federal e do Estado) se isolam em campi, como os ricos em condomínios, e não dialogam com outras instituições para a elaboração e execução de planos estruturantes que reflitam dentro e fora da academia. Não é só abrir mais vagas para cotistas ou não-cotistas, é também possibilitar, por exemplo, que o estudante do subúrbio não seja obrigado a pegar mais de um transporte para chegar à Universidade. O metrô há dez anos sendo construído (e que já devia estar na sua quarta fase de expansão) ainda está na metade da linha 1. Não há nenhuma instituição de ensino superior pública na periferia. São necessários para muitos estudantes quatros transportes diários para estudar e voltar para casa.Segundo reportagem de A Tarde (22.12), a concentração de renda é proporcional ao de nível de escolaridade. Enquanto quem mora no Itaigara, a taxa é 15%, no Bairro da Paz é 0%. A divisão de que fala Risério da cidade afeta a educação. A assistência estudantil da Ufba e da Uneb é insuficiente para atender a demanda de estudantes pobres. O poder público vira as costas para a periferia que concentra mais da metade da população da cidade.Os atuais governos municipal e estadual brincam com a paciência da população, quando seus partidos de sustentação se digladiam pelo poder em 2010 e esquecem que o cidadão quer resultados agora. A mediocridade e a incompetência campeiam por toda a cidade e beneficiam aqueles que menos têm responsabilidade com o coletivo. É pontual o que Risério fala: "A atual população de Salvador não está à altura da cidade que herdou, não está à altura da cidade que recebeu, por isso que está avacalhando ela a cada dia que passa. Uma cidade cada vez mais maltratada, mais feia. É uma elite desinformada, provinciana, colonizada, mimética. Eu vivi minha adolescência na cidade de Jorge Amado, de Vivaldo da Costa Lima, de Pierre Verger, de Caribé, de Glauber Rocha. E hoje é a cidade de quem? De Nizan Guanaes? Do axé music? De Bel do chiclete? Do prefeito que nós temos? Dos quadros políticos atuais? Um drama da gente hoje é que Salvador tem crescido muito. Salvador é atualmente uma cidade grande, onde todo mundo pensa pequeno. Os empresários, os políticos, os intelectuais, os artistas... Isso é um drama. Quanto mais a cidade cresce, mais o pensamento é menor, se é que a gente pode falar de pensamento. Salvador também não é só a cidade do desemprego, como a gente estava falando, é a capital da desinformação, da sub-cidadania." Afora o romantismo de Risério de uma Bahia idealizada por Verger e Jorge Amado, que naquele tempo outros tantos problemas estavam na ordem do dia, como a perseguição policial aos terreiros de candomblé, assim mesmo concordo com o antropólogo quanto ao menosprezo que essa população elitizada e aboletada no show business e nos cargos políticos tem pelo coletivo, privilegiando apenas seus pares.Aqui mesmo no meu blog criei uma série chamada Território Invísivel de Salvador, com o objetivo de traçar um roteiro desta Salvador antiga e contemporânea esquecida por todos nós, já que o foco e o interesse têm sido outros e cuja maquiagem (ou máscara) não tarda, embora persista, em desmanchar. É uma Salvador falsa e fugaz a que nos oferecem. Num orgulho e sentimentalismo tacanhos, engolimos como se fosse nossa imagem e semelhança perfeitas. O carnaval, um de nossos mais interessantes e possíveis momentos de integração, todo ano se mostra cada vez mis excludente através dos camarotes e blocos de trio. Levam-se para a Avenida as mesmas divisões territoriais dos paraísos artificiais dos condomínios de luxo. A rua que é do povo vira um loteamento.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Copa, Olimpíada e a Salvador do futuro

João Henrique Carneiro*
Salvador já se prepara para sediar dois grandes eventos que vão, sem dúvida alguma, marcar a história da nossa cidade e levantar ainda mais a autoestima do nosso povo. Falo da Copa do Mundo de Futebol de 2014, quando seremos uma das sedes, e das Olimpíadas de 2016, em que receberemos uma das chaves do torneio de futebol. São os dois maiores eventos esportivos do mundo que chegam como uma grande oportunidade para darmos um salto para o futuro, transformando nossa cidade e proporcionando melhor qualidade de vida para a nossa população.
Embora gigantesco, este desafio não nos intimida. Ao contrário, nos enche de coragem e de vontade para fazer o melhor, e, tenho certeza que, com a união e colaboração de todos, vamos fazer bonito. Essa mesma disposição com a qual encaro essa maravilhosa tarefa, percebo em todos os segmentos da sociedade e em todos os cidadãos desta cidade. De todos, dos mais favorecidos aos mais humildes, tenho ouvido manifestações de alegria, de solidariedade e o desejo de colaborar para que Salvador cumpra com louvor o seu papel de anfitriã desses grandiosos eventos.
É a Salvador do futuro que está batendo à porta. E a melhor maneira de darmos boas-vindas é com trabalho, projetos, realizações e resultados. Um novo Brasil está sendo construído, e uma nova Salvador também precisa ser construída. É nessa direção que vamos caminhar. Vale ressaltar os investimentos que já captamos e as obras que já estamos realizando, como o Canal do Imbuí, o Projeto Nova Orla, a intervenção no Pelourinho e outras, que se encaixam nessa primeira etapa do projeto Copa/Olimpíada. Até meados de dezembro, estaremos apresentando os demais projetos estruturantes, imprescindíveis para os próximos cinco anos e fundamentais para a cidade do futuro.
Uma das mais importantes intervenções será a Rede Integrada de Corredores de Transporte/Transalvador, com a integração de VLP/metrô/ônibus, que dará outra dimensão à mobilidade social, possibilitando maior “velocidade” à cidade. Serão corredores de transporte exclusivos para ônibus, interligando Aeroporto-Estação da Lapa, passando pela Paralela, avenidas ACM e a Vasco da Gama. Teremos também ligações da Barros Reis à San Martin e à Pituba. No aspecto físico, todos os bairros, da Cidade Alta ao subúrbio, serão beneficiados. Estes projetos estão sendo ultimados para ser apresentados à sociedade, que, certamente, contribuirá para melhora-los ainda mais.
Destaco, entretanto, que é no aspecto social que daremos o maior e o mais importante salto. De pouco valeriam eventos desse porte se não tivéssemos a consciência e o comprometimento para aproveitar as oportunidades que eles nos oferecem para ampliarmos os nossos limites e nos qualificarmos mais ainda diante das exigências do mundo moderno. Para construir essa Salvador do futuro, as crianças, os nossos jovens, terão importância fundamental. É para eles que teremos que nos voltar cada vez mais com educação, cultura, capacitação e lazer e é com eles que colheremos os dividendos daquilo que começamos a fazer: a preparação da Salvador/Copa 2014 e da Salvador/Olimpíada. Educação e Esportes já são, e serão ainda mais, áreas de extrema prioridade para o sucesso dessa nova geração e dessa nova Salvador.
Em cultura e história temos muito a oferecer e tudo para agradar a quem nos visita. Compomos um mosaico plural em cores, credos e arte, com um jeito bem peculiar de ser e de receber. Somos conhecidos como “BoaTerra” em razão da “boa gente” que somos. Vamos, agora, aproveitar a oportunidade que nos é dada com a Copa e a Olimpíada para sermos campeões em construir e oferecer uma cidade ainda mais digna das infinitas qualidades do nosso povo. É essa a tarefa que temos pela frente.
Salvador tem tudo para galgar um novo patamar. É arregaçar as mangas e vencer as adversidades de uma cidade complexa, ainda muito desigual e cheia de carências. São três milhões de habitantes (a terceira maior população do país) e uma renda pública per capita que vergonhosamente ocupa o vigésimo quinto lugar entre as capitais brasileiras. Isso não nos deixa margem para vacilar, só temos a trilha do futuro. É avançar ou avançar!
* Prefeito de Salvador

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

É preciso discutir Salvador e a RMS

Luiz Augusto Amoedo*
No mundo, o crédito imobiliário representa 70% do volume de empréstimos para pessoas físicas; no Brasil, menos de 20%. Se compararmos o crédito imobiliário em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), veremos que nos EUA um valor equivalente a 78% do PIB é comprometido com a casa própria, na Espanha são 46%, no Chile, 15%, no México, 11%, e no Brasil, minguados 3%.
No governo atual, do presidente Lula, foi vislumbrada uma saída com o programa Minha Casa, Minha Vida. Na década de 80, nós tivemos um baque com a extinção do Banco Nacional de Habitação. Ele era voltado para programas habitacionais. Isso afetou drasticamente o mercado imobiliário. De lá para cá, nenhuma secretaria adotou a missão de fomentar a produção imobiliária, principalmente a voltada para a baixa renda.
Os indicadores para o crescimento do mercado imobiliário brasileiro são a capacidade e disposição de financiamento do sistema bancário público e privado, prazos de financiamento mais ebic longos, manutenção de níveis de emprego, crescimento da oferta de crédito, elevação média da renda e os juros baixos.
Segundo dados divulgados pela Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), nos quatro primeiros meses de 2009, foram financiadas 78.552 unidades habitacionais com recursos da poupança.
Aumento de 6,31% em igual período do ano passado. Ou seja, neste primeiro quadrimestre, nós já superamos o quadrimestre passado.
Quando se instalou a crise financeira mundial (setembro de 2008), tivemos problemas no setor, em função da escassez de crédito. Este ano já há a expectativa de que no último quadrimestre as vendas sejam bem melhores que o quadrimestre passado. Temos uma baixa inadimplência no setor, em torno de 1,5%,o que ajuda a fomentar mais crédito e baixos juros, e isto se deve em razão da segurança jurídica que protege o imóvel, como é o caso da alienação fiduciária.
O déficit habitacional da Bahia é de 600 mil unidades, e o de Salvador, estimado em 80 mil. Em 2001, Salvador tinha 2.443.107 habitantes. Em 2007 este número subiu para 2.892.625 pessoas. Hoje a cidade tem mais de 3 milhões de habitantes. A taxa de crescimento anual na capital do Estado é de 1,8% eo crescimento populacional anual é de 74.919 habitantes. Camaçari, em 2001, tinha 161.727 habitantes. Em 2007, subiu para 220.495. A taxa de crescimento anual de Camaçari é de 3,6%. O crescimento populacional anual é de 9.794 habitantes. Depois vem o município de Lauro de Freitas, com uma população em 2001 de 113.543 habitantes, em 2007 o número subiu para 144.492 e a taxa de crescimento por ano é de 2,7%. O crescimento populacional anual é de 5.158 pessoas.
Estes três municípios juntos dão um crescimento populacional anual de 89.871 pessoas. Isso sem contar com Simões Filho. É uma cidade crescendo por ano dentro da Região Metropolitana de Salvador (RMS), e a pergunta é: como levar a essa população infraestrutura, segurança, saúde, educação e moradia? Até 1980, muita coisa foi criada. Túnel Américo Simas, avenidas de vale, Vale do Canela, Avenida Garibaldi, Avenida Antonio Carlos Magalhães, Avenida Paralela. De 80 para cá, houve uma diminuição drástica em investimentos em infraestrutura e só foi feita a quarta via da Paralela, a Luís Eduardo Magalhães, alguns viadutos e mais nada.
Precisamos discutir melhor os investimentos na cidade, caso contrário vamos ficar mais 20 anos sem nada ser feito. Salvador é uma península, e a questão do crescimento populacional e como dotar a cidade de infraestrutura deve ser uma preocupação constante de todos nós. Salvador e região metropolitana precisam ser interligadas por um transporte de massa eficiente. Os municípios da região metropolitana precisam de bons hospitais e uma melhor infraestrutura para se desenvolver.
Precisamos começar a discutir agora um novo PDDU que integre os municípios da região metropolitana. Não é possível ficarmos pensando isoladamente as cidades da RMS, quando a proximidade geográfica salta aos olhos e os problemas também. Note-se que já temos um transporte público insuficiente que atende à região metropolitana.
*Vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)

Porto da Barra, 460 anos depois

Almir Santos
Não foi por acaso que Thomé de Souza, nomeado pelo Rei D. João III Primeiro Governador Geral do Brasil, ali desembarcou em 29 de março de 1549, para fundar a Cidade do Salvador. Estabeleceu-se inicialmente na Vila Velha na residência do Donatário Francisco Pereira Coutinho e teve o assessoramento importante de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, para executar o Plano Diretor da Cidade elaborado pelo mestre Luiz Dias. 29 de março, data do desembarque é, pois, uma data simbólica, como é o Sete de Setembro fixada posteriormente pelos historiadores como data de fundação da cidade. Pelo que consta não houve a solenidade de fundação, nem palanques, nem trios elétricos. Decorridos centenas de anos a Praia do Porto continua ganhado notoriedade, a ponto de o jornal inglês The Guardian considerá-la a terceira melhor praia do mundo, freqüentada por turistas de todo mundo que desfrutam de suas águas calmas, mornas, seu sol dourado, seu mar azul e de uma paisagem exuberante da Baía de Todos os Santos. Um porto natural, uma praia pequena, apenas 300m zoneada, cujo espaço é democraticamente dividido: farofeiros, pagodeiros, turistas, GLSs, profissionais liberais, empresários... Grandes são os seus freqüentadores. Uma praia de todos os povos de todas as raças. Que lindo! Os vendedores de bebidas com seus isopores disputam a clientela oferecendo cadeiras e sobreiros. Entre eles estão Mara, Celina, Xuxa (é homem), Gelado, Vermelho, Sady, Mazinho, Grande, Gerusa, Adriana e tantos outros. Ao todo são 60. Paralelamente, vendedoras oferecem o tradicional acarajé além de iguarias diversas, inclusive almoço. Há o Grupo da Peteca, fundado há aproximadamente há 40 anos onde muitos fundadores ainda estão em atividade. São assíduos freqüentadores entre eles a família Mario, Miguel e Paulo Albiani. Adilson, Américo, Osiel, Moacir, Jéferson Saldanha, Gutenberg, Geraldo, Algodão, Palhares, Matos (ex- jogador do Vitória) e Paulo Peixoto, este o que mais reclama. Não aceita perder de forma nenhuma. Justamente próximo ao Grupo é que me instalo há anos na Barraca de Deuzival, o Val, uma figura. Com seus filhos Valzinho e Danilo, seus auxiliares, Rose, Anderson e outros que se revezam a depender da demanda, Val e família se desdobram para atender bem seus fieis clientes. Entre eles João, o português, Mauricio, o namorador, Hélio, que vem correndo diariamente de Santo Antônio Além do Carmo até a Barra, Paulo, Paulo Oliver, Luiz, o Bolachinha, Neidinha, Augusta, Raquel, Jana, Tia Rita (que não tem nada de tia), Paulinha e outros que conheço sem saber seus nomes. Há ainda os cativos sazonais, isto é, que retornam dos mais diversos pontos do Brasil e do mundo todas as férias ou feriadões Dantas, amigo novo, é com quem divido um papo inteligente e simpático. Trocamos amenidades, comentamos fatos, falamos de futebol, política, atualizamos as notícias, tomamos nossa cervejinha e damos nossas modestas braçadas. No máximo contornamos o Chelito, barco que geralmente está ancorado. Nossa referência. Começou timidamente usando pé de pato, que deixou de usá-lo por mim incentivado e hoje me deixa pra trás nas nossas incursões. Educado, gozador, sempre bem humorado. E os ambulantes? Creusa vende Salgados, Eva, uma professora primária, concluiu a faculdade vendendo sanduíche natural na praia. Admirável. Antônio Carlos vende a melhor empada. Contenta-se em vender 50/70 por dia. Entre os artesões a mineira Kênia pinta seus azulejos com motivos baianos em frente aos clientes e o paulista Ronaldo vende seu artesanato em coco. Bom de conversa, fala um português corretíssimo. O segredo? Devora dois livros por semana. Há ainda os vendedores de sorvetes, queijo coalho, amendoim, castanha... Há vendedoras de biquínis, saídas de praia, chapéus, confecções, artesanato em geral e, como não podia deixar de ter, berimbaus João do Camarão é diferenciado. Vende cantando, exibindo seus dentes impecavelmente brancos, sua composição. Que gogó! Tenho o seu CD:

Eu sou João, João do Camarão
O bicho de perna, sem orelha e sem cabeça
Você quer comer camarão?
Camarão é do João.
Você quer comer camarão?
Camarão é do João.
Vamos que vamos...
Vamos comer o bichinho?
Camarão no espetinho.
Vamos comer o bichinho?
Camarão no espetinho
Um por do sol sem igual, quando os presentes gritam, assoviam, aplaudem batem palmas Uma praia colorida. Uma festa permanente.
Porto da Barra. Uma dádiva da natureza.